terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Epopeia das Trevas (79). Não são lendas urbanas, é a realidade do rei, do chefe real sacana


Oiço todos os dias a alienação da governação:
«O nosso petróleo e diamantes»
Lutámos contra o colonialismo Ocidental
Agora lutamos contra o colonialismo Angolano
Repito-lhes! Não matem porque também serão mortos!

Na igreja sem maná rogaram-me para oferecer-lhes
um carro de passageiros, que depois Deus dar-me-ia tudo
Eles para beberem, elas para despirem e vestirem

Encostei a minha formosura no ombro da suave árvore
Como um viajante muito cansado
transpirando o africano calor
do ardente opressor
Deitei-me olhando o céu
Adormeci e acordei antes da lua se despedir

O meu país ficou independente
Antes vivia com um branco, depois casámos
Só os nomes que me chamaram!

Quando o pensamento é incómodo
as portas da censura e do racismo abrem-se
Atirámos os livros para o lixo alegando que estavam serviçais
do imperialismo e do capitalismo
não serviam o comunismo
Andámos, andámos e não parámos
tentámos a alfabetização, caímos na solidão

Sou algures no país do nenhures
Dizem-me que sou como as moscas
a sobreviver
Como os restos da comida que me enviam
Sou o povo que votou na continuação
no esquecimento da escravidão

Não sei nem posso adivinhar
A minha deusa não desperta
do espelho sem imagem
Não voltarei a escutar a sua voz
Profundamente
algemada na margem do capim verde
do rio com peixe petroleado
e na superfície da água do mar

As ruínas dos confrontos militares
eram aos milhares
Lutamos para erguer, reconstruir
prosseguimos sem conseguir
Perdemo-nos no tempo das ideologias
Chumbámos nos exames das democracias
Não são lendas urbanas, é a realidade
do rei, do chefe real sacana

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