Benguela - Chegava eu de Luanda (hoje), quando no táxi, vindo
do aeroporto da Catumbela, comecei a acompanhar numa das rádios a informação
sobre a greve dos trabalhadores da SHOPRITE. Veio-me à memória que já há algum
tempo me tinha preocupado com o facto da privatização do terreno da praça 1.º
de Maio (Lobito). Foi neste terreno onde antes assistíamos aos comícios, ao
carrossel, aos jogos de futebol das crianças e jovens dos bairros
fronteiriços. Neste espaço vimos a construção da Shoprite! Quem estava
envolvido em tal processo? Que processo teria sido? Até hoje nada foi
partilhado.
Diversas vezes
como consumidor, me preocupou o facto da fiscalização não se fazer sentir neste
supermercado. Inúmeras vezes se vende naquele estabelecimento produtos fora do
prazo ou em péssimas condições para o consumo humano. Mal se entra naquele
supermercado, um cheiro desagradável nos invade a partir da área das carnes
frescas(?)!
Inicialmente, o
projecto da Shoprite tinha apenas ocupado uma área (nesta praça 1.º de Maio).
Deixou inclusivamente uma placa alusiva aos trabalhadores (honra aos
trabalhadores!!)! Nos últimos tempos, tal placa foi à vida como toda a área foi
ocupada com diversas construções dentro do mesmo projecto e complexo da
Shoprite (sem esclarecimentos da administração municipal nem do governo
provincial).
Ao saber da greve
dos trabalhadores, dirigi-me na tarde de hoje ao local. Iniciei com as fotos
frontais que demonstram a existência da greve. Depois, fui contactando as
pessoas ali presentes, apresentando-me e demonstrando o meu interesse e da
OMUNGA, a que represento, em acompanhar o caso e demonstrar solidariedade.
Dirigi-me àquelas
instalações para ouvir as pessoas! São jovens, alguns dos quais com 20 e poucos
anos! Questionei sobre a solidariedade! Como reagem os clientes ignorantes de
seus direitos de consumidores? Como reagem as senhoras que normalmente em torno
dos portões do recinto fazem os seus negócios? Como reagem os portadores de
deficiência, como cegos, paralíticos, etc, que fazem sua fonte a fonte da
Shoprite? Falei com um jovem que se encontrava encostado a um dos pilares do edifício,
com necessidades especiais pela impossibilidade de mobilização dos seus membros
inferiores, que normalmente ganha o seu ganha-pão pedindo naquelas paragens.
"Agora não ganho nada! Quero que a greve acabe!"
Perguntei-me: Ele
entende que já é uma vítima desta ausência de política pública que o empurra
para a misericórdia de quem, livrando-se dos seus pesos de consciência, lhe vai
dando "uma esmola" (se calhar foi para estas esmolas que o presidente
da república apelou no seu discurso de final de ano)
Mas ao mesmo tempo
questionei-me: "Ele quer que acabe a greve!" Ele de certeza quer que
acabe com justiça, porque ele também quer justiça! De resto, o pessoal,
trabalhadores e sindicato garantem que têm recebido a compreensão e
solidariedade dos demais cidadãos (normais consumidores da Shoprite)
Quando desci do Kupapata (moto-taxi), ainda fora, nas "grades" da Shoprite, comecei a tirar as fotos ao "Estamos em Greve"
Possivelmente
por ser "pula", pelo meu "rasta" e vestimentária, o
pessoal, como sempre, me olhava. Havia quem me pedisse para tirar fotos. Não
estava com paciência, nem tempo. Queria urgentemente duas coisas: (1) Saber
mais do que estava a acontecer e (2) demonstrar a minha solidariedade!
Nas várias
conversas, uma jovem encaminhou-me para dentro de um daqueles rápidos
alimentares (que não estão em greve) e encontrei várias pessoas vestindo de
t-shirts vermelhas (da Shoprite), mas num canto, numa mesa, havia um homem
vestido de branco, de óculos e chapéu.
Era o Sr. Victor
Fernandes Manuel! Secretário do Sindicato da Alimentação, Comércio, Hotelaria e
Turismo da UNTA. Era a pessoa que tinha ouvido falar na rádio enquanto voltava
ao Lobito, vindo do aeroporto da Catumbela.
Ao nos
apresentarmos, o Sr. Victor reconheceu o meu pseudónimo, "Patrocínio":
"És o filho do Patrocínio?" "Sou, o que trabalhou na UNTA",
"Trabalhei com ele e também conheci o teu irmão que foi piloto!"
Foi um espaço que
me pôs mais calmo. Realmente, conforme partilhei com o Sr. Vitor, tinha receio
que a UNTA, ligada ao MPLA, obviamente, subserviente do sistema, não
conseguisse tomar posição honesta em defesa dos cidadãos e dos seus direitos.
Mas ele estava ali! Orgulhei-me pelo meu pai e não me contive em dizer-lhe:
"O meu pai deve estar feliz na sua campa por saber que estou aqui a falar
consigo!"
Foram-me dados a
ver papeis, delineámos alguns passos.
Vamos aos passos.
1.º Os
trabalhadores reuniram-se na presença do Sindicato e da gerência
2,º Nessa reunião elegem a comissão de negociação
3.º Ao mesmo tempo estabelecem o caderno reivindicativo (ainda em 2012)
4.º A direcção de Luanda da Shoprite, violando a lei dos 5 dias responde avançando a possibilidade de reunirem-se a 7 de Janeiro argumentando não entenderem as reclamações (aproveitaram-se para comercializarem e alcançarem grandes lucros com a quadra festiva!)
5.º Os trabalhadores decidiram fazer uma greve a "meio-gás", mantendo alguns a trabalhar
6.º A direcção da empresa reage a este espírito negociador e pacífico dos trabalhadores para ameaçar, despedimentos para os que não estivessem a trabalhar.
7.º Os trabalhadores deciderem fazer a greve ampla,
8,º A polícia da primeira esquadra interveio várias vezes, ameaçando e detendo um dos líderes da "comissão de negociação da greve" (quem deu ordens? A OMUNGA vai questionar ao Administrador e ao Governador provincial!!!!!)
9.º Espera-se uma delegação da direcção da empresa de Luanda para negociar com ninguém, uma vez que eles consideram despedidos os trabalhadores em greve (na base de quê????? do exagerado proteccionismo e conivência dos diferentes órgãos do Estado))))
2,º Nessa reunião elegem a comissão de negociação
3.º Ao mesmo tempo estabelecem o caderno reivindicativo (ainda em 2012)
4.º A direcção de Luanda da Shoprite, violando a lei dos 5 dias responde avançando a possibilidade de reunirem-se a 7 de Janeiro argumentando não entenderem as reclamações (aproveitaram-se para comercializarem e alcançarem grandes lucros com a quadra festiva!)
5.º Os trabalhadores decidiram fazer uma greve a "meio-gás", mantendo alguns a trabalhar
6.º A direcção da empresa reage a este espírito negociador e pacífico dos trabalhadores para ameaçar, despedimentos para os que não estivessem a trabalhar.
7.º Os trabalhadores deciderem fazer a greve ampla,
8,º A polícia da primeira esquadra interveio várias vezes, ameaçando e detendo um dos líderes da "comissão de negociação da greve" (quem deu ordens? A OMUNGA vai questionar ao Administrador e ao Governador provincial!!!!!)
9.º Espera-se uma delegação da direcção da empresa de Luanda para negociar com ninguém, uma vez que eles consideram despedidos os trabalhadores em greve (na base de quê????? do exagerado proteccionismo e conivência dos diferentes órgãos do Estado))))
A direcção tenta
adormecer os trabalhadores., Dando conta da insistência, lança a hipócrita
ideia de que a "comissão de negociação" está despedida, de acordo aos
documentos ameaçadores, tal como os restantes trabalhadores que aderiram à
greve. Com quem vai negociar e quem (legalmente, tribunal ou procuradoria,
assumiu de concreto a ilegalidade desta greve!) legitima tal decisão
considerada pela direcção?
Afinal quantos são
os trabalhadores? De acordo à gerência, informação prestada pelos grevistas, é
apresentado o número de 220 trabalhadores. No entanto, a lista de presenças do
encontro dos trabalhadores para a decisão da greve, apresenta apenas 155
assinaturas. Estariam doentes os restantes? Haverá trabalhadores fantasmas
também nos esquemas das empresas privadas, se calhar daria para rir, para mim
dá para não me deixar calado!
Neste quadro
bizarro de completa violação de direitos, a polícia intervém!!! Quem deu ordem
à polícia? O gerente da Shoprite? Tem poderes para isso? A OMUNGA vai
questionar o Administrador Municipal do Lobito, o Comandante Municipal da
Polícia do Lobito e também o Governador Provincial de Benguela, como o
Comandante Provincial da Polícia de Benguela, para além da Procuradoria-geral
da República sobre "em que bases legais" os agentes da 1,ª esquadra
do Lobito, intervieram e detiveram ameaçadoramente o representante da comissão
de negociação da greve. A OMUNGA não pretende interferir no processo que, tão
bem, os trabalhadores e o seu sindicato estão a levar em frente. A greve da
Shoprite e todas as suas questões são assunto público, tocando-nos a todos nós
cidadãos. É neste âmbito que questionamos e vamos desenvolver uma campanha de
solidariedade para com estes trabalhadores, no ano do centésimo aniversário da
cidade do Lobito.
PELO CENTENÁRIO DO
LOBITO, COMPANHEIROS DA SHOPRITE, GANHEM A CAUSA DA LUTA PELO RESPEITO DA
DIGNIDADE DOS TRABALHADORES E CIDADÃOS
Poderíamos falar
do caderno reivindicativo. A OMUNGA irá fazer um acompanhamento completo deste
caso a partir da próxima segunda-feira! No entanto, de acordo aos
trabalhadores em greve (27 trabalhadores continuam dentro das instalações, não
aderindo à greve, incluindo todo o pessoal da gerência. Normal, não?!?!?!?!)
podemos avançar que existe, de acordo aos pressupostos da lei Geral do
Trabalho, da Constituição e da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos
Povos, desrespeito flagrante ao direito a um "emprego condigno",
podendo vir a ser considerado como "abuso e exploração laboral!! (escravatura
moderna em estados liberais! apresentaremos durante os próximos dias as
entrevistas aos trabalhadores em greve)
Mesmo assim
poderemos rapidamente descrever que reivindicam aumento salarial, subsídios de
transporte, de alimentação, de saúde, etc.
O envolvimento da
polícia e a detenção sob ameaça e tortura psicológica de um dos importantes
membros da comissão de negociação, na primeira esquadra, viola imediatamente o
artigo 6.º da Carta Africana que se traduz em: "Todo o indivíduo tem
direito à liberdade e à segurança da sua pessoa. Ninguém pode ser privado da
sua liberdade salvo por motivos e nas condições previamente determinadas pela
lei. Em particular, ninguém pode ser preso ou detido arbitrariamente"
A própria presença
da polícia sem prévia notificação e sob falsos pretextos como "os
grevistas partiram os vidros", obriga a uma intervenção da direcção do
ministério do trabalho que até hoje mantém-se silenciosa. Mais uma vez, repito,
eu, enquanto cidadão e a OMUNGA solicitaremos os devidos esclarecimentos das
instâncias já descritas sobre esta abusiva intervenção da nossa polícia
nacional, que existe para nos proteger e não para nos reprimir!
Eu estou solidário
e optimista por ver os jovens a exercer a cidadania neste centenário do Lobito
Eu e a OMUNGA estamos juntos e apelamos à solidariedade de todos! Chega de
brincadeiras
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