quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Agostinho Neto. O dia da desgraça nacional


Agostinho Neto. O dia da desgraça nacional
Neste momento há ganhos revolucionários muito significativos na outra vez ditadura do proletariado. Pois… neste momento a água escasseia… sempre outra vez. Preços sobem anarquicamente… é o poder popular. Também tirando hoje… é quase sempre assim… oh!

Governar é fácil, perguntem aos abutres
Quando dois homens não se entendem, o dinheiro está errado
Tenho que apressar-me, vou revolver o lixo
da sagrada esperança
No desespero de encontrar o que resta do meu nome
Sento-me, sinto-me cansada, imolada, isolada

Tudo o que for construído, destruído será
No cinismo da hipocrisia petrolífera
Nas correntes sanguíneas do Golfo da Guiné
Diariamente tudo se agrava
Cai aos pedaços, sem terramotos
Os vulcões humanos ardem
Tudo se grava, cai dia após outro dia

Sem escolas, sem ensino adequado
O meu cérebro está atrofiado
É por isso que me dizem «é o Continente atrasado»
A História humana é a história dos punhais
Se os campos de futebol lavrassem terra
Teríamos abundância de comida
Adeptos do futebol, escravatura moderna

Não consigo afirmar-me à espera do profeta
As lágrimas saltam no meu rosto quando penso
Os animais agitam-se enquanto Deus estende as suas mãos
A um amor desconhecido sentado nas margens
Marginados, desaguados e contudo com mil rios

Vi a mãe entregar o seu bebé para fugir da fome
O mar tentando galgar montanhas inundando inumanos
Voltando aos princípios
Os seres humanos perdidos na selva
De estrangeiros ocasionais e generais
corruptos especuladores imobiliários
do betão. Destruidores, arrasadores
da angolana Nação

Governar é especular, corromper
Quadrilhar o petrolífero poder

Acorrentados, armadilhados, felizes na bestialidade
Para sempre eterna
O bebé para sempre abandonado sorrindo
Para o mundo hostil
Vi muitos nós para sempre complacentes, cúmplices na desgraça
Vi os silêncios de cada instante no nosso olhar de cada dia
Como cães selvagens na fuga incerta para um lugar
Tentei adormecer no desalento amanhã da mamã
Confirmar a aventura, continuar na desventura
Como o pão sempre órfão

Um governo das maratonas e para as maratonas
Insistir beber o álcool não original das nossas origens e dos nossos destinos

Insistimos nos negócios que o vento leva
A vocação das festas inatas para arder o tempo que sobra em demasia
A hipocrisia é a satisfação do dever cumprido
Semear injustiças é colher revoltas
Mesmo que os nossos governos façam algumas obras para africano ver
Nós acabamos com elas
Se tivéssemos a bomba atómica, seríamos alcunhados «o Continente do cinzeiro radioactivo»

Se a bebida fosse livros seria muito culta
Até nos concursos internacionais de bebidas alcoólicas somos discriminados
Porque de antemão todos sabem que somos vencedores
E nesta batalha não temos Waterloo

Continuamos, não arredamos os sovietes
da poesia de Agostinho Neto
O ter, o poder do Soviete Supremo

Gil Gonçalves


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