segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Albert Camus. O berbere, então, perdendo a terra, tornou-se o proletário rural, caindo na miséria.




II - A Argélia

A Argélia é um país situado ao norte da África, ocupando uma área total de 2.381.741 km2, a maior parte situada no Deserto do Saara. Sua população se distribui por um relevo formado principalmente pelo deserto e pela Cadeia do Atlas. Nos anos próximos a 1960 a população constitui-se de uma grande maioria de árabes e berberes, correspondendo os europeus (sobretudo franceses) a somente 10% do total. O idioma oficial é o árabe, sendo o francês a principal língua estrangeira falada no país. Dialetos berberes sobrevivem na Kabilia Ocidental, nas montanhas e entre os tuaregues. Os berberes tem preservado sua cultura e costumes de povo montanhês, ao passo que o árabe era mais voltado ao trabalho de pastoreio e era considerado um povo nômade. A parte oriental é de domínio típico do berbere; já a porção ocidental, mais seca, é caracteristicamente árabe. O islamismo é a religião majoritária.

http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html

Argel, a capital, têm uma população estimada em 943.142 habitantes em 1966. Nos anos 60 a Argélia possuía duas universidades, a de Argel (1879) e a de Oran (1967). Em 1949, as escolas primárias para franceses e muçulmanos foram fundidas num só sistema, porém em 1958, apenas 12% das crianças de todas as comunidades estavam matriculadas. O território da atual Argélia chegou a ser no século XVI o centro do império otomano na África do Norte. As populações tribais mantiveram suas culturas ao permanecerem no interior da Argélia, pois a dominação otomana ocorria principalmente nos meios urbanos.

No século XIX a Argélia foi invadida pela França. Através da tática de criar colônias agrícolas militares que seriam bases de provisões junto às áreas de luta, os franceses procuraram minar a resistência nativa, destruindo a agricultura árabe em razias com uma violência que não poupava nem mulheres e crianças. Apesar do bombardeio e pilhagem das aldeias, os berberes, sob a liderança de Kader [2] , não se renderam, e foram expulsos para o sul. Kader foi preso na fronteira com Marrocos em 1847, quando franceses apoiados na antiga administração turca defenderam a participação árabe no governo, iniciando-se uma fase de “respeito” às instituições locais. Em 1845, embora persistisse a insegurança, 40.000 colonos franceses haviam se estabelecido na Argélia. Em 1850 já era de 110.000 o número de colonos, entre franceses, italianos e espanhóis. O berbere, então, perdendo a terra, tornou-se o proletário rural, caindo na miséria.

O governo de Napoleão III foi marcado por uma forte militarização na Argélia e quebrou o sistema de propriedade tribal nativa, fixando árabes e berberes em minifúndios e aumentando a miséria dos agricultores. Em 1870, a região da Kabilia revoltou-se. Reprimida a insurreição, os colonos franceses apossaram-se de 500.000 hectares em detrimento da população árabe. No início do século XX, 1918, um grupo de intelectuais árabes, “os Jovens Argelinos” se organizam baseando-se em idéias nacionalistas, reivindicando melhorias para a população árabe. Nos anos 30 já se falava em supressão do governo francês e igualdade entre nativos e europeus, mas foi após a II Guerra Mundial que os problemas argelinos agravaram-se, pois, na medida em que a França deu aos colonos o direito de se estabelecerem nas melhores terras, quando mais de 1.500.000 famílias berberes não possuíam terras, provocou êxodo rural e miséria, agravando-se os problemas nas áreas metropolitanas e fazendo com que um décimo da população vivesse, então, da caridade pública. Nesse ambiente surge a chamada “Questão Argelina”, um dos maiores problemas internacionais do pós-guerra. Em maio de 1945 houve uma grande chacina de civis argelinos por soldados franceses, no massacre de Setif. A repressão francesa é intensa, militares admitem entre 6 e 8 mil mortos, nacionalistas falam de quarenta a cinqüenta mil. Em 1º de novembro de 1954, foi anunciada oficialmente a revolução argelina.

Imagens: Campa de Albert Camus: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
Chefes da FNL que assinaram a declaração de "insurreição de 1o de novembro de 1954", na Argélia. Em pé: da direita à esquerda: Rabah Bitat, Mostefa Ben Boulaid, Didouche Mourad e Mohammed Boudiaf. Sentados: Krim Belkacem e Larbi Ben M'Hidi.
http://images.google.pt/

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