sexta-feira, 22 de maio de 2009

História Universal (3)


O Rei David

Contavam-se muitas histórias sobre ele, que o convertiam no herói grego por excelência, mas o que agora nos ocupa faz referência aos seus (numerosíssimos) filhos, que resultaram ser uma horda de poderosos bandidos, os heráclidas.

CARLOS IVORRA

Um deles desafiou um por um os soldados que o rei de Micenas enviou para expulsá-los da Grécia. As condições eram que se ele vencesse a todos, os heráclidas governariam Micenas, enquanto que se perdesse saíria do país com todos os seus irmãos, que se comprometiam a não voltar ao menos até cinquenta anos mais tarde (isto é, nas pessoas dos seus filhos e netos). O caso é que perdeu, pelo que os heráclidas foram-se, mas à terceira geração, cumprido o pacto, voltaram e apoderaram-se da Grécia. Evidentemente, os netos dos heráclidas eram os dórios que, por conseguinte, ao invadir a Grécia não fizeram senão voltarem à terra dos seus antepassados. É a versão grega da terra prometida dos israelitas.

Enquanto aos israelitas, depois da morte de Saúl encontravam-se completamente à mercê dos filisteus. Não obstante, Abner, o que foi o principal general de Saúl, retirou-se com parte do exército levando consigo Isbóset, o único filho de Saúl que ficou com vida, e retirou-se do Jordão, longe da influência filisteia. Os reinos hebreus, sempre hostis aos israelitas, aproveitaram a circunstancia. Assim o reino de Moab absorveu totalmente a tribo de Rubén. Entretanto, David aproveitou a situação e convenceu os anciãos de Judá de que o proclamassem rei de Judá, e estabeleceu a sua capital em Hebrón, uma cidade fortificada a uns 30 quilómetros da capital filisteia de Gad. Ao contrário de Saúl, o rei David era um astuto diplomata, e soube convencer os filisteus de que debaixo do seu governo teriam um fiel títere de que jamais teriam que preocupar-se.

David teve sorte: Isbóset discutiu com Abner por causa de uma mulher e este enfadou-se até ao ponto de iniciar negociações com David para ajudar-lhe a derrubar o que foi o seu protegido. David exigiu a Abner que lhe entregasse Mical, a filha de Saúl que foi sua esposa antes de ver-se obrigado a fugir de Guibá. Sem duvida David compreendia a importância de poder apresentar-se como genro de Saúl na hora de reclamar o trono de Israel. Abner entregou-lhe Mical e pactuou com David. Possivelmente cedeu-lhe uma parte do exército israelita. Logo Joab, o general de David que fazia de intermediário, matou Abner à traição, teoricamente por uma vingança pessoal (pois Abner matou o seu irmão, ou ao menos isso disse Joab), mas é mais provável que seguisse ordens de David, para impedir que Abner pudesse voltar atrás e revelar o pacto a Isbóset. David lamentou publicamente a morte de Abner, mas Joab ficou no seu cargo.

Cada vez estava mais claro que a casa de Saúl decaía, enquanto David se fortalecia. Talvez isso moveu a dois oficiais de Isbóset a cortar a cabeça do seu rei e levá-la a David. Não seria descabido supor que David foi o indutor desta nova traição, mas oficialmente mostrou-se mais consternado ainda que com a morte de Abner. Segundo a Bíblia, mandou matar os dois assassinos, cortou-lhes as mãos e os pés e foram pendurados publicamente junto ao estanque de Hebrón. Agora Israel estava sem rei. Numa situação tão crítica, debaixo da dupla ameaça hebreia e filisteia, a necessidade de um rei forte era indiscutível, e o único candidato era David, o poderoso rei de Judá, genro de Saúl. Uma embaixada israelita foi recebida em Hebrón, onde suplicou a David que aceitasse reinar em Israel e ele aceitou. Era o ano 991.

(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.

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