segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Cavaleiro do Rei (48). Novela


O cavaleiro La Padep sente o julgamento do juízo final quando Epok lhe diz à toa:
- Caramba, vocês são piores que a Revolução Francesa.
- Não entendo, aqui nunca houve revolução…
- Pois fica sabendo que além dos nossos bens, também querem o que de mais íntimo temos.
- Não estou a perceber.
- Não te faças de parvo… violaste a suprema intimidade da princesa.
- Também hei-de violar a tua.
- O quê? Qual?
- O teu real rabo.
- Filho da puta, guardas!!! Levem-no!

Conduziram La Padep para a poterna por cima do fosso das piranhas. Suspenderam-no por uma corda amarrada aos tornozelos de cabeça para baixo, a cerca de um metro do nível da água. As piranhas sempre esfomeadas saltavam tentando trincar um pedaço da sua carne. Algumas conseguiram apanhar-lhe um pouco de cabelo, graças aos esforços que fazia para ludibriar as suas poderosas mandíbulas. As forças enfraqueciam. A noite chegou. Com Epok na dianteira, os convidados cansados de assistir ao fim de menos um republicano, recolheram-se para os seus aposentos reais. A vida de La Padep não chegaria a ver o sol da manhã do dia seguinte.

Aí por volta das quatro horas da madrugada, vários vultos rasgam a escuridão da noite. Movem-se como panteras negras, imperceptíveis aos olhares e ouvidos humanos. São os jovens do condado onde há sempre zanga, que não resistiram aos apelos das mensagens que lhes tinham sido entregues. Vieram em socorro do seu líder. O local da vala antes aberta ainda era visível. Trabalharam a cem à hora. A água acabou em minutos. Colocaram tábuas de madeira que traziam, no fosso seco. Assim como uma escada que também transportaram. Poisaram-na em cima das tábuas, subiram-na e com uma faca cortaram a corda que prendia La Padep. O nosso herói estava salvo. Um pouco de sangue escorria-lhe da cabeça, devido a uma piranha muito atrevida. Teve forças para agradecer.
- Muito obrigado queridos republicanos. Isto é uma ditadura. O imperador é o culpado disto tudo. Para a semana vamos fazer uma manifestação na embaixada dos EUA. Vamos perguntar pelas contas do líquido negro.

Os esfomeados e as esfomeadas, mesmo assim sempre muito belas, parece que a fome as faz ficar mais bonitas, de tal modo que fazem inveja à mais famélica modelo nas passarelas da moda. Aproveitaram mais uma vez e carregaram as piranhas. Ainda a luz da manhã não tinha sido convidada, e já se ouviam os pregões nas ruas.
- Comprem, comprem! É peixe do rei, faço bem barato!
As piranhas vendidas a baixo preço depressa desapareceram. Graças à piscicultura real os esfomeados nesse dia não passaram fome. Uma zungueira reconhece saracoteando o rabo.
- Vivam as ajudas humanitárias do reino da ONU!

Ao raiar do dia na torre de menagem, Epok com potentes binóculos pretende observar o que resta do corpo de La Padep. Vê a corda que flutua ao sabor do vento. Comenta para quem quiser ouvir:
- Porra! Estas piranhas são demais, nem a corda escapa.
Aponta os binóculos na direcção da água, na esperança de ver algum osso a flutuar. O fosso está seco.
- Filhos da puta de guardas. GUARDAS!!!!!
- Sim chefe, favoreça.
- Baixa a ponte levadiça.
- Atenção, ordens do chefe Epok, atirar as tábuas para baixo!
- Não foi isso que eu disse caralho!
- Chefe… é a nossa palavra-chave.

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