quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Epopeia das Trevas (5)


Introdução
E tão habituados no poder de tantos crimes realizados. E os tribunais silenciados sentenciam inocentes condenados.

«O problema reside, sim, na qualidade dos docentes, que é muito discutível até aqui em Luanda. Para ter uma ideia do que se passa, digo-lhe apenas que sei de docentes que se ajoelham diante de estudantes, pedindo-lhes para não denunciarem a sua incompetência… Há-os, sim. E olhe que, hoje, alguns desses docentes sem o mínimo de competência dirigem departamentos e alguns outros já dirigiram até faculdades…»
In Paulo de Carvalho, sociólogo, em entrevista ao Semanário O PAÍS

E exigimos o preço do barril de petróleo a 70 dólares senão… emigramos para a Somália e vamos pirateá-los.
Quem promete a liberdade e depois no poder a retira, a enxovalha, é apenas um bando de canalhas. De seguida cria-se uma força militar, genuínas milícias, privatizada para protecção do eterno poder. A população espera-a a efémera liberdade do desemprego, da miséria e finalmente a morte pela fome.

Presumia-se, certificava-se que o mundo ficaria democratizado. Mas que vejo? Está tão despedaçado, tão tiranizado, tão triunfado. Então onde está, para onde foi a democracia? Paira por aí, algures violenta, virulenta. Por incrível que pareça as tiranias reforçam-se no fosso fétido, nos amantes das democracias bancárias do primeiro mundo.

E Luanda banalizou-se... em mais um país das inúteis conferências.

E tão habituados no poder de tantos crimes realizados. E os tribunais silenciados sentenciam inocentes condenados. Agora tenho este pesadelo de viver rodeado de tantos criminosos. Da maneira que as coisas estão e andam, Luanda está apenas apta para criminosos e assassinos. É fácil de imaginar o que sucederá nos dias vindouros.

Fazem as obras, destroem os passeios. Lavagem de carros na via pública, numa ode às águas que destroem o recentemente mal construído. Barulho de música o mais violento possível dia e noite. Baldes de águas imundas lançadas a esmo das varandas dos prédios. Incríveis invasões de mosquitos que nos perseguem dia e noite para chuparem o sangue que nos resta. Geradores que fumegam e nos assassinam lentamente e barulham dia e noite. Motas com escapes livres que imitam tiros, dia e noite. Conseguir descansar, dormir o suficiente é milagre. Vivemos num vasto curral de concentração de porcos. Não há lei, cada um dita a sua, particular. A lei da feitiçaria domina. Luanda não é um país, é mais um estado-falhado.

«Há muitas maneiras de matar um homem. Uma delas é não deixá-lo dormir. Estou convencida de que não morre por cansaço, mas porque não pode sonhar.»
Eugenia Rico in EL MUNDO

Tudo começa a ficar sob domínio estrangeiro. O que trará graves consequências para a corda bamba dos desempregados. Muitos estrangeiros opinam sobre Luanda a torto e a direito. E são motivo de chacota porque não entendem nada de Luanda, de África. Só falta colocar no poder um presidente estrangeiro. O que pelo mover dos tentáculos de momento, não surpreenderá.

Foto: Angola em fotos

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