domingo, 6 de dezembro de 2009

A Epopeia das Trevas (73). Sem ensino não consigo escolar


Comparo-me como
margens adormecidas despertadas pelo mar sem sono
Alto o luar querendo iludir o mar
Perto a aragem da noite revela as sombras
dos mangais na vegetação marginal

Depois de uma angustiante e longa ausência
fito-me para longe dos tormentos por momentos
Indecisa, perdida, que o amor não vê
Corremos loucos uns contra os outros
desviamos o encontro dos nossos olhos
Não conseguimos abraçarmo-nos durante um momento
e prometemos que seríamos escravos dos novos senhores

Canso-me tanto destes príncipes e princesas
tão distantes e tão próximos
sempre com a mesma estrela embandeirada, enganadora
Tudo tão próximo, tão distante

Com petróleo e diamantes em excesso
preparo a fuga
O regresso do insucesso, da ecuménica economia
Quando roubam… é aos milhões
O FMI apoia, lembra que a actual, mundial
democracia é demoníaca. Grande invento, esse da democracia
para nos continuarem a escravizarem
subtilmente

Para as praias da braça das barcas da ignomínia
Mais regresso forçado para os colonizadores, que me esperam
além dos Açores
Perdida nas marés negras petrolíferas
sem diamantes
Das forças, forcas policiais, militares e políticas do desespero
das crónicas epidemias mortais

Corria no dia afogado pela chuva, vagueava
para não molhar o cabelo
Para não surgir com a minha feminilidade desfeita
Como é belo amar o meu cabelo molhado

Quando a guerra começou… começou há milénios
Começou com os homens e acabará com eles
Não é significativo pensar que as guerras acabarão
porque os homens ainda não acabaram
Mas é significativo pensar que o amor
acabará com as guerras

Esqueci que sou africana, sou uma fulana, mendiga mundana
Salvei um branco da morte, estava pronto para imolar
Pus o meu corpo à sua frente, depois cantou-me uma canção
para me desprezar

E muitos segredos se perderam
na Ocidental civilização arderam
Voltei à escravidão, sem livros na mão

É o corpo deles que governa, domina o mundo. Não usam a mente
Não sou produtora, sou caçadora predadora
Dialogo sem pensar
A farra da minha mente é uma imensa discoteca barulhenta
ferrugenta
Nos prédios que herdamos dos colonos, revivem
Vivem na gótica imaginação fluorescente do passado
Ando sempre a procurar e encontro-me sempre no mesmo lugar
Não consigo sair, porque não tenho dinheiro para nada adquirir
Vivo na dimensão do ar, enquanto me deixam respirar
E na panela de lata importada não encontro nada para me alimentar
Sem ensino não consigo escolar

Imagem: Folha8

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