Por Alfredo
Muvuma
Está esgotadíssimo o prazo que o Presidente
da República estabeleceu para lhe ser presente um relatório sobre os incidentes
ocorridos na noite do dia 31 de Dezembro de 2012, que culminaram em 16 vítimas
mortais e 120 feridos.
No dia 3 de Janeiro, José Eduardo dos Santos
nomeou uma comissão de inquérito, coordenada pelo ministro do Interior, a quem
fixou um prazo de 15 dias para produzir um relatório sobre a tragédia em que
redundou uma cerimónia promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
O caso provocou comoção e indignação no país.
No dia 7 de Janeiro, escrevia-se neste portal que a “criação da Comissão de
Inquérito pelo Presidente da República é um claro indício de que as autoridades
angolanas não têm o menor interesse em indispor a IURD”. E ainda: “A Comissão
de Inquérito criada pelo Presidente da República é um artifício que persegue
dois objetivos simultâneos. Por um lado, dar algum “conforto” às vitimas da
tragédia e aplacar a ira e a indignação da sociedade. Por outro, procura ganhar
tempo para, depois, assegurar à IURD que não irá sofrer nenhumas consequências
pela tragédia por esta provocada”.
Expirado o prazo para a conclusão do referido
processo de inquérito, há já uma leitura possível: o Presidente da República
logrou plenamente o seu primeiro objectivo, que era afastar a tragédia da IURD
das conversas do quotidiano. Embora continue forte a comoção provocada pela
tragédia, a criação da Comissão de Inquérito afastou o assunto dos órgãos de
informação públicos.
Quem por estes dias se guia exclusivamente
pela imprensa, jamais saberá que no dia 31 de Dezembro de 2012, transcorridas
pouco mais de três semanas, o charlatanismo da IURD empurrou para a morte 16
angolanos, filhos e filhas deste país.
Como a tragédia fora dos holofotes da
comunicação social, ao Presidente da República tornar-se-á mais fácil dar ao
relatório que encomendou à Comissão de Inquérito o mesmo destino de muitos
outros relatórios que inúmeras comissões de inquérito produziram: a máquina de
triturar papel ou o fundo da gaveta da secretaria.
Mas apesar do silêncio, imposto pelas
manobras presidenciais e pelo servilismo da imprensa estatal, as perguntas
permanecem no coração dos angolanos. Como foi possível a tragédia de 31 de
Dezembro? Quais as responsabilidades da IURD nos trágicos acontecimentos?
Porque estavam encerrados vários portões do estádio da Cidadela? Porque
acederam as autoridades (polícia e bombeiros) a que a segurança dentro do
estádio fosse coordenada pela IURD? E finalmente, a quem deve ser atribuída a
responsabilidade das 16 mortes ocorridas a 31 de Dezembro?
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