segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Levar a Carta a Garcia


Editorial – Levar a Carta a Garcia

November 7th, 2007


Vitorino Seixas

A história é simples. Quando se iniciou a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o Presidente dos Estados Unidos, William McKinley, teve necessidade de comunicar rapidamente com o comandante dos rebeldes cubanos, o General Garcia, que se encontrava algures nas montanhas de Cuba. Como não era possível comunicar por correio nem por telégrafo o Presidente mandou chamar Rowan e deu-lhe uma carta para entregar a Garcia.

Rowan pegou na carta e, sem perguntar onde estava o General, guardou-a numa bolsa impermeável junto ao coração. Quatro dias depois, chegava à costa cubana pela calada da noite, num pequeno barco. De imediato, iniciou a travessia de um país hostil percorrendo a pé montes e vales, entregou a carta a Garcia e saiu pelo outro lado da ilha em apenas três semanas.

De facto, para quem lê a história, parece tudo muito simples. Rowan recebe uma missão e, sem fazer perguntas, executa-a com total autonomia revelando excelente capacidade de iniciativa e espírito empreendedor.

Ao ouvir esta história num seminário sobre a qualificação ocorreu-me logo fazer um paralelo com o que se passa no dia a dia das empresas e das organizações portuguesas. Como estamos em termos de espírito empreendedor? Será que o aumento de qualificação dos portugueses contribui sermos um país mais empreendedor?

Muito provavelmente, não. A este propósito convém lembrar o conceito de competência de Boterf. Ser competente, ou seja, agir com competência, como aconteceu com Rowan, é resultado da combinação: saber agir, querer agir e poder agir. Apesar reconhecida qualificação de Rowan para a missão, sem o seu espírito empreendedor a mesma não teria sido um êxito. Foi o seu “querer agir” que o levou a descobrir, a cada passo, o melhor caminho num terreno dominado pelo inimigo (poder agir).

Por maioria de razão, na actual sociedade em rede, em que a aprendizagem ao longo da vida é o desafio fulcral para todos os portugueses, não basta ter como objectivo a qualificação dos portugueses. Atribuir certificados de qualificação aos portugueses apenas prova que estes “sabem agir”. Não há qualquer garantia de que eles “possam agir” ou “queiram agir”.

Por outras palavras, para que os portugueses sejam capazes de levar a carta a Garcia é fundamental criar uma cultura empreendedora, com um ADN auto-programável (querer agir e aprender) constituído pelos genes da criatividade e da inovação.

“Os analfabetos do século 21 não são aqueles que não sabem ler nem escrever, mas sim aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender.” Alvin Tofler

http://noticia.nesi.com.pt/?p=616

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