segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Dia do que ainda resta da África (fim)


Eis a África dos celacantos.

E a África é, são os acampamentos de refugiados, onde não muito longe estão aparatos militares, milícias e palácios. E as guardas presidenciais são outro continente, outro poder… que nos aterroriza. Tirar fotografias ainda é muito perigoso… dá prisão sumária, sempre sem culpa formada. Qualquer um prende qualquer outro.

Entre este colonialismo Negro e o Branco, ainda preferimos o mais claro.

A nossa luta é os momentos constantes pela sobrevivência das ditaduras democráticas.

«Ainda Bulengo esteja muito mais assentado e organizado que o de Hewa Bora, a qualidade de vida é ínfima. As cabanas e locais, muito precários, estão atestados e em qualquer lugar noticia-se desnutrição, miséria, sujidade, desânimo.
Já não esperam nada, vegetam, repetindo de maneira mecânica as suas queixas – plásticos, medicamentos, água, escolas – quando chegam visitantes, sabendo muito bem que isso tão-pouco servirá para nada. Muitíssimos deles estão já mais mortos que vivos e, o pior, sabem-no.
E isto é quiçá o mais terrível espectáculo que oferece o Congo oriental: é o de dezenas de milhares de homens e mulheres aos que a violência e a miséria reduziram a pouco menos que à condição de zombies».
In Mario Vargas Llosa no Congo EL PAÍS

Há pessoas que nascem para incomodar, chatear, infernizar a nossa vida. O poder popular mantém-se, ainda não foi desmatado, desmantelado.

Aqueles, verdadeiros patriotas que sofreram na prisão, passaram apenas por uma perda de inglório tempo.
O dinheiro que resta, mais as receitas extraordinárias petrolíferas, esgotam-se na luxúria presidencial, na megalomania africana de ministros, vice-ministros, governadores, vice-governadores, infinidade de generalato, infindáveis directores de gabinetes. É impossível o dinheiro chegar para tanta gente. É uma maluquice. E quem demonstrar oposição… vai para a lista negra dos alvos a abater.

Da maneira que as coisas involuem, numa sinfonia aterradora de destruição, contaminação sistémica, infelizmente podemos também condizer que neste momento a África é o continente dos imbecis e canalhas.

É como qualquer um que actualmente em qualquer parte do mundo pode ser banqueiro… basta ser gatuno reconhecido ou corrupto… as democracias protegem-nos, são familiares, similares.

Já vejo outros campos de batalhas e infernos nas ruas. Ontem foi a hecatombe da religião, hoje será a imolação dos banqueiros.

Foto: semanário Agora

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