Esses conflitos gerados pelo processo de colonização da África podem sinteticamente ser interpretados, de acordo com Kabengele Munanga, através da noção de situação colonial:
http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html
“o conceito de situação colonial aparece como noção dinâmica, expressando uma relação de forças entre vários atores sociais dentro da colônia, sociedade globalizada, dividida em dois campos antagonistas e desiguais, a sociedade colonial e a sociedade colonizada. Na situação colonial africana, a dominação é imposta por uma minoria estrangeira, em nome de uma superioridade étnica e cultural dogmaticamente afirmada, a uma maioria autóctone. A necessidade de manter a dominação por suas vantagens econômicas e psicossociais leva os defensores da situação colonial a recorrerem não apenas à força bruta, mas a outros recursos...” (MUNANGA, 1988:10).
O esforço do colonizador para manter a dominação não apenas através da violência, pode ser representado pelas inúmeras obras literárias vinculadas a ideologia da dominação. Edward Saïd, por exemplo, discutindo a obra de Camus recorda que muitos elementos dessas narrativas (por exemplo, o processo de Meursault, em O Estrangeiro, editado em 1942) “constituem uma justificação furtiva ou inconsciente da dominação francesa, ou uma tentativa ideológica de embelezá-la.” (SAÏD, 2000)
Em maio de 1945 Camus está em Paris, dirigindo o jornal Combat, e embora mostre mais interesse pela situação da Argélia do que a imprensa francesa em geral, inicia uma série de artigos sobre o massacre com poucas informações, mantendo-se a distância e, procurando não tomar partido a favor dos argelinos revoltosos: “Diante dos acontecimentos que hoje agitam a África do Norte, convém evitar duas atitudes extremas. Uma constituiria em apresentar como trágica uma situação que é apenas séria. Outra implicaria ignorar as graves dificuldades em que hoje a Argélia se debate” (TOOD, 1998: 392). Camus declara em seus artigos que os “indígenas” norte-africanos não querem mais ser franceses, e que os árabes querem para a Argélia uma constituição e um parlamento. Para finalizar a série de artigos Camus escreve como última frase: “É a força infinita da justiça, e só ela, que deve ajudar-nos a reconquistar a Argélia e seus habitantes...” (TOOD, 1998: 394), expressando, assim, a ambiguidade que o fará alvo das críticas dos seus detratores nacionalistas argelinos.
A ambiguidade em relação ao futuro da Argélia está presente nos textos jornalísticos de Camus e também em sua obra de ficção, mas, recorrendo novamente a Munanga, podemos interpretar que “...o esforço constante do colonizador em mostrar, justificar e manter, tanto pela palavra quanto pela conduta, o lugar e o destino do colonizado, seu parceiro no drama colonial, garante, portanto, o seu próprio lugar na empresa.” (MUNANGA, 1988: 21).
III - Como ser francês sendo africano
Segundo Edward Saïd (2000), “Camus é o único autor da Argélia francesa, que pode com alguma razão ser considerado de envergadura mundial. Como Jane Austen, um século antes, é um romancista cujas obras deixaram perceber as realidades imperiais que se ofereçam tão claramente à sua atenção...É uma figura imperialista bastante tardia...”, ou seja, Camus, para Saïd, tem um olhar colonialista sobre a Argélia, a postura de francês ocupando um território africano. Mas vejamos o olhar de um francês da França sobre Camus: “Às vezes, algum Gallimard deixa Camus numa estação de metrô, e então, com rosto magro, pálido, o andar desajeitado, friorento, embrulhado num casaco dado por Michel Gallimard, gola erguida, ele tem o ar infeliz como um homem perdido, um estrangeiro, numa cidade hostil, cinzenta, sinistra.”(depoimento de Robert Gallimard citado por TODD, 1998: 349).
Imagens: Albert Camus e esposa.
http://www.inch.com/~ari/ac.gifs/acfrancine.jpg
Ao lado, Simone Beauvoir e Jean- Paul Sartre. Abaixo, André Breton: intelectuais em defesa da Argélia
http://images.google.pt/
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“o conceito de situação colonial aparece como noção dinâmica, expressando uma relação de forças entre vários atores sociais dentro da colônia, sociedade globalizada, dividida em dois campos antagonistas e desiguais, a sociedade colonial e a sociedade colonizada. Na situação colonial africana, a dominação é imposta por uma minoria estrangeira, em nome de uma superioridade étnica e cultural dogmaticamente afirmada, a uma maioria autóctone. A necessidade de manter a dominação por suas vantagens econômicas e psicossociais leva os defensores da situação colonial a recorrerem não apenas à força bruta, mas a outros recursos...” (MUNANGA, 1988:10).
O esforço do colonizador para manter a dominação não apenas através da violência, pode ser representado pelas inúmeras obras literárias vinculadas a ideologia da dominação. Edward Saïd, por exemplo, discutindo a obra de Camus recorda que muitos elementos dessas narrativas (por exemplo, o processo de Meursault, em O Estrangeiro, editado em 1942) “constituem uma justificação furtiva ou inconsciente da dominação francesa, ou uma tentativa ideológica de embelezá-la.” (SAÏD, 2000)
Em maio de 1945 Camus está em Paris, dirigindo o jornal Combat, e embora mostre mais interesse pela situação da Argélia do que a imprensa francesa em geral, inicia uma série de artigos sobre o massacre com poucas informações, mantendo-se a distância e, procurando não tomar partido a favor dos argelinos revoltosos: “Diante dos acontecimentos que hoje agitam a África do Norte, convém evitar duas atitudes extremas. Uma constituiria em apresentar como trágica uma situação que é apenas séria. Outra implicaria ignorar as graves dificuldades em que hoje a Argélia se debate” (TOOD, 1998: 392). Camus declara em seus artigos que os “indígenas” norte-africanos não querem mais ser franceses, e que os árabes querem para a Argélia uma constituição e um parlamento. Para finalizar a série de artigos Camus escreve como última frase: “É a força infinita da justiça, e só ela, que deve ajudar-nos a reconquistar a Argélia e seus habitantes...” (TOOD, 1998: 394), expressando, assim, a ambiguidade que o fará alvo das críticas dos seus detratores nacionalistas argelinos.
A ambiguidade em relação ao futuro da Argélia está presente nos textos jornalísticos de Camus e também em sua obra de ficção, mas, recorrendo novamente a Munanga, podemos interpretar que “...o esforço constante do colonizador em mostrar, justificar e manter, tanto pela palavra quanto pela conduta, o lugar e o destino do colonizado, seu parceiro no drama colonial, garante, portanto, o seu próprio lugar na empresa.” (MUNANGA, 1988: 21).
III - Como ser francês sendo africano
Segundo Edward Saïd (2000), “Camus é o único autor da Argélia francesa, que pode com alguma razão ser considerado de envergadura mundial. Como Jane Austen, um século antes, é um romancista cujas obras deixaram perceber as realidades imperiais que se ofereçam tão claramente à sua atenção...É uma figura imperialista bastante tardia...”, ou seja, Camus, para Saïd, tem um olhar colonialista sobre a Argélia, a postura de francês ocupando um território africano. Mas vejamos o olhar de um francês da França sobre Camus: “Às vezes, algum Gallimard deixa Camus numa estação de metrô, e então, com rosto magro, pálido, o andar desajeitado, friorento, embrulhado num casaco dado por Michel Gallimard, gola erguida, ele tem o ar infeliz como um homem perdido, um estrangeiro, numa cidade hostil, cinzenta, sinistra.”(depoimento de Robert Gallimard citado por TODD, 1998: 349).
Imagens: Albert Camus e esposa.
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Ao lado, Simone Beauvoir e Jean- Paul Sartre. Abaixo, André Breton: intelectuais em defesa da Argélia
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