Luanda - Enquanto no hospital
pediátrico Manuel Bernardino, de Luanda, morrem diariamente dezenas de crianças
por falta de medicamentos básicos como soro fisiológico, anti-palúdicos e
anti-diarreicos, alguns angolanos julgando-se pré-destinados para a riqueza
zombam desavergonhadamente da desgraça da maioria dos seus concidadãos, principalmente
dos pais que perderam os seus filhos.
* Carlos Duarte
Fonte: Makaangola.org
Foi isso o que aconteceu no passado dia 6 de
Abril, Sexta-feira santa, dia em que os cristãos reflectiam sobre a paixão de
Cristo. Na noite de véspera, a Direcção de Operações de Voo (DOV) da Sonair
mobilizou às pressas uma tripulação para uma viagem a São Paulo (Brasil).
Depois de muito negociar com tripulantes e pilotagem, relutantes em prestar
serviço num dia feriado e para um voo não planeado, a duras penas se conseguiu
compor um grupo para a viagem.
Todo esse esforço não era para transportar um
doente em estado grave ou uma delegação governamental mandada às pressas
resolver um assunto de Estado inadiável. Os oficiais do DOV da Sonair suaram as
estopinhas para que dois passageiros pudessem satisfazer o seu capricho que
emana de uma “riqueza pornográfica”, expressão usada várias vezes pelo líder do
Bloco de Esquerda do parlamento português, Francisco Louçã, para caracterizar a
forma como a elite política angolana enriqueceu da noite para o dia.
O passageiro era nada mais nada menos do que o general Leopoldino “Dino” Fragoso do Nascimento, um dos filhos de um honrado explicador de ensino primário, de seu nome Manuel Maria, muito conhecido nos subúrbios de Luanda dos anos 60 e 70 pelos métodos duros e eficientes que usava no processo de ensino.
O general Dino Fragoso pôs-se num dos luxuosos aviões executivos Falcon 7X da Sonair (muitas vezes usados pelo PCA da Sonangol) para passar a Páscoa em São Paulo, acompanhado da filha de sete anos. O general é uma das figuras mais próximas do círculo restrito do Presidente José Eduardo dos Santos, exercendo actualmente o cargo de conselheiro principal do ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, General Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”. Até recentemente e durante longos anos, foi chefe das Comunicações da Presidência da República. É considerado como um dos angolanos mais ricos da actualidade, devido à sociedade que partilha com os ministros de Estado Manuel Vicente e General Kopelipa em negócios de petróleo por via das empresas Nazaki Oil and Gás (Blocos 9 e 21), Dark Oil, o grupo Medianova, no sector da comunicação social, e uma miríade de investimentos em Angola e no exterior do país resultantes da gestão arbitrária e para proveito pessoal de centenas de milhões de dólares da Sonangol, do Gabinete de Reconstrução Nacional que se encontrava sob tutela da Casa Militar, bem como das linhas de crédito da China. O general Dino Fragoso há anos que também acumula as funções de presidente da Assembleia-Geral da Unitel, na qual é sócio.
O General Dino tem servido, na sua carreira profissional, como militar destacada na Presidência da República, onde os salários são modestos. Não há memória que o seu finado pai ou a sua família lhe tivesse deixado herança bastante para, nos tempos livres construir tamanha fortuna.
Mais grave do que isso, é que no dia do regresso a Luanda e com a tripulação já na aeronave pronta para a descolagem, dos ilustres passageiros nem a sombra apareceu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Preocupados com a perda do “slot” (a vez de descolagem em função da hora solicitada à torre de controlo), um elemento do grupo telefonou ao general ao que este respondeu:“Apanhem-me no Rio de Janeiro”. A tripulação teve de alterar o seu plano de voo para recolher o general no Rio de Janeiro e daí prosseguir viagem para Angola.
Independentemente de quem tenha pago as avultadíssimas despesas do voo e os custos com a hospedagem da tripulação – o avião parqueou três dias no aeroporto de Congonhas –, a exibição de poder do filho do explicador foi despropositada e despudorada, uma vez que de Luanda para o Brasil há sete voos por semana, sendo dois (Quintas e Domingos) para o Rio de Janeiro e os restantes para São Paulo.
Para o general Dino Fragoso, a primeira classe já nem sequer serve o seu ego de novo-rico, inchado por uma fortuna que terá, a seu tempo, de explicar aos angolanos
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