terça-feira, 26 de maio de 2009

O Cavaleiro do Rei (20). Novela


Aqui também metemos muita água. Das mulheres abandonadas não é preciso falar. Basta olhar para as ruas dia e noite. As nossas Finanças não estão interessadas no trabalho dos contabilistas competentes. Com receio que eles desvendam os nossos segredos. Também quase nenhuma empresa, na verdadeira acepção da palavra, existe.

Na realidade são empresas de aventureiros, que exploram os trabalhadores e violentam as trabalhadoras. Nas nossas Minas Gerais, parece que não se sabe a quem pertencem, estrangeiros invadem-nas impunemente. É o regresso ao eldorado. São exércitos dos diamantes. A nova colonização na grande corrida ao oiro do Klondike.

Ainda não conseguimos desenvolver o turismo. Apesar dos locais serem obras-primas da natureza. O que fizemos até agora foi praticamente reconstruir os hotéis que existiam. Foram entregues a rapinadores que praticam preços, que só uma minoria suporta… Investimos para as minorias. A única industria que funciona é o liquido negro. Chega e sobra-nos muito bem. Além das pedras, que funciona mais ou menos, não necessitamos de mais nada.

A nossa justiça funciona muito lentamente. Quero dizer que os magistrados andam a pé. Isto é para evitar que a nossa justiça corra. A juventude tem o melhor que há no reino. Devemos investir mais nas maratonas. Nada de livros, para que não sejam desviados dos nobres objectivos que pretendemos. As obras do reino e a urbanização estão melhores que nunca. Basta passear nas ruas e observar a sua beleza de autor psicadélico.

No planeamento lembram-nos sempre que faltam os planos. Podemos afirmar que vivemos num reino de líquido negro. Infelizmente não chega para todos. Ainda ninguém conseguiu descobrir porquê. Acredito que um dia isso será possível. Na reinserção social, apesar do controlo estrangeiro, não conseguimos reinserir ninguém. Nunca ninguém me explicou porquê. Nas relações com os outros reinos, apenas conseguimos obter más relações. Ninguém gosta de nós. Temos que mudar os dinossauros das embaixadas, e colocar gente jovem. Mas que não sejam republicanos.

A saúde está muito bem como está. No reino todos nascem doentes. Para quê construir hospitais, se todos procuram curandeiros e feiticeiros? Os transportes não são necessários para ninguém. Exceptuando a nobreza, a quem mais servirão se não temos estradas, e não produzimos nada? Em relação à habitação, limitamo-nos a partir o que a plebe constrói. Em cima das árvores podemos fazer belas casas. Regressar às nossas tradições. Sigamos, reforcemos o exemplo do reino do Zimbabué. Partir tudo o que é casario.

Os nossos juízes do nosso Tribunal Supremo são as pessoas competentes para nos julgarem. Não entendo porque não o fazem. A população está cansada, martirizada do vermelho e preto. Mas com a ajuda chinesa o nosso vulnerável líquido negro vai longe, venerado. Nos próximos tempos no nosso reino, um salmo chinês será cantado.

Que viva para sempre a tristeza. A nossa felicidade é ver toda a gente triste. De vez em quando nas vossas intervenções públicas digam assim: a nossa luta actual é acabar com a fome. Isso agrada à comunidade internacional. A bandeira do nosso coração saiu… está no pau.
Nobres, declaro abertas as Cortes Reais!

Imagem: semanário AGORA
«Dêem tudo à criança o que ela merece». Conforme a propaganda governamental.

Sem comentários: