por Lusa
O presidente da Rede de
Cuidadores revelou hoje que a associação recebeu várias denúncias de abusos
alegadamente praticados por sacerdotes ou responsáveis de instituições
católicas, lamentando a atitude da Igreja de "enterrar a cabeça na
areia".
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Álvaro de Carvalho divulgou um comunicado, a
propósito do processo do Seminário Menor do Fundão, que levou à detenção do
vice-reitor por suspeita de abuso de menores, por considerar essencial a
associação dar "a sua versão dos acontecimentos em termos dos factos para
evitar mais equívocos".
"Parece existir, por parte de alguns
responsáveis da Igreja católica, uma informação deficiente em relação à
sequência de factos que levaram à nossa tomada de posição há cerca de três
semanas", disse o à Lusa.
Desde a sua fundação, há cerca de três anos,
a associação de defesa de crianças vítimas de maus-tratos ajudou a prevenir e a
resolver inúmeras situações de violência em famílias, instituições e pessoas
vítimas, nomeadamente, de abusos sexuais infantis.
"Da experiência vivida por alguns dos
elementos da Rede, sabe-se que existem no nosso país, como aliás em todos os
outros, estruturas 'secretas' muito poderosas, as quais são 'peritas' no
alimentar de silêncios cúmplices destes crimes, como de outros cujos contornos
só são conhecidos através da comunicação social e nem sempre de forma precisa e
completa", refere no comunicado.
Os casos referenciados à associação são
sempre tratados com uma "atitude discreta", no sentido de contactar
inicialmente os responsáveis da instituição em causa e esperar que haja uma
resposta adequada.
Quando isso não acontece, a associação
denuncia o caso a outras instâncias, nomeadamente judiciais.
O caso do Fundão "teve este desenvolvimento
por razões que nos ultrapassam", lamentou, sublinhando que não foi a Rede
que o "detetou ou denunciou".
"Se tivesse sido, as vítimas já estariam
a ser objeto do indispensável apoio psicológico, proporcionado por técnicos
credenciados e independentes, bem como de apoio jurídico, que lhes permitisse,
bem como às suas famílias, começar a reparar os danos produzidos".
Segundo Álvaro de Carvalho, a associação
recebeu "várias denúncias de abusos levados a cabo por sacerdotes e/ou
responsáveis religiosos de instituições católicas ou no exercício quotidiano da
sua atividade individual", às quais foi dado encaminhamento.
Todas as situações estavam prescritas do
ponto de vista judicial e, por isso, não foi feita uma denúncia formal.
"Sabendo que os abusos sexuais de
crianças são praticados por pedófilos, uma perversão sexual com registo
compulsivo (...) dirigimo-nos sempre que necessário aos seus diretos
responsáveis, com o objetivo de impedir a continuação de tais práticas
criminosas", sublinhou, adiantando que "na maior parte das situações
a Rede foi escutada".
"No que à Igreja Católica diz respeito,
isso só aconteceu quando os abusadores, já condenados, eram ex-seminaristas,
credenciados pela hierarquia, como os restantes, idóneos para exercer a profissão
de professores de Religião e Moral Católica".
Para o psiquiatra, a Igreja tem tido
tradicionalmente um comportamento de, perante um perigo, "enterrar a
cabeça na areia, salvo "raríssimas exceções".
"Tem havido um ou outro bispo [como no
caso do Fundão] que têm tido posições muito claramente distintas desta que
parece continuar a ser a atitude tradicional da Igreja".
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