sexta-feira, 15 de maio de 2009

História Universal (2)


O Rei David

Assim mesmo adaptaram as palavras semitas "assu" e "ereb" (Este e Oeste), convertendo-as em Ásia e Europa.

CARLOS IVORRA

Mais precisamente, parece ser que foram os cretenses quem adaptaram assim as palavras semitas, e os jónios as tomaram dos cretenses. A costa oriental do Egeu, juntamente com as ilhas, recebeu o nome de Jónia. Fundaram-se doze cidades na costa, a mais importante das quais era Mileto. Assim os gregos entraram em contacto com os frígios, que então dominavam quase toda a metade ocidental da Anatólia, mas não se opuseram à colonização grega. Ao contrário, sentiram-se atraídos pela sua cultura e mantiveram sempre relações amistosas. A sua capital mais importante era Gordion. Os gregos diziam que foi fundada por Gordias, que foi um camponês ao que Zeus designou para ser rei da Frígia mediante um oráculo.

A Grécia continental começava a conseguir certa estabilidade depois dos estragos da invasão dória. Hesíodo descreve a Grécia de três séculos mais tarde e fala de cabanas de adobe com uma única estância para homens e animais. Passa-se frio no inverno e calor no verão. Come-se grão, cebolas, queijo, leite e mel, mas não muito a miúdo. Há paludismo, e para fugir dele há que ir a colinas pedregosas, onde em seu lugar há fome. Não se podia comprar ou vender com ouro ou qualquer outra coisa que servisse de moeda. Para comprar um carro várias famílias tinham que juntar as suas reservas de grão. Periodicamente, os amos dórios vinham da cidade a requisitar parte da colheita, ou incluso parte dos homens, como soldados. Os nobres dórios levavam uma vida sóbria, mas mais suportável. Alguns homens encontraram uma nova forma de ganhar a vida: entretendo os seus amos com histórias antigas e não tão antigas. Naturalmente, não eram histórias sobre camponeses e as suas cabanas de adobe. Tratavam sobre heróis, reis e deuses. Assim, na Grécia foi surgindo uma das mitologias mais ricas da história, modelada em grande parte à conveniência dos novos amos.

Por exemplo, o triunfo dos dórios frente aos gregos micénicos teve a sua lógica contrapartida celestial: o deus principal da religião micénica era Cronos, mas foi abatido pelo deus principal dos dórios: Zeus, exactamente igual como Cronos deslocou no seu dia a deusa Gea. Naturalmente, o relevo do poder não podia dever-se a uma usurpação ilegítima. A lenda explicava que quando Cronos subverteu o seu pai Urano, este vaticinou que o mesmo lhe sucederia a ele. Para evitar a profecia, Cronos devorava os seus filhos tão pronto nasciam, mas a sua esposa Rea substituiu um deles por uma pedra, que o pai comeu sem apreciar a diferença. O filho que se salvou foi Zeus, quem, depois de uma série de vicissitudes, destronou o seu cruel pai e obrigou-o a regurgitar os seus irmãos (que seguiam vivos, porque eram imortais). Entre eles estava Hera (a que seria a sua última esposa), Poseidon e Hades. Os três irmãos repartiram-se o universo: Zeus ficou como rei dos céus, Poseidon como deus dos mares e Hades como deus do mundo subterrâneo dos mortos. Deles surgiria a nova geração de deuses gregos que gradualmente eclipsaria a dos anteriores (a pelásgica e a micénica).

Igual que os sumérios situaram os seus heróis míticos antes do dilúvio, agora os gregos situavam os seus na era micénica, a idade de ouro que precedeu a presente idade do ferro, como eles a descreviam. Na história mítica dos gregos, Europa converteu-se na primeira povoadora de Creta, mãe do rei Minos. Havia uma lenda que devia gostar especialmente aos dórios (se não é que foi integralmente desenhada para eles). Fazia referência a Hércules, filho do próprio Zeus e da rainha Alcmene, esposa do rei tebano Anfitrião.

(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.

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