quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Veni, Vidi, Vici (II)


- E quando eles protestam?
- Quando nos julgam, anunciamos-lhes a excomunhão. Reforçamos que servem o Demo. É muito importante manter a superstição nesta gentalha. São como carneiros, dominam-se facilmente… como a maria-vai-com-as-outras. Digo-lhes: alegrem-se, sejam barulhentos porque ganharão a liberdade de consciência.
- E quando no culto estão doentes com dores de cabeça, sistema nervoso arrasado, a rebentar de estresse?
- Acreditam piamente nas nossas palavras. São altos cúmulos da crendice, parvoíce… idiotice.
- Negócio de vento em popa, Bispo.
- Prefiro não musicar esse salmo, como amizade segredo-lhe que facturamos só em dízimos, quatro mil vezes cem, fora as doações.
- Acumulação mundial, episcopal.
- Veni, Vidi, Vici.
- O manancial voa para Olísipo.
- Para o Éden! Não confio nos Afundados. Há o perigo das eleições com muito armamento escondido. Receio que estejamos a voltar aos velhos tempos dos combates monótonos que os Gregos iniciaram na Baía de Aulis.
- E as curas milagrosas das dores de cabeça, da barriga, dos dentes, infertilidade, arranjar emprego, esposa, esposo…
- Fácil, é preciso ter fé, não há mal que sempre dure.
- A fé… curar dor de dentes é milagre?
- É sim senhor! Acabem com os doces. Passam o tempo a dentar chocolate, ordenamos que parem, a dor passa, confessam que foi um milagre.
- E os estouros da cabeça?
- Bendizemos para não ouvirem música muito alta, excepto na igreja. A conspiração internacional barulhenta, aterradora, da música atrofia o cérebro, ele deixa de funcionar, surge a cura.
- E as dores de barriga?
- É tormentoso convencê-los que parem de comer funji durante uns dias. Conseguido, cura garantida.
- E a badalada infertilidade?
- O machão rejeita convicto que ela é culpada. A querida, atordoada com lamurias acredita que Deus a abandonou. O macho em casa relincha que a põe fora de casa se a barriga não inchar, que facilmente a troca por outra. Dialogamos, enviamos o marido para o nosso posto médico… já está! As enjeitadas fanatizam-se, passam palavra que foi um milagre fora de série.
- E o emprego? Esse é um grande milagre!
- Aliciamos um crente empresário, o emprego é garantido. A crendice firma que Jesus fez um super milagre.
- Caçar esposa, esposo…
- Enfiam-se para aí, fazem dribles, uns passes, resolvem isso entre eles. Elas encontram marido, eles encontram mulher.
- Igreja Veni, muito trepadeira, milagreira.
- Igreja sem milagres não faz sentido. Os crentes vivem, precisam disso. Andam sobre brasas, perderam o tino. Como comboios desgovernados, perdidos sem estações, apeadeiros, sem paradeiros. Como avalancha seca de pedras a rolar por montanha, que acolhemos, prometemos o paraíso. Entes em tais condições acreditam em qualquer coisa.
- Operários contratados para a fábrica do Senhor. Fabricantes de dízimos.
- Está a brincar ou quê? Olhe que não se brinca com as Sagradas Escrituras, e muito menos com o santo nome de Jesus! Isto é-nos muito sagrado!
- Colonialismo, neocolonialismo, não há diferença. Difere nas mudas do capital volátil.
- O que é que disse?
- Que os mitómanos se igualam.
- É isso! Não há crença sem melómanos. Um órgão soberbo bem afinado põe os crentes em êxtase. Não me pergunte que não sei porquê, ninguém sabe. Como o amor.
- Ninguém sabe…
- Verdadeiramente ninguém o sabe explicar. Batemos na boa porta desse desconhecido com a religião, os crentes vão na conversa, e facturamos em nome do amor.
- Tirando proveito do instinto de conservação das espécies.
- Sim! Sim! O amor de fábrica com os crentes convencidos que são operários… que trabalham para o amor. Não somos diferentes dos outros. Ganhar dinheiro com a crendice humana começou na Terra com os primeiros humanos. Somos apenas maiorais espertos. Despertámos para explorar o passado e o próximo futuro. A meu ver não há nenhuma revolução que acabe connosco. Quando revolucionam, no início somos expulsos, espoliados, martirizados, empalados. Enfim, culpados de tudo. Depois a sanha esmorece. Encarnamos com vigor, mais poderosos. Sumamente negociamos muito bem com a religião. Sem dúvida, é o negócio mais apetecível. Custos inexistentes, os crentes suportam-nos. É o melhor negócio e patrocinado por Deus. Num piscar de olhos somos clientes VIP dum banco. É a dolce vita.

Gil Gonçalves

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