domingo, 13 de janeiro de 2013

Tragédia no evento da IURD provoca debate sobre causas da sua popularidade


Crescente pobreza, desigualdade e "falsas promesssas e expectativas" atraiem angolanos para o "evangelho da prosperidade", dizem analistas
Arão Ndipa VOA
A pregação do evangelho da prosperidade, por parte de muitas seitas religiosas em Angola, está a preocupar alguns membros da sociedade civil em Luanda, depois da tragédia que envolveu fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, cujas causas ainda não foram esclarecidas pela polícia nacional.

​​Até agora ninguém assumiu responsabilidade pelo que terá falhado no evento de 31 de Dezembro.

O presidente José Eduardo dos Santos nomeou uma comissão de inquérito para investigar a tragédia.

O comandante da polícia disse que o número de pessoas que se deslocaram ao estádio da cidadela tinha sido muito superior ao previsto pela própria igreja.

Várias pessoas teriam morrido asfixiadas nas entradas do estádio, disse.

A adesão dos angolanos a seitas religiosas do género está a merecer comentários de diversos analistas.

O sociólogo João Paulo Ganga disse que o evangelho da prosperidade atrai jovens discriminados pela desigualdade social, pelo  seu franco poder de compra e a falta de esperança

Mas Paulo Ganga disse ser errado ligar a tragédia só à Igreja Universal do Reino de Deus.

“Isto também aconteceu quando o Papa esteve em Angola,” disse recordando que nessa altura morreram duas pessoas.

Para Ganga o acontecimento revela insuficiências na capacidade organizacional  desse tipo de eventos.

Contudo, disse, do ponto de vista sociológico há que saber o que leva “essas pessoas a aderirem em massa a um fenómeno como este”.

“Esse tipo de igreja prega o que chama de evangelho da prosperidade fazendo uma relação directa entre o cristianismo e a prosperidade,” disse.

“Como há na nossa sociedade cada vez menos poder de compra, cada vez há mais desigualdade, cada vez há menos esperança da juventude as pessoas são obrigadas a fazer fé nesse tipo de crenças,” acrescentou.

A lição disse é que “há cada vez maior pobreza, cada vez mais falta de esperança” pelo que as pessoas “agarram-se” a esse tipo de esperança.

“Essas religiões vão continuar a crescer,” disse.

Já o padre  católico Joaquim Lumingo disse que esperar da religião  e de Deus “apenas milagres” é um indicativo que as pessoas “não compreenderam o que é Deus”.

Lumingo avisou que “por detrás de promessas falsas e essa publicidade que cria falsas expectativas” está muitas vezes escondida “uma religião mal entendida ou então outros interesses de negócios para poderem arrecadar fundos”.

O padre Lumingo avisou do perigo dessasse tipo de religião “criar instabilidade social”.

O padre Lumingo descreveu o fenómeno como “uma fé cega sobretudo porque as pessoas deixam-se levar por promessas de pastores que não passam de charlatães  que têm como objectivo não tanto tocar o coração das pessoas , a vida das pessoas mas sim tocar o bolso das pessoas”.

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