sábado, 15 de agosto de 2009

O Livro das demolições (4)


O Ordens Superiores do MPLA foi em auxílio do seu vassalo, e disse a Job:
- Não sei se aguentas o que te vou dizer, mas digo-te algumas verdades. Comeste e bebeste com muitos. Emprestastes o teu dinheiro e agora não te querem saber. Só mesmo um Job!.. edificaram empresas com o teu dinheiro… ajudaste muita gente?! Pareces o Job da Bíblia. Nunca vi nem conheci um idiota como tu. E alguns ainda aparecem e levam algumas bananas que por milagre se salvaram. Quem te mandou confiar no MPLA? Milhões confiaram nele e vê como estão. A morrerem à fome!.. o MPLA disse que tens que esperar mais trinta, cinquenta anos para saíres da miséria… e que depois de morto ressuscitará e virá salvar-nos uma vez mais do imperialismo internacional. Morto ou vivo nunca desiste da luta anti-imperialista.

Entretanto o Ordens Superiores deu parecer aos arquitectos e engenheiros portugueses, brasileiros e chineses que construíam um bruto condomínio, brutas torres e prédios nas terras que já não eram de Job. Serviriam também para alegrar, para lazer da nobreza e do MPLA. Para passarem brutos fins-de-semana na fuga da agitação da cidade, da barulheira e da anarquia dos nobres súbditos sem lei.

Perto, algumas cobras oposicionistas, descontentes, rastejavam à procura de local mais aprazível para respirar. Sentiam-se deslocadas nas suas próprias tocas. Iam bem chateadas. O Ordens Superiores continua a desvendar os males do mundo ao grande idiota Job.
- A questão fundamental da vida é a utilidade pública. A grande descoberta de todos os tempos. A maldita invenção que os homens fizeram – o dinheiro –. Porra meu! Já viste a quanto está o metro quadrado de terreno... 2.500.00 dólares! Uma colossal fortuna. Ó meu não sei se tás a ver como se ganha dinheiro sem trabalhar! Aqui não há população, o que manda é o dólar. A negralhada que se lixe… que morram prá aí! O dinheiro dá muita satisfação a quem o possui e que nunca se satisfaz, quer sempre mais e mais. Fica obcecado… como uma ideia fixa… torna-se numa doença. A pessoa deixa de ser humana, vira uma desumanidade sem limites. É o vale-tudo. Daí não desmagnetiza o seu pensamento. No fim vem a loucura, a neurose a necessitar de urgente tratamento psiquiátrico. Provoca guerras para obter mais e mais até à destruição do planeta… da humanidade. Provoca uma grave contradição: O dinheiro resolve muitos problemas, mas quanto mais abundante mais problemas trás. É isto a origem da maldade.

O Ordens Superiores vai ao Hummer acabado de importar com o dinheiro do petróleo do povo, traz a caixa térmica, abre-a. Retira uma garrafa geladíssima de Dom Perignon com cinco anos de idade. Convida Job mas este recusa com a cabeça. Satisfaz-se com uma farta golada. Reconta a exercitação de Job.
- Sabes Job… o nosso MPLA é como um universo-ilha. Os ricos são fábricas de lixo. Os seus lares produzem-no em abundância porque consomem muito. E obrigam-se a consumir o que a sua ira produz. Nem as plantas e os animais lhes escapam, porque montanhas de resíduos lhes caiem em cima todos os dias. Quando a consciência da Natureza se revolta, chamam-lhe calamidade natural... e as vítimas são imensas… os seres humanos que escapam vivem dispersos, na fuga incerta, permanente. A Natureza sussurra os seus segredos, mas já ninguém os entende ou finge não entender. Aparece-nos em visões à noite e desaba em cima de nós, precisamente quando estamos no sono mais profundo. Acordamos espantados e estremecemos perante tal poder. Os espíritos vagueiam à nossa volta, poucos povos já os entendem. O vento fala-nos, previne-nos, mas os nossos olhos já nada vêem. Está tudo corrompido, somos todos corruptos!

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