A sociedade
abaixo retratada só acontece por carência de cultura. Quem se sentir
responsável por tal pobreza cultural ponha a mão na consciência que o resgate
durará gerações...
“Em nenhum
outro país os ricos demonstram mais ostentação como em Angola”. Apesar disso,
os Angolanos ricos são pobres. São pobres porque compram sofisticados
automóveis importados, com todos os exagerados equipamentos da modernidade, mas
ficam horas engarrafados ao lado dos autocarros e candongueiros do subúrbio. E,
às vezes, são assaltados, sequestrados, abusados e violentados no trânsito.
Presenteiam
belos carros a seus filhos e não voltam a dormir tranquilos enquanto eles não
chegam a casa. Pagam fortunas para construir modernas mansões, desenhadas por
arquitetos de renome, e são obrigados a escondê-las atrás de muralhas, como se
vivessem nos tempos dos castelos medievais, dependendo de guardas que se
revezam em turnos.
Os ricos
angolanos usufruem privadamente tudo o que a riqueza lhes oferece, mas vivem
encalacrados na pobreza social. Na sexta-feira, saem de noite para jantar em
restaurantes tão caros que os ricos da Europa não conseguiriam frequentar, mas
perdem o apetite diante da pobreza que ali por perto arregala os olhos pedindo
um pouco de pão; ou são obrigados a restaurantes fechados, cercados e
protegidos por policiais privados.
Quando
terminam de comer escondidos, são obrigados a tomar o carro à porta, trazido
por um manobrista, sem o prazer de caminhar pela rua, ir a um cinema ou teatro,
depois continuar até um bar para conversar sobre o que viram. Mesmo assim, não
é raro que o pobre rico seja assaltado antes de terminar o jantar, ou depois,
na estrada a caminho de casa. Felizmente isso nem sempre acontece, mas
certamente, a viagem é um susto durante todo o caminho. E, às vezes, o
sobressalto continua, mesmo dentro de casa.
Os ricos
Angolanos são pobres de tanto medo. Por mais riquezas que acumulem no presente,
são pobres na falta de segurança para usufruir o patrimônio no futuro. E vivem
no susto permanente diante das incertezas em que os filhos crescerão.
Os ricos
angolanos continuam pobres de tanto gastar dinheiro apenas para corrigir os
desacertos criados pela desigualdade que suas riquezas provocam: em insegurança
e ineficiência. No lugar de usufruir tudo aquilo com que gastam, uma parte
considerável do dinheiro nada adquire, serve apenas para evitar perdas.
Por causa da
pobreza ao redor, os angolanos ricos vivem um paradoxo: para ficarem mais ricos
têm de perder dinheiro, gastando cada vez mais apenas para se proteger da
realidade hostil e ineficiente.
Quando
viajam ao exterior, os ricos sabem que no hotel onde se hospedarão serão vistos
como exploradores de crianças nas Lundas, destruidores da Floresta do Maiombe
em Cabinda, usurpadores da maior concentração de renda do planeta, portadores
de malária, de paludismo e de filaria. São ricos empobrecidos pela vergonha que
sentem ao serem vistos pelos olhos estrangeiros.
Na verdade,
a maior pobreza dos ricos angolanos, está na incapacidade de verem a riqueza
que há nos pobres. A pobreza de visão dos ricos impediu também de verem a
riqueza que há na cabeça de um povo educado.
Ao longo de
toda a nossa história, os nossos ricos abandonaram a educação do povo,
desviaram os recursos para criar a riqueza que seria só deles, e ficaram
pobres: contratam trabalhadores com baixa produtividade, investem em modernos
equipamentos e não encontram quem os saiba manejar, vivem rodeados de
compatriotas que não sabem ler o mundo ao redor, não sabem mudar o mundo, não
sabem construir um novo país que beneficie a todos.
Muito mais
ricos seriam os ricos se vivessem em uma sociedade onde todos fossem educados.
Para poderem usar os seus caros automóveis, os ricos construíram viadutos com
dinheiro de colocar água e esgoto nas cidades, achando que, ao comprar água
mineral, se protegiam das doenças dos pobres.
Esqueceram-se
de que precisam desses pobres e não podem contar com eles todos os dias e com
toda saúde, porque eles (os pobres) vivem sem água e sem esgoto. Montam
modernos hospitais, mas tem dificuldades em evitar infecções porque os pobres
trazem de casa os germes que os contaminam. Com a pobreza de achar que poderiam
ficar ricos sozinhos, construíram um país doente e vivem no meio da doença.
Há um grave
quadro de pobreza entre os ricos angolanos. E esta pobreza é tão grave que a
maior parte deles não percebe. Por isso a pobreza de espírito tem sido o maior
inspirador das decisões governamentais das pobres ricas?Elites? Angolanas. Se
percebessem a riqueza potencial que há nos braços e nos cérebros dos pobres, os
ricos angolanos poderiam reorientar o modelo de desenvolvimento em direcção aos
interesses das nossas massas populares.
Libertariam
a terra para os trabalhadores rurais, realizariam um programa de construção de
casas e implantação de redes de água e esgoto, contratariam centenas de
milhares de professores e colocariam o povo para produzir para o próprio povo.
Esta seria uma decisão que enriqueceria ANGOLA INTEIRA - os pobres que sairiam
da pobreza e os ricos que sairiam da vergonha, da insegurança e da insensatez.
Mas isso é
esperar demais. “Os ricos são tão pobres que não percebem a triste pobreza em
que usufruem suas malditas riquezas”.
Angola NP
ANGOLA24HORAS.COM
2 comentários:
Podia informar que esse texto é do brasileiro Cristovam Buarque, feito para o Brasil, e foi adaptado a Angola... era mais decente...
...é que são tão pobres os nossos intelectuais angolanos, não sei se de esquerda se de direita, que se fartam de reclamar, mas não têm capital cultural e criativo para criar os seus próprios textos de reivindicação, limitando-se a copiá-los...
´claro que não creio muito que esta minha observação seja publicada, mas cá fica...
...em tempo: gosto muito de locais onde os comentários precisam de ser "aprovados pelo proprietário(?) do blogue", para o caso de conterem algum inconveniente contraditório...
...ó triste democracia esta onde até os "democratas anti-ditadura" temem ser contrariados...
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