Respeitamos nossos dirigentes, nossos governantes mas está
jamais aceitaremos que sejam “deuses”. Não escondam a porcaria “proclamando
santo” quem até pecador é. Moçambique não precisa de “heróis inventados” por
uma agenda política de manutenção no poder.
Maputo
(Canalmoz) - O culto de personalidade tão característico de regimes políticos
fundados em tudo menos Democracia é um fenómeno preocupante. Em Moçambique
algumas correntes entendem de que perseguir tal forma de actuação constitui
garantia de conquista de espaço político. Alguns quadrantes ou estrategas
políticos consideram que a manutenção do poder deve socorrer-se às práticas
declaradamente corrosivas dos preceitos democráticos.
As
palhaçadas que infelizmente nos tem dado a ver e a ouvir em diversos fóruns é
preocupante e sinal de que existe uma ofensiva planificada nos centros do poder
visando dar luz e exposição cimeira a quem está no poder e aos potenciais
herdeiros deste mesmo poder.
Com
uma maioria dos cidadãos carentes de informação, politicamente analfabetos e
longamente influenciados por políticas monocromáticas, vemos Moçambique, sua
comunicação social pública rendendo-se aos efeitos de uma política oficial de
“culto de personalidade”.
É
constrangedor ocupar espaço importante nos canais de informação nacional
“martelando teclas” elogiando líderes e “besuntando” os mesmos como se de
pequenos deuses se tratasse.
Não
se conhece democracia normal em que se destaque sem fundamento figuras e
personalidades partidárias e governamentais a coberto de realizações que nem
lhes pertencem. Corta-fitas e inauguradores de obras púbicas, palestrantes
“gloriosos”, escribas mercenários e bajuladores profissionais combinam-se e
revezam-se para tentar convencer os moçambicanos de que seus apoiados são o
melhor que o país tem e que sua permanência no poder é um imperativo.
A
avalanche informativa actual que a RM e a TVM, auxiliados por algumas entidades
privadas da comunicação social, endeusando a figura de Armando Emílio Guebuza
(AEG), tem muito que se lhe diga. Não se compreende nem é aceitável que um país
seja sujeito a bombardeamentos mediáticos visando promover a imagem de
políticos medíocres. Os editores de importantes órgãos de comunicação social
parecem perdidos sem sensatez, vergonha, senso comum, sentido ético e
deontologia. Compreende-se a penúria em que vivem muitos moçambicanos mas
nenhuma fome ou qualquer necessidade devem ser motivo de exaltação de figuras
humanas. “Os homens nascem iguais e são iguais perante a lei”.
Gente
que se assenhoreou do poder, que se montou no poder e que se aproveita de sua
informação privilegiada para expandir seus negócios e empresas aparece
endeusada num movimento que denota clientelismo básico e entorpecente.
Os
recuos que se verificam na normalização da governação no país têm base numa
postura de líderes sem liderança. Arquitectura e organização de votos que
passam pela sua compra dos mesmos e manipulação inescrupulosa fazem emergir uma
situação perigosa de corrupção desenfreada a todos os níveis.
Partidos
políticos transformam-se em plataformas de engrandecimento individual e os
membros em “cordeiros obedientes e disciplinados”.
Clivagens
e fricções avolumam-se embora cuidadosamente encobertas por véus de silêncio.
A
democracia de que tanto se fala não se coaduna com o culto de personalidade em
alta no país. Os nossos governantes merecem respeito desde o mais baixo na
hierarquia. O respeito que se espera dos governados acontece por via de uma
relação efectiva de abertura, consulta, exemplaridade e confiança.
Tem
de ficar claro e permanentemente denunciado que o servilismo de que se cobrem
editores e porta-vozes de partidos políticos, chefes de bancada parlamentar,
executivos de topo na esfera pública conduzem a criação de uma imagem falsa e
de condições propícias para a fermentação de cultos de personalidade que nada
tem a ver com Democracia e desenvolvimento nacional.
AEG
entanto que indivíduo não precisa de bajulação, lambebotas, engraxadores nem
óleo para “brilhar ao sol”.
Há
gente que sabendo do mal que faz ao País teima e persiste na via do elogio
falso, do encobrimento de factos de interesse público tudo em nome de uma
alegada agenda partidária. A disciplina partidária muitas vezes apresentada
como fundamento da existência política excede-se conforme convenha a uma
estratégia sempre em alteração. Ontem era Joaquim Chissano que se procurava
endeusar como também se pode dizer que quando os vivos não bastam socorre-se a uma
associação dos vivos com os mortos. Samora Machel tem sido usado e utilizado
conforme se aproximem datas eleitorais. Os cartazes em que se enfileiram os
dirigentes máximos da Frelimo desde Mondlane até Guebuza têm objectivos
concretos.
Os
moçambicanos estarão imensamente gratos, quando na próxima abertura das sessões
do Parlamento, os deputados pouparem os seus olhos e ouvidos dos elogios a
despropósito, dirigidos aos líderes dos partidos políticos. Queremos ver os
governantes trabalharem no seu dia-a-dia, procurando soluções apropriadas para
os diversos problemas do país. Respeitamos nossos dirigentes, nossos
governantes mas está claro que jamais aceitaremos que sejam “deuses”.
Não
escondam a porcaria “proclamando santo” quem até pecador é.
Moçambique
não precisa de “heróis inventados” por uma agenda política de manutenção no
poder. Construir uma história nacional que traga para a ribalta os moçambicanos
que se evidenciaram na luta anticolonial ou na construção do estado moçambicano
ou ainda na luta pela democracia deve ser algo concertado e consensual pois só
assim é que se garante equidade e tolerância.
É
preciso entender que não são as estátuas deste ou daquele que se traduzirão em
desenvolvimento nacional.
Hoje há gente que está tentada a “fechar os
olhos” e defender o indefensável numa perspectiva de garantir “pão”. É
manifestamente jogo baixo e ligeireza criminosa para milhões de moçambicanos,
pois cúmplices também são criminosos… (Noé Nhantumbo)
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