segunda-feira, 1 de setembro de 2008

SE sai um colonizador, entra outro


Se critico a Igreja, excomungam-me, herética hierarquizada
Se blasfemo o Islão, espera-me a Jihad, a intifada, a cimitarra
Se ouso opor-me ao comunismo, enviam-me para um gulag
Se luto contra o capitalismo, prendem-me porque persigo o marxismo
Se exijo a parte do rendimento do petróleo que me pertence, prendem-me
Se faço uma manifestação contra a corrupção, o prémio são seis meses de prisão

Se denuncio as democracias ocidentais que repartem os biliões de dólares com os seus amigos corruptos, sou eliminada, acusada de nacionalista
Se exijo emprego e pão, recebo o sarcasmo da fome
Se não sou militante do partido do governo, espancam-me
Se há muita fome e miséria, surgem muitas frentes de libertação

Se há um só Deus, porque existem guerras religiosas?
Se há tiroteio depois das eleições, é porque o partido que governa é o melhor, insubstituível, imperdível
Se o petróleo está sempre primeiro, a fome está sempre no último lugar
Se me emprego na prostituição, o único emprego que há, onde a concorrência é tão elevada, desleal, que obriga a preços muito baixos... prendem-me porque sou debochada, sem carácter

Se as iluminadas, ortodoxas, peculiares… calamares teimam, queimam-nos com o sol das teocracias. São estas, a subserviência das democracias
Se não tenho luz e água, um arauto tranquiliza-me: «a revolução ainda não terminou»
Se sai um colonizador entra outro
Se não tenho direitos, perdi a existência, a minha defunta independência, não sou ser humano! Perdi-me!

Onde está a minha liberdade?!
No próximo movimento de libertação!
Gil Gonçalves

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