Canal de Opinião. Por: Noé Nhantumbo
Os defuntos lutadores pelas independências devem estar
chorando… Décadas após a proclamação das independências são raros os países
africanos que conseguiram edificar pátrias em que as fricções étnicas e
regionais tenham sido substituídas por convivência pacífica, envolvente e de
tolerância. As independências que eram consideradas como via de realização de
satisfação das necessidades dos cidadãos, tornaram-se ilusão deprimente.
Maputo
(Canalmoz) - África inicia 2013 a braços com crises de segurança reveladoras de
um mau estado geral das relações políticas em muitos dos países que fazem parte
da União Africana.
Um
acumular de problemas não sanados, uma cultura de relações entre os países
fundada nas aparências, uma história distorcida por conveniências
circunstanciais não tem conseguido no seu conjunto abordar e dar o tratamento
adequado aos mais variados problemas continentais.
Se
na República Centro Africana mais uma vez a rebelião mostra os seus apetites,
no Mali a guerra aberta começou com uma intervenção de tropas estrangeiras, em
peso.
No
Sudão e no novo Sudão do Sul os governos dos dois países tentam evitar a guerra
numa situação em que milícias instrumentalizadas e sob instrução de diversos
interesses não desarmam.
Afinal
África está destinada a ser aquele continente em que as crises de segurança são
permanentes?
Em
finais do Janeiro corrente teremos mais uma cimeira da União Africana. É
provável e de esperar que muitas resoluções sejam mais uma vez apresentadas e
aprovadas. O passado recente mostra reticências e hesitações quando se exigem
recursos e planos adequados para intervenção dos órgãos da UA. Ora faltam
recursos financeiros ora não existe vontade política para agir-se no sentido
mais apropriado.
Décadas
após a proclamação da independência são raros os países africanos que
conseguiram edificar pátrias em que as fricções étnicas, regionais tenham sido
substituídas por uma convivência pacífica, envolvente e de tolerância.
Uma
estrutura económica e financeira montada a partir de modelos de apropriação de
todo desenquadrados com os objectivos políticos anunciados e propagandeados
produz distorções, progressão geométrica do número de pobres e aumento do fosso
entre ricos e pobres. As independências que eram considerada como via de
realização de satisfação das necessidades dos cidadãos tornou-se numa ilusão
deprimente.
Os
retalhos administrativos antes chamados colónias, possuíam mecanismos de
sobrevivência económica mais ou menos estruturados, tornaram-se campos
desolados de ineficiência logo após a proclamação das independências. Se as
potências colonizadoras haviam conseguido, através de políticas divisivas,
manter as populações longe de conflitos étnicos, os novos governos não
conseguiram afugentar os micróbios do separatismo, dos conflitos intestinais.
Minorias governando maiorias numa herança directa do poder colonial criaram
ilusões nacionalistas jamais assumidas por seus súbitos. Nem a importação de
ideologias socializantes de cariz marxista resolveu os problemas.
Sem
uma saída económica que oferecesse garantias visíveis de que valia realmente a
pena comungar os projectos de nacionalidade sugeridos os que sentiam oprimidos
e excomungados na partilha das riquezas nacionais logo entenderam que a solução
de seus problemas só ganharia viabilidade pela via da confrontação violenta.
Problemas
sem solução atempada avolumam-se e crescem para situações fora do controlo dos
políticos e governantes.
É
assim que na África dos dias de hoje os “fantasmas do passado” revisitam o
presente de uma forma cada vez mais activa.
A
história é um processo que conhece avanços e recuos conforme os homens,
governantes e governados se entregam aos seus afazeres. Quem se recusa os
assuntos espinhosos e difíceis só adia as coisas. O caixote de lixo da história
tem muito que se lhe diga em termos de quem está lá enterrado.
Porque
os governantes africanos de hoje continuam a fazer de contas que não temos
problemas e que sua governação é sábia e bem-sucedida os problemas que rebentam
um pouco por todo o continente são a forma mais prática para mostrar o que
realmente tem acontecido com a governação em África.
O
recurso recorrente à intervenção estrangeira para “pacificar” e democratizar os
países africanos é um insulto à gesta independentista de que foram
protagonistas muitos políticos africanos como Nkrumah e outros. Como entender
que passadas décadas da proclamação das independências se tenha que ir pedir
ajuda a Paris ou Lisboa para resolver diferendos internos? Aquela soberania de
que tanto falam em seus discursos o que afinal significa?
Não
há dúvidas para quem queira ver que a governação em África atravessa uma fase
vergonhosa. O congelamento de fundos na Suíça e em outros países, pertencentes
a déspotas e outros políticos do continente deixa ver o que são nossos
governantes. Mesmo quando se escondem e encobrem através de encomendas
mediáticas na comunicação social de seus países, já nada impede de ver que
utilizam suas posições no governo para açambarcar riquezas e roubar
directamente do erário público.
Os
dossiers Mobutu, Mubarak, Ben Ali, Abacha, Bongo, Ngwenha, Kadafi, Eduardo dos
Santos e outros, de fortunas congeladas mostra o que temos em África em termos
de governantes.
A
coisa pública, o servir, a verticalidade e a responsabilização rareiam e com
isso os cidadãos são colocados entre a espada e a parede dos oportunistas
políticos que os utilizam em defesa de teses centradas em seus umbigos.
O
poder político precisa de ser reformulado e repensado, em África.
A
dignidade de povos não pode ser moeda de troca para a satisfação de ambições
individuais de gente que assalta o poder e o coloca a seu serviço privado.
Não
há agenda que possa vingar com governantes medíocres, autênticos meliantes e
mercenários…
Governar
não é uma “negociata” e constituição de joint-ventures que rapinem recursos
nacionais em benefício das corporações e seus sócios nacionais.
África, é tempo de acordar e sacudir de tuas
costas, os vampiros que te sugam e entorpecem…(Noé Nhantumbo)
Imagem: osturkus.blogspot.com
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