quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Cavaleiro do Rei (19). Novela


- Não sentem cheiro a peixe?! Temos que tomar medidas. Estas cortesãs estão a ficar cada vez mais porcas! Meu Deus! Que horror! – Escandalizou-se a rainha.
- A mim cheira-me a vinho. – Aveludou o rei.
- Epok… fala com os nossos amigos para arranjarem um alcoómetro. Detesto nobres bêbados. – Sentenciou o rei.

Sua majestade ergue-se, toma posição imponente, omnipotente. Demora-se um sem sentido para a TV reinante. Realça-se nos penachos por si instituídos. Demora-se como habitualmente, naturalmente até o sono começar a agitar os celacantos no poder. Finalmente inicia o discurso de abertura:
- Vice-reis, marqueses e marquesas. Chefes dos Exércitos de Terra, Mar e Ar. Nobreza em particular.

Faz ar muito pensativo, meditabundo, como se os imensos problemas existentes fossem apenas invenção dos republicanos. Reata o discurso habitual, a ver se a comunidade internacional vai na conversa, se condescende algumas sobras.
- O reino da Dinamarca está pobre, podre, quero dizer, o meu reino cheira mal. As populações morrem à fome. Rouba-se às claras. A corrupção está pior que piranhas. Devoram tudo. Não deixam sobras para ninguém. Temos que investir seriamente em mais cemitérios condignos, para receber os mortos, os quais já perdemos a conta. Vamos acabar com isto já… em seis meses. O único emprego que podemos oferecer às massas, é carregarem qualquer coisa nas cabeças. Os republicanos ganham terreno a toda a hora. A manter-se esta situação seremos afastados do poder. Os republicanos triunfarão. Os incompetentes, preguiçosos, gatunos, devem abandonar imediatamente o poder…ou seremos esmagados.

O rei olha para a assistência, que parece um campo semeado e não regado, e prossegue:
- Temos que investir já na criação de muitos empregos. Construir fábricas… e não perdermos tempo e dinheiro com construções que a ninguém serve. Um investimento custa cem milhões de dólares. No fim pagam-se duzentos milhões. Quem fica com o resto? Os vice-reinos estão abandonados. Não sei se ainda existem. Porquê a teimosia de investir só na capital? Os republicanos no vice-reino de Cabinda somam e seguem. Com tanta terra que temos, ninguém é capaz de plantar. E os que o fazem desistem porque ninguém os apoia.

Não temos capacidade para reparar uma simples picada. Não se esqueçam que importar é roubar empregos. Com tanto peixe e marisco que existe no mar e nos rios a população passa fome. Será que alguém vendeu o mar e os rios? Já não nos pertencem? Não me surpreenderia. Estamos a vender tudo… a vender-nos. Os combatentes e veteranos das sobras da guerra, lamentam-se da falta de apoios. Chegou-me ao conhecimento que um antigo combatente estrangeiro, que nos ajudou muito, um grande patriota, agora é tratado de colono. Estamos a ser maldosos. Só fazemos maldades.

Tornámo-nos num reino sem ciência. Estamos a formar analfabetos. Somos inimigos dos livros. Nem uma cantina conseguimos gerir. O comércio está todo nas mãos de estrangeiros. Vendem-nos o que nos seus reinos não consomem. A nossa comunicação social não transmite a realidade do reino. Os privados passam-nos à frente. A rádio dos republicanos se emitisse para todos os vice-reinos seria a nossa desgraça. A nossa mala-posta, correios e telecomunicações, diariamente pregam-nos cada partida, que chego a pensar em utilizar pombos-correios, ou um sistema adequado de tambores, com repetidores, para envio de mensagens.

O exército de terra deixa entrar, conluiem-se com estrangeiros que invadem o reino. Já são milhares. A recolonização está próxima é uma vitória certa. Na educação não educamos. Destruímos as escolas existentes, fingimos que temos ensino. Basta ver quantas bibliotecas temos. Não conseguimos que haja o gosto pela leitura. Contudo somos um país de poetas. Somos todos poetas, advogados, economistas, doutores. Para construir uma escola, gasta-se o dobro, o triplo. Esbanjamos o tesouro real. Convencidos que o líquido negro dura toda a vida. A água para passar nas canalizações, primeiro precisa de as rebentar.

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