quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

As Manobras Presidenciais Sobre a IURD


Está esgotadíssimo o prazo que o Presidente da República estabeleceu para lhe ser presente um relatório sobre os incidentes ocorridos na noite do dia 31 de Dezembro de 2012, que culminaram em 16 vítimas mortais e 120 feridos.
No dia 3 de Janeiro, José Eduardo dos Santos nomeou uma comissão de inquérito, coordenada pelo ministro do Interior, a quem fixou um prazo de 15 dias para produzir um relatório sobre a tragédia em que redundou uma cerimónia promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). O caso provocou comoção e indignação no país.
No dia 7 de Janeiro, escrevia-se neste portal que a “criação da Comissão de Inquérito pelo Presidente da República é um claro indício de que as autoridades angolanas não têm o menor interesse em indispor a IURD”. E ainda: “A Comissão de Inquérito criada pelo Presidente da República é um artifício que persegue dois objetivos simultâneos. Por um lado, dar algum “conforto” às vitimas da tragédia e aplacar a ira e a indignação da sociedade. Por outro, procura ganhar tempo para, depois, assegurar à IURD que não irá sofrer nenhumas consequências pela tragédia por esta provocada”.
Expirado o prazo para a conclusão do referido processo de inquérito, há já uma leitura possível: o Presidente da República logrou plenamente o seu primeiro objectivo, que era afastar a tragédia da IURD das conversas do quotidiano. Embora continue forte a comoção provocada pela tragédia, a criação da Comissão de Inquérito afastou o assunto dos órgãos de informação públicos.
Quem por estes dias se guia exclusivamente pela imprensa, jamais saberá que no dia 31 de Dezembro de 2012, transcorridas pouco mais de três semanas, o charlatanismo da IURD empurrou para a morte 16 angolanos, filhos e filhas deste país.
Como a tragédia fora dos holofotes da comunicação social, ao Presidente da República tornar-se-á mais fácil dar ao relatório que encomendou à Comissão de Inquérito o mesmo destino de muitos outros relatórios que inúmeras comissões de inquérito produziram: a máquina de triturar papel ou o fundo da gaveta da secretaria.
Mas apesar do silêncio, imposto pelas manobras presidenciais e pelo servilismo da imprensa estatal, as perguntas permanecem no coração dos angolanos. Como foi possível a tragédia de 31 de Dezembro? Quais as responsabilidades da IURD nos trágicos acontecimentos? Porque estavam encerrados vários portões do estádio da Cidadela? Porque acederam as autoridades (polícia e bombeiros) a que a segurança dentro do estádio fosse coordenada pela IURD? E finalmente, a quem deve ser atribuída a responsabilidade das 16 mortes ocorridas a 31 de Dezembro?

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