Maputo
(Canalmoz) – Escândalos bilionários voltam a manchar a banca internacional.
Cinco bancos pagam mais de 4,5 mil milhões e as investigações prosseguem.
Inevitáveis
e vãs como um voto de abstinência numa manhã de ressaca, as promessas de
moralização, autodisciplina e regulação que bancos e supervisores fizeram após
a explosão da crise de 2008 parecem ter caído em saco roto. O ano de 2012 fica
marcado por vários casos de polícia envolvendo algumas das maiores casas da
finança internacional.
O
escândalo de manipulação da taxa interbancária Libor é o que mais bancos
atinge. HSBC, Royal Bank of Scotland e Barclays do Reino Unido, Citigroup e JP
Morgan dos Estados Unidos, Deutsche Bank da Alemanha e UBS da Suíça, entre
outros, são suspeitos de apresentarem estimativas artificialmente reduzidas dos
juros que pagam para emprestarem dinheiro entre si, dados que são compilados
pela Associação Britânica de Banqueiros (ABB) para estabelecer o valor da
Libor, equivalente britânico da Euribor. Desta forma, tentaram apresentar uma
falsa imagem de saúde financeira perante os nervosos mercados, mas o
estratagema visava também um lucro rápido para os bancos e para vários dos seus
administradores.
As
investigações do Departamento de Justiça dos EUA e dos reguladores britânicos,
suíços e nipónicos indicam pagamentos de subornos e falsificação de documentos.
Até ao momento, UBS e Barclays são os bancos mais castigados. A instituição
suíça aceitou pagar este mês uma multa recorde de 1,1 mil milhões de euros para
arquivar o processo internacional de que é alvo. O Barclays pagou 340 milhões,
foi penalizado pelas agências de rating e viu os seus CEO e chairman
apresentarem a demissão e responderem perante o Parlamento britânico. Dois
correctores britânicos implicados no caso, Tom Hayes e Roger Darin, poderão
ainda responder em tribunal nos EUA, que requerem a sua extradição.
A
Libor, a que estavam indexadas trocas globais de um total de 275 biliões de
euros, perdeu o seu estatuto de taxa de referência e a ABB deixou de estar
responsável pelo seu cálculo.
Na
Europa Continental, as atenções viram-se agora para a Euribor. Segundo o Wall
Street Journal, a Comissão Europeia investiga o lóbi bancário do Velho
Continente por suspeitas de manipulação daquela taxa. Société Générale, Crédit
Agricole, Deutsche Bank e HSBC são referidos como possíveis implicados. Na
Ásia, os reguladores sul-coreanos, japoneses e singapurenses também investigam
um caso similar ao que eclodiu na City londrina.
Terroristas e traficantes
O
HSBC também protagonizou outro dos escândalos financeiros do ano. O banco
britânico admitiu este mês que permitiu inadvertidamente que barões do
narcotráfico mexicano depositassem e lavassem milhares de milhões de euros
naquela instituição durante a década passada. Se tal resultou da ausência de
mecanismos de controlo ou de conluio criminoso é algo que nunca se apurará
cabalmente – o banco pagou 1,4 mil milhões de euros aos reguladores
norte-americanos para encerrar o caso. No Reino Unido, o caso ganha especial
relevância política, já que o actual ministro conservador para o Investimento e
Comércio Stephen Green liderava o HSBC à altura dos factos.
Também
o britânico Standard Chartered pagou 500 milhões nos EUA para arquivar um processo
em que era suspeito de ter violado sanções internacionais através do
financiamento de entidades iranianas.
Na
Alemanha, os arranha-céus que albergam a sede do Deutsche Bank em Frankfurt
foram visitados duas vezes em Dezembro do ano passado por centenas de agentes
da polícia e de inspectores do fisco germânico. Numa das rusgas às torres
gémeas, quatro pessoas foram detidas por eliminar milhares de emails e registos
requeridos pela justiça. São vários os escândalos que abalam o maior banco
privado alemão. Três antigos funcionários declararam recentemente aos
reguladores norte-americanos que a instituição escondeu perdas de 9,2 mil
milhões de euros para escapar a um resgate estatal – o Deutsche Bank nega a
alegação. As autoridades investigam ainda um esquema de fraude fiscal em
carrossel que envolverá o banco e várias empresas através da troca de créditos
de emissão de dióxido de carbono. O Estado germânico terá sido lesado em
centenas de milhões de euros. Ainda em Dezembro do ano passado, a justiça alemã
condenou ainda o banco a indemnizar os herdeiros do falecido e falido magnata
dos media Leo Kirch numa soma de até 1,5 mil milhões de euros pelo seu papel no
colapso financeiro do grupo Kirch.
Acusando
a pressão da polícia e do fisco, o co-presidente do banco, Jürgen Fitschen,
telefonou ao primeiro-ministro do Estado germânico de Hesse a condenar a
actuação indiscreta das autoridades. A conversa terminou nas páginas da Der
Spiegel, e agora é a classe política alemã que ataca a cúpula dirigente do
Deutsche Bank.
Em
Frankfurt, Londres ou Nova Iorque, os grandes banqueiros repetem mais uma vez
promessas de uma reflexão sobre os erros cometidos, de colaboração com a
justiça e de criação de novos mecanismos de controlo. Mas, e também mais uma
vez, cidadãos, políticos e analistas dão pouco crédito às suas palavras. (Sol.pt)
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