A vida só tem sentido
Se a conseguirmos viver
Faltam-me beijos no meu ventre e nos meus seios
na calada das noites agitadas
Aspirei a ser culta e boa profissional. Queria viver em paz
não é política… é um facto
Nestes tempos camuflados observo um grande mérito
A mentira da harmonia racial
económica e social
O extermínio do povo da Nação Angola
desta Nação
Vieram de tão longe, passaram por aqui
e aqui ficaram
Quando deixar de viver espero deixar algo
Que a minha estadia não foi em vão
Foi alegria deixar a minha gratidão
Nesta Angola
os que lutam pela sobrevivência sucumbem
Os que governam permanecem
Os mortos vão aumentando… nunca diminuem
geneticamente invulgares
Tantos tempos perdidos na busca de Deus
E Ele está no nosso cérebro, no pensamento, na nossa mente
Arrasto-me em três dimensões. Ser, estar, ficar
E em três universos paralelos. Império, poder, miséria
A História é a inspiração dos idiotas ao poder
ou as multidões de esfomeados que aspiram a comer
Quando as democracias não funcionam
os extremos atacam e tomam o poder
Vêem-se muitos carros com enfeites
o do poder é um deles
Nunca vi tantos idiotas no poder
A chuva já chegou a Benguela
vai chover no Huambo
As crianças vão brincar muitas vezes nos lagos da chuva
As crianças serão marinheiros
a navegarem nos lagos sem vida
Tentei mergulhar no abismo da noite
Dos quase cinquenta anos de poder
E vi Angola assolada de cadáveres
da orgíaca ditadura
Restava a suavidade longínqua da música
Quanto mais me aproximava
mais ela se afastava
A música como mulher virgem
aprendendo os caminhos sem amor
A suave borboleta efémera abriu as suas asas
voou, poisou no monitor
Abriu para sempre as suas asas
coladas nas mãos do Programador do Universo
Sem comentários:
Enviar um comentário