segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Epopeia das Trevas (78). Um país de futebolistas, cheio de pés, vazio de cabeças


Olho para o cimo e vejo mais alto
um céu, uma montanha que todos os dias
quero alcançar
Depois sinto que ainda não sou capaz
quando o serei?
Falta-me o equilíbrio, a harmonia da tolerância
e uma infinidade de carinhos.
Como procurar
a equidade nos seres humanos e dificilmente a encontrar
Perversos na noite negra, cada vez mais distorcida

Saio do subdesenvolvimento construindo estádios de futebol
Um país faz-se com livros, com futebóis não
Um país de futebolistas, cheio de pés, vazio de cabeças
A bola é redonda, as mentes quadradas, obtusas
Encostam muralhas no meu cérebro para bloquear as suas funções
Injectam-me informação contrariada
partidarizada
para que me mova ao contrário

As explosões das granadas musicais, das festas, farras da surdez neurónica e patológica
Idiotas de mentes fechadas, que nunca se abrem
A feitiçaria expande-se, impõe-se
comanda. É outro treino
noutro reino
Carreguei e descarreguei muito sal para a Europa
e muita liberdade para alguns, pouca, insignificante para nenhuns
Que chegou dos russos e cubanos comunismo para mais alguns anos
agora rastreados pela FAMÍLIA
portugueses, brasileiros e chineses

Os jasmins são um conjunto de pensamentos
Várias harmonias perfumadas de futuro
São ruas perdidas pelo equilíbrio do nosso desentendimento
Sem equilíbrio não alcançamos o nosso ámen
Quando olho para os jasmins recordo a virgindade dos campos
Da terra livre e apaziguadora que me espoliam debaixo dos pés

Seguindo a lei da sobrevivência, lembrei-me, sou predadora
Antes chamavam-me meu lindo serafim
Os meus piores inimigos são os que me governam

Nesta parcela do Continente Negro
O colonialismo e a escravidão continuam
na cor diferente
O inferno da maldade dos homens é igual
A cor mudou os colonialistas não
Receio andar nas ruas, a minha Angola criminaliza-me
Pratico a minha autodestruição
Viciei-me no atirar baldes de águas contaminadas

Aproxima-se o Natal das noites tenebrosas, dos dias sem esperança
Das famílias, das mães longe dos seus filhos órfãos
Enviados para os céus bíblicos
pelo dilúvio das armas depois silenciosas (?)
Que tentam disparar amor e paz
Na tentação dos pais que perdoem aos seus filhos
Das promessas presentes aos corações solitários
Ainda não conquistados em encontros inesperados

Das névoas das cacimbas das minhas lágrimas
Que hei-de transformar em rio
para que mais este Natal não fique seco

E como o melhor que temos
sabemos é continuar, destruir
só nos resta o arrasar, o desabar
das nossas ruínas mentais


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