quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Albert Camus. Para se ter uma idéia, os franceses estavam mais enraizados na Argélia, do que os portugueses em Angola




“Descemos em Dacar à noite, grandes negros, admiráveis em sua dignidade e elegância, em suas longas túnicas brancas, as negras com roupas antigas, de cores vivas, o cheiro de óleo de amendoim e de excremento, a poeira e o calor. São apenas algumas horas, mas reencontro o cheiro de minha África, cheiro de miséria e de abandono, aroma virgem e ao mesmo tempo forte, cuja sedução eu conheço.” (CAMUS, 1997: 53)

http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html

A dualidade de sentimentos em relação a África significará um embate pessoal e uma sensibilidade especial para com os povos africanos e descendentes. Novamente em seu diário de viagem, agora discorrendo sobre uma danceteria popular no Rio de Janeiro Camus escreve: “Nada diferencia esse dancing de mil outros pelo mundo afora, a não ser a cor da pele. A esse respeito, observo que tenho que vencer um preconceito inverso. Amo os negros a priori e fico tentado a ver neles qualidades que não têm...” (CAMUS, 1997: 78)

Enfim, parafraseando Edward Saïd afirmando que a obra de grandes escritores ocidentais não foge à mentalidade colonial, talvez seja mais justo afirmar que Camus foi antes de tudo um romancista, um poeta da realidade, e teve muita dificuldade em escolher entre dois mundos diversos, porém inerentes à sua formação identitária. Para Camus a riqueza de estar entre duas culturas, ser argeliano e francês, gerou belíssimas composições literárias, mas também muita culpa e angústia.

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e Coordenadora do Curso Preparatório Milton Santos, da Associação União e Consciência Negra de Maringá.
http://www.espacoacademico.com.br/013/13cpraxedes.htm



Bush revelou numa entrevista recente que, aconselhado por Henry Kissinger, estava lendo o livro de Alistair Horne, sobre a guerra da Argélia, A Savage War of Peace – Algeria 1954-1962.
Alistair Horne é um celebrado autor e historiador inglês especializado na história contemporânea francesa. Seu livro, publicado em 1978, é meio datado. Não toma em conta novas pesquisas, elaboradas com testemunhos argelinos e franceses, e documentos oficiais tornados públicos mais tarde (nos estudos de história recente, a renovação das fontes documentais pode envelhecer um livro rapidamente). Mas é uma obra importante.
Porém, achei estranhas algumas ilações feitas à partir do livro, comparando a situação dos franceses na Argélia, nos anos 1950, com a dos americanos no Iraque. Maureen Dowd tratou o tema de maneira irônica, ontem, no New York Times (reservado aos assinantes, mas achei outro link).
Há, é claro, a idéia central de Horne: uma guerra pode ser ganha militarmente e perdida politicamente. Mas isto já estava explicado no grande filme de Giulio Pontecorvo, A Batalha de Argel (1965), o qual tem sido mostrado aos militares americanos envolvidos no Iraque.
Quanto ao resto, tudo separa a Argélia, colônia de povoamento francesa desde de 1830, do Iraque atual.
Para se ter uma idéia, os franceses estavam mais enraizados na Argélia, do que os portugueses em Angola, onde haviam chegado em 1575. Em 1900, já havia cerca de 400.000 colonos franceses na Argélia. Na mesma época, Angola contava somente 10.000 colonos portugueses.
Assim, a guerra da Argélia se desenrolava num contexto colonial e histórico muito mais profundo que o da guerra do Iraque. Mal comparando, numa situação de ficção histórica, seria como se os chicanos do Texas (independente do México em 1836 e anexado pelos EUA em 1845), mantidos num estatuto colonial mas dotados de uma maioria demográfica, tivessem desencadeado em 1954 um luta de independência contra os colonos americanos.
http://sequenciasparisienses.blogspot.com/2007/01/angola-arglia-texas-e-iraque.html


Vou deixar algumas comparações entra a Guerra Colonial portuguesa e a Guerra da Argélia, agora tirem as suas conclusões porque além da dureza dos combates há muitas mais variantes que podem dificultar uma guerra deste género.

Portugal teve uma grande vantagem em relação aos franceses que foi poderem aprender como lutar uma guerra de guerrilha antes de ela acontecer e adaptar o seu exército a esse estilo ainda antes da guerra, enquanto que os franceses tiveram que aprender durante a guerra e por eles proprios, apesar de terem sido muito lentos visto já terem combatido na Indochina durante 8 anos e continuarem com o mesmo sistema de guerra convencional no inicio da Guerra da Árgélia, só durante esta guerra é que os franceses mudaram o esquema de forças para combater guerrilhas.

A distância das colonias portuguesas a Portugal era muito maior do a distância da Árgélia à França, Luanda fica a 7.300km de Lisboa, Bissau a 3.400km e a cidade da Beira que era onde se encontrava a principal Base Aérea fica a 10.300km de Lisboa, enquanto que para os franceses chegarem a Árgélia apenas tinham que atravessar os 800km do Mar Mediterrâneo. Além disso Angola, Moçambique e a Guiné ficam muito longe também umas das outras, da Guiné até Angola são mais de 4.000km e de Angola até Moçambique são 3.000km. Enquanto os Franceses tiveram só uma guerra e podiam aplicar toda a sua atenção só na Argélia, Portugal teve 3 guerras ao mesmo tempo e tinha que dividir os seus recursos pelas 3 colónias.
Imagem: Albert Camus com a esposa.
http://blog.syracuse.com/shelflife/2007/11/camus.jpg
Imagem do jornal. http://www.jblog.com.br/media/56/20070702-030762a.pdf.jpg

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