terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Epopeia das Trevas (68). Que triste final acreditar sempre na invenção dos homens



Neste lado deste lago estou
na ansiedade do peixe sem água
A sua mágoa nadou na noite fria, lamento-lhe o chorar
Porque não me limpam o meu mar de lágrimas?!

O meu amor negro trocou-me por uma branca
por outro amor
Aguardo exausta que Job me recompense
Que ouvirei os anjos no céu cantar
Que estarei muito perto deles como aqueles
Que acreditaram em mim e fugiram do desprezo
Como farão todos os que esperavam o fim da escravidão
Que aparece, perece, parece
que só depois da morte

Que triste final acreditar sempre na invenção dos homens
Um não! São muitos lobos disfarçados
Mas onde estás tu? Porque não me dás uma esperança?
Basta uma ténue recordação para ousar ser feliz
A verdade é como os restos de um espelho
Que restou do construir, e assim nos ensinaram
a desistir, a destruir
Só nos reconhecemos quando estamos frente das suas ruínas

A vida é um forte distúrbio anseio alcoólico
Foge toldada do suave e abrupto nevoeiro do palmar
Onde os álcoois perseguem a nossa existência
Os vapores são intensos, agradáveis intentos
Se conseguimos despertar, despeitados e frustrados abismamos
Na invasão do torpor, do clamor. Medíocre, logo existo!
Da vitória universal: bêbados de todo o mundo, uni-vos!

A proa da neblina não se rompe, recomeçam as nuvens neuronais
da existência, da angústia como veículos na cidade sem luz
Com apenas os seus faróis encandeados em movimento
Como jasmins amarelecidos tentando reencontrar a seiva perdida
da vida
Sombras escondidas das noites perdidas
Não há dias, apenas monumentais estátuas estáticas sem alvorecer
Nos olhares vazios, inchados do silêncio perdido algures
Este é o mar, o nosso navegar dos petroleiros alcoólicos

Como a dificuldade de obter a simplicidade
Da aragem silenciosa da flor-de-Diana
Natureza abandonada aos fogos florestais
Verde-cinza sem ondulação, no sonolento sol dos dias sem fim

O rejuvenescer para envelhecer, nascer para recomeçar
morrer sem transformar o que nos rodeia
Aprisionados na cor da nossa dor

Folhas de palmeira pesadas dobradas pelo verde da dor
E o tempo não é eterno
Na tragédia da noite pedi a Deus que me inspirasse
Mas, olhar? Sim! As paredes de casa têm fissuras
por onde a minha liberdade
pode espreitar

Sem comentários: