sábado, 27 de setembro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 (I). Novela


Micronotícias: a luz foi-se outra vez. Será assim mais quatro anos. Durante a campanha eleitoral, a água subiu nos prédios. Desde que o Mpla ganhou as eleições, a água desceu, nunca mais subiu, subirá.

Se tudo está errado desde o início, e não se fazem correcções, então o final será catastrófico.

Os seres humanos reproduzem-se para roubarem. Roubam-se, especulam-se. O que roubar e mais corromper, esse é o chefe, o eleito, o exemplo a seguir. Na realidade não passam de células terroristas.


CAPÍTULO I
A AVENTURA

Por detrás de todas as grandes fortunas, está sempre um crime.
Balzac.

De repente, gigantes da finança americana sucumbiram ou estão à venda na bacia das almas, caracterizando risco concreto de um efeito dominó em que a queda de uma instituição vai arrastando outras, algo até pouco tempo impensável para a maioria da população mundial.

Na origem de tudo, uma euforia no mercado imobiliário americano, com a concessão dos chamados créditos ninja – no income, no job, no assets (financiamentos a pessoas sem renda, sem trabalho, sem patrimônio), por parte de duas megainstituições financeiras, Fannie Mae e Freddie Mac.
Ubirajara Loureiro em
Jornal do Brasil Online

Um sábado de calor horrível na cidade de Lisboa. Como contabilista recuperei o dia para fazer mais um fecho de contas. Como este trabalho exige muita concentração e estando só no meu escritório, ninguém me faria desviar a atenção. Assim, o trabalho seria imensamente produtivo.

Cheguei por volta das nove horas. A primeira coisa que fiz foi ligar o ar condicionado. Depois liguei o computador. Esperei que a máquina mostrasse o sistema operativo. O ambiente vitoriou-me com uma temperatura agradável para trabalhar. O meu cérebro sentiu-o e pareceu-me ordenar, que já estava apto para a missão a que me propus. O suor na testa deixou de me incomodar.

Peguei nas pastas e vasculhei-as à procura dos documentos que necessitava para prosseguir o meu trabalho. À medida que o tempo avançava, não me dava conta de tal. Entretanto um documento que analiso chama-me a atenção em particular. Dizia que o total da despesa com caracoletas…
Caracoletas?! Meditei durante uns momentos. Caracoletas?! Havia muito tempo que não comia disto. Olhei para o relógio. Catorze horas?! Senti um enorme desejo de comer estes moluscos gastrópodes.
Não era necessário ir muito longe para os encontrar. Desliguei tudo e pus-me na alheta.

Vasculhava uma esplanada à procura de uma mesa livre para a ocupar. Ouvi uma voz conhecida vinda do interior do café. Entrei para confirmar se era de facto a pessoa que imaginava. Os nossos olhares cruzaram-se. Era ele. Levantou-se e gritou-me:
- Meu amigo, senta-te aqui.
Vieram os cumprimentos da praxe acompanhados de um forte abraço. E os habituais dizeres nestas coisas:
- Elder,* há muito tempo que não te via.
- É pá, as caracoletas estão óptimas! Vou mandar vir mais uma dose!
- O curioso é que vim aqui precisamente para isso. Como tem passado o meu amigo luso-angolano?
- Luso-angolano não, luso em Portugal e angolano em Angola.
- Duplo de nacionalidade, ou triplo? De certeza que também tens o passaporte alemão.
- Sim, sou um cidadão do mundo.

Elder era meu cliente. Prestava-lhe alguns serviços ocasionais. Era agradável trocar impressões com ele. Tinha um senão… para pagar os serviços tinha que lhe enviar sempre um ultimato. Tentava sempre furtar-se aos seus compromissos. Era de estatura média, forte e de barriga um tanto ou quanto inchada. Andava sempre com o cabelo curto. Tinha cerca de quarenta e cinco anos. Usava óculos que lhe faziam parecer um pouco mais velho. Rosto cheio, arredondado, e maçãs salientes. Conforme dizia, era economista. Obteve o doutoramento na Alemanha, na altura RFA. Falava fluentemente Inglês e Alemão. Ao mínimo diálogo, revelava-se temperamental. O interlocutor quase não tinha o direito de exprimir a sua opinião. Gabava-se sempre de ganhar muito dinheiro.

Ele acompanhava-se de uma pessoa que eu não conhecia. Elder, apresenta-ma e recebo um leve inclinar de cabeça. É um seu amigo alto, muito forte. De cabelo branco a rondar os cinquenta anos. As suas mãos são largas, imensas, quase um mastodonte. Perante o meu olhar investigativo, Elder elucida-me:
- Também é economista, director dos Caminhos de Luanda em Angola.
O seu rosto é sisudo, ou como se costuma dizer, mal-encarado. Perguntei:

Gil Gonçalves
* Do inglês, chefe de tribo.

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