Por Alfredo
Muvuma
Se perguntados, todos ou quase todos os
dirigentes do MPLA manifestarão, com cinismo e cobardia, a sua ignorância sobre
a origem do escandaloso enriquecimento do presidente José Eduardo dos Santos,
sua família e cortesãos.
Anos atrás, um dirigente de topo do MPLA
evocou o génio empreendedor dos filhos de José Eduardo dos Santos. Mais
recentemente, o Jornal de Angola elegeu Isabel dos Santos como
empresária do ano de 2012.
Nos dois casos, pretendeu-se transmitir a
ideia de uma suposta genialidade empresarial da família Eduardo dos Santos na
acumulação de uma riqueza colossal. A Forbes coloca Isabel dos Santos como a primeira mulher
africana cuja fortuna chega ao bilião de dólares, com base apenas nas suas
participações na UNITEL, no Banco BIC e nos seus investimentos em Portugal.
Todavia, o Projecto de Lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2013, aprovado há dias na generalidade pela Assembleia Nacional, destapou a farsa: não há nenhum mistério por detrás do enriquecimento do clã Dos Santos e seus cortesãos. O Artigo 11 do OGR explica, em parte, como o presidente angolano e os seus fazem fortunas sem suar às estopinhas e muito menos sobrecarregar os neurónios.
Todavia, o Projecto de Lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2013, aprovado há dias na generalidade pela Assembleia Nacional, destapou a farsa: não há nenhum mistério por detrás do enriquecimento do clã Dos Santos e seus cortesãos. O Artigo 11 do OGR explica, em parte, como o presidente angolano e os seus fazem fortunas sem suar às estopinhas e muito menos sobrecarregar os neurónios.
Maka Angola detalha aqui o propósito do referido artigo. Em resumo, enquanto
chefe do Poder Executivo, autor da proposta orçamental, José Eduardo dos Santos
solicitou e a Assembleia Nacional emitiu-lhe o cheque em branco para continuar
a gerir os dinheiros públicos como lhe aprouver e sem qualquer preocupação de
transparência.
No mundo actual, com a provável e honrosa
excepção da Coreia do Norte, é quase impossível encontrar um outro país cujo
presidente tenha solicitado e obtido licença para saquear os cofres públicos à
luz do dia e à vista de todos. De saque se trata, na verdade.
Para atender a demanda de dinheiro de um
filho ou de outro parente próximo, JES não terá mais que dar voltas à cabeça:
bastar-lhe-á invocar a segurança interna ou externa do país. Sob esse extenso
cobertor, o Presidente da República poderá criar quantos fundos quiser, quantas
empresas lhe apetecer para acomodar familiares, cortesãos e a cada vez mais
extensa lista de bajuladores. Pode criar fundos com mais dinheiro do que o
próprio OGE. O artigo mencionado não impõe qualquer restrição ou limite a José
Eduardo dos Santos.
O Presidente da República converteu o OGE no
principal, mas não único, instrumento do seu enriquecimento ilícito.
José Eduardo dos Santos não precisou de uma
autorização tão explicita da Assembleia Nacional para criar o Fundo Soberano
Angolano, cuja gestão e bolsa de US $5 biliões entregou ao seu filho Filomeno
“Zenú”. O enriquecimento da família presidencial nada tem a ver com
empreendedorismo ou talento empresarial, mas sim com esquemas de efectiva
privatização do Estado.
De forma caprichosa usa, frequentemente, a
sua condição de Presidente da República para aprovar contratos de investimentos
que beneficiam a sua própria família.
Quando não é por via do investimento alheio,
a chantagem política e económica tem funcionado também para fazer com que
negócios bem sucedidos sejam obrigados a ceder consideráveis percentagens aos
interesses económicos da família presidencial. O Banco de Fomento Angola (BFA)
esteve na iminência de perder os depósitos das mais importantes instituições e
empresas públicas angolanas. Para contornar o risco, o BFA teve de ceder 49
porcento das suas ações à UNITEL, detida maioritariamente por Isabel dos
Santos. Desde então, a primogénita de José Eduardo dos Santos é administradora
do referido banco.
O ajuste direto, ou seja, a adjudicação de
contratos de prestação de serviços e bens ao Estado sem qualquer concurso
público é outro modelo preferido para o enriquecimento ilícito do clã. É ao
abrigo dessa modalidade que o Canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA),
assim como o seu o Canal International, foram praticamente doados a Welwitschea
“Tchizé” dos Santos e ao seu irmão José Paulino dos Santos “Coreon Dú”.
O Orçamento Geral do Estado (OGE), a ser
aprovado a 14 de Fevereiro, atribui a dois filhos do Presidente (os já mencionados
Tchizé e Coreon Dú) quase US $60 milhões. Esta verba chegará aos entes de José
Eduardo dos Santos por via do GRECIMA. O GRECIMA é o Gabinete de Revitalização
e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração, tutelado
pela Presidência da República e dirigido por Manuel Rabelais. Pende contra este
dirigente um processo-crime por actos de corrupção durante os seus anos como
ministro da Comunicação Social. O Presidente José Eduardo dos Santos conferiu,
assim, imunidades a Manuel Rabelais, ora investido no cargo de Secretário de
Estado. O GRECIMA é uma estrutura que usurpou grande parte das competências do
Ministério da Comunicação Social e, na prática, Tchizé e Coreon Dú são os seus
verdadeiros patrões. Por sua vez, O GRECIMA transfere os fundos para a Semba
Comunicação, a empresa dos filhos do Presidente, contratada para melhorar a
imagem do regime.
O mesmo OGE deposita nas mãos da dupla
Tchizé-Coreon Dú outros 50 milhões de dólares para os dois filhos do Presidente
da República continuarem o seu entretenimento favorito, que é brincar às
televisões. Por via do abuso de poder, os filhos do Presidente controlam o
Canal 2 e o Internacional da TPA, cabimentados com o referido orçamento.
A TPA e GRECIMA, juntos, por via da
contratação da Semba Comunicação, colocam sob gestão dos herdeiros de Dos
Santos quase US $110 milhões de dólares. Este é um valor superior aos US $90
milhões que o Ministério da Comunicação Social tem de repartir com a RNA, TPA,
ANGOP, Jornal de Angola, Centro de Imprensa, CEFOJOR e outras
estruturas sob sua tutela.
Esta é mais uma chocante demonstração da
pilhagem do dinheiro de todos os angolanos, pessoalmente comandada por José
Eduardo dos Santos. Esfumam-se, cada vez mais, as esperanças dos ingénuos e dos
que teimavam em acreditar que o Presidente teria condições de levar a nau
angolana a porto seguro.
No ordenamento jurídico de países modernos, o
saque e a delapidação de riquezas públicas são crimes. Em Angola, o saque,
delapidação e a opacidade , apesar de também constituírem crimes, levam o selo
de garantia de deputados eleitos pelo povo. Ignoram uma das suas principais
missões, que consiste no asseguramento da boa gestão da rés pública.
Assim, os deputados do MPLA, que detêm o
poder exclusivo de aprovar ou chumbar leis, servem apenas de carregadores
legais da corte presidencial que rouba o país já de forma insana. São os
monangambés dos tempos modernos.
Imagem: a saúde em Luanda
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