quarta-feira, 27 de maio de 2009

História Universal (4). O Rei David


A Bíblia chama Israel o reino de David, mas na realidade nunca foi um reino unido.

CARLOS IVORRA

Constava por uma parte de Israel propriamente dito, que ocupava os dois terços setentrionais do território, e do reino de Judá, na parte sul. Os israelitas nunca acabaram de considerar Judá como parte do seu povo. A Bíblia esforça-se por ocultar este facto porque foi escrita por judeus, mas o ver-se obrigados a recorrer a um rei judeu deveria ser humilhante para os israelitas. David era consciente sem dúvida destes problemas e empregou toda a sua diplomacia em dissimulá-los. A sua primeira medida foi cambiar a capital (os israelitas não toleraram muito tempo serem governados desde o centro de Judá). A cidade ideal era Jerusalém. Estava situada na fronteira entre ambos territórios, era uma cidade amuralhada fácil de defender. Esta era por sua vez a sua maior virtude e o seu maior inconveniente: Jerusalém era tão fácil de defender que israelitas, judeus e filisteus nunca puderam conquistá-la. Continuava em poder de uma tribo cananea, os Jebuseos.

Dalgum modo, em 990 David fixou-se para tomar Jerusalém. A Bíblia não explica como o fez, assim que é provável que empregara alguma treta não muito honrosa. Tão pouco é fácil explicar o porquê dos filisteus tolerarem impassíveis a ascensão de David. Dalgum modo, David convenceu-os de que trabalhava para eles, mas depois da tomada de Jerusalém os filisteus exigiram-lhe que abandonasse a cidade como prova de lealdade. David negou-se e assim entrou em guerra. Sem dúvida, os israelitas estavam agora crescidos pela sua notável vitoria em Jerusalém e David dispunha de bons generais. O resultado foi una vitória completa sobre os filisteus, que desde este momento abandonaram para sempre toda a ideia imperialista. Retiraram-se para as suas cidades tradicionais e pagaram tributo a David.

Uma vez estabelecida a nova capital em Jerusalém, os esforços de David para unificar o seu reino bimembre encaminharam-se até à religião. Desde que os filisteus destruíram o santuário de Siló, os israelitas não tinham nenhum centro religioso comum. Cada aldeia adorava os seus deuses locais em pequenos altares, situados especialmente nas colinas (sem dúvida um vestígio da antiga cultura nómada dos israelitas: os pastores estavam acostumados a venerar os seus deuses celestes em lugares elevados). Dentre a fértil mitologia israelita, a parte que mais possibilidades unificadoras brindavam era a referente a Moisés e a sua aliança com Deus. Em torno dela conservava-se a Arca da Aliança, que os filisteus capturaram e conservaram na cidade de Quiryat-Yearim, ao norte de Judá (os filisteus temiam os deuses estrangeiros tanto como os seus próprios, assim que não se atreveram a destruir a Arca, e tampouco a introduziram no seu território). David levou a Arca a Jerusalém e situou-a num santuário próximo ao seu palácio. Ainda que ele mesmo exerceu boa parte das funções sacerdotais, nomeou sumo-sacerdote Abiatar, o único sobrevivente do grupo de sacerdotes que Saúl fez executar por considerá-los partidários de David. Possivelmente foi neste período quando começaram a tomar forma as lendas bíblicas que apresentam as doze tribos de Israel viajando unidas pelo deserto às ordens de Moisés ajudado pelo seu Deus.

Unida política e religiosamente a nação, David viu-se com forças para iniciar uma expansão imperialista. No fundo isto pode ver-se como uma medida mais para unir o seu povo com um sentimento de superioridade patriótica. Um a um, conquistou os reinos hebreus de Amón, Moab e Edom. Logo avançou ainda mais para Norte. Não intentou atacar os fenícios (seria um suicídio sem a ajuda de uma frota). Em seu lugar, firmou com eles tratados comerciais. Sem dúvida, submeteu a tributo as populações do Eufrates superior. Deste modo os israelitas viram-se donos de um império de dimensões respeitáveis. Os limites que Deus fixa a terra prometida quando fala a Abraão segundo a Bíblia são precisamente os deste império.

(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.

Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Star_of_David.svg

Sem comentários: