sábado, 2 de maio de 2009

Gripe das aves: "Mutação do vírus é imprevisível"



Publicado: 20.10.2005 19:36 (GMT)

Investigador do IBMC explica processo de mutação dos vírus e aponta para a necessidade de uma vigilância apertada.

A gripe das aves está a causar preocupação um pouco por todo o mundo. Na Europa, já foram detectadas aves infectadas e a Comissão Europeia apelou à adopção de medidas sérias para conter a doença.

O risco de uma pandemia (epidemia generalizada) é assumida pela Organização Mundial de Saúde, mas apenas possível caso o vírus, que provoca a gripe das aves, sofra uma mutação genética que permita que o mesmo seja transmissível entre seres humanos.

O cenário "é absolutamente real", admitiu, ao JPN, Jorge Vieira, professor e investigador no Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC). Ou seja, o risco de pandemia é iminente. "Do ponto de vista teórico, é realmente sério", adverte ainda o especialista em evolução molecular.

A estirpe mais perigosa do vírus detectada até ao momento é a H5N1 que se transmite das aves para o ser humano. Na Ásia, o virus já fez 60 mortos.
"Mutações acontecem ao acaso"

"As mutações são erros de replicação de fragmentos de DNA [ácido desoxirribonucleico] do vírus: "existe uma enzima que pega no fragmento de RNA [ácido ribonucleico] do vírus e passa-o de novo a DNA", explica Jorge Vieira.

Neste processo, a probabilidade de ocorrerem erros na cópia do material genético é bastante elevada, refere o especialista, que alerta para o facto de aquele ser um processo "altamente ineficiente". É que, enquanto nos outros organismos "há moléculas que vão ver se houve algum erro, as enzimas dos vírus não têm essa capacidade", esclarece.

Em linguagem menos científica, significa que "as mutações acontecem ao acaso, por erros nas cópias de RNA".
Mutações frequentes nos vírus

"A taxa de mutação em vírus é muito elevada, bastante superior à que se verifica noutros organismos" porque "não há mecanismos de controlo quanto às cópias" do material genético", refere.

Por isso, organismos como os que provocam a gripe das aves "conseguem acumular inúmeras mutações em relação ao vírus original", esclarece o investigador do IBMC, acrescentando que é esta característica que permite que os vírus tenham uma evolução muito rápida.
"Não vale a pena ser pessimista"

"Neste tipo de situação, tem de se lutar da forma que se está a fazer: desde a base e com medidas muito severas", uma vez que "é preciso evitar que o vírus se espalhe", diz João Vieira.

O investigador admite que a possibilidade de o vírus se adaptar ao homem "é real", mas tranquiliza: "não vale a pena ser pessimista. O Governo está a fazer o que deve ser feito".

"Parece-me que os governos da Europa estão a tomar as medidas certas. Não vale a pena ser alarmista porque não ajuda em nada", frisa o especialista que, no entanto, admite que o modo de propagação da doença é uma "questão muito difícil de prever".

Recentemente, a gripe das aves manifestou-se em países vizinhos da Europa - Turquia, Roménia e Rússia. Na opinião de Jorge Vieira, tal "não aconteceu por acaso". "Se houver gripe das aves na França ou na Alemanha, é de esperar que chegue a Portugal", alerta.
Ana Correia Costa

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