quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 (IX). Novela


07.09.2008 - 23h19 - Pedro227, Amadora
Luís de Almada, o senhor que tem tido comentários relativamente à Geórgia dignos de uma pessoa esclarecida e culturalmente a um nível superior, acredita sinceramente que estas eleições angolanas foram livres, justas e democráticas ? Não há democracia nenhuma em que algum partido ganhe com um avanço de mais de 70% sobre o segundo e é óbvio que nas presidenciais do próximo ano se irão repetir estes resultados. Estas eleições foram uma farsa mas os observadores europeus vão validar os resultados porque o Sr.Eduardo dos Santos, apesar de tudo, não incomoda os europeus como acontece com o Sr.Mugabe. No entanto, Angola deu um passo em frente: passou de um regime de ditadura para uma 'democracia formal' - as pessoas podem votar mas 'não conta para nada' porque ganham sempre os mesmos. Este regime vigorava no Iraque até à intervenção americana e vigora actualmente em Moçambique e no Zimbabué. Tenhamos esperança... um dia a verdadeira democracia há-de chegar à Angola. Infelizmente, talvez nenhum de nós ainda esteja cá para ver....

De repente lembrei-me da conversa que mantive com Malcolm X. Como é possível acabar com a criminalidade num país assim? Pelo contrário, ela subirá de tal modo que será impossível estancá-la. Elder chama-me a atenção:
- Bom vinho… vou mandar vir mais duas garrafas… ainda bebes mais?

Assenti com um leve agitar de cabeça. Elder agita-se, desperta-me a atenção para alguém que se aproxima. Com olhos gulosos, cheios de desejo sensual, desgarra-se.
- Porra! Mas que negra tão bonita. Não me importava nada de passar toda a noite com ela na cama.
Ela acompanha-se de um jovem. Dirigem-se para a nossa mesa. Elder cumprimenta-o. Depois convida-os para se sentarem, crava os olhos nela e interpela-a:
- Ó Princesa das mil e uma noites. Revela-me o teu segredo de uma só noite.
- Não sei... só o senhor é que pode saber.
Elder insiste:
- Durante mil e uma noites?!
- Ai é?! Naturalmente… nunca ouvi falar disso.

Acercaram-se mais alguns jovens que agitaram as mãos na direcção da nossa mesa. Os nossos convidados desculparam-se, saíram e juntaram-se aos recém chegados. Nota-se que Elder está com uma grande vontade de galhofar, não se contém.
- São muito bonitas, mas basta abrirem a boca estragam tudo. Seria melhor que ficassem sempre caladas. Bom… por hoje chega. Vou-te levar a casa. Depois vou-te arranjar um carro para uso pessoal. Se amanhã não aparecer irá o motorista buscar-te. Fica pronto ás nove da manhã.

Veio o motorista. Os Caminhos de Luanda ficavam próximo do Porto de Luanda. Ainda mantinha a estrutura colonial que necessitava urgentemente de beneficiação. Por todo o local notava-se a improvisação. Elder aguarda-me à entrada dos serviços administrativos. Está acompanhado de um casal. Elder dá-lhes uma lição de economia elementar. Acaba de falar sobre o desenvolvimento económico da Alemanha, graças à organização dos seus caminhos-de-ferro. O homem ausenta-se, talvez feliz pela minha chegada. Talvez cansado de escutar o Elder, que me apresenta à senhora:
- Este é o técnico de contas que vai recuperar a vossa contabilidade. Agora entendam-se... desejo-vos bom trabalho.

A senhora era a chefe do departamento financeiro. Levou-me até ao seu gabinete. Convidou-me a sentar. Rondava os quarenta anos e parecia simpática. Ainda se notava que quando jovem devia ser muito bonita, porque conseguia conservar parte substancial dessa beleza. Vestia uma saia um tanto ousada e muito justa. Quando se sentava cruzava as pernas e mostrava umas coxas bem torneadas, sensuais. Tudo no seu gabinete era improvisado. Não tinha computador, apenas uma vulgar calculadora. Começa, improvisa, introduz.
- O maior problema aqui é a luz. Está constantemente a falhar, e quando vem é muito fraca.
- Não conseguem resolver isso?
- Resolver?! Como?! Os cabos da rua precisam de ser substituídos.
- Então vai ser difícil trabalhar… como é que faremos?
O seu rosto desalenta-se, esforça-se e responde.
- Eh pá… não sei.
- Já falou com o Director?
- Ele sabe disso há muito tempo. Não liga… tenho tantos assuntos para resolver, ele nunca aparece. De vez em quando vou a casa dele, mas nem mesmo assim.
De repente sorriu. Pareceu-me que queria dar uma sonora gargalhada mas conteve-se:
- A melhor maneira de o apanhar é no restaurante. Passa lá a maior parte do tempo.

Depois passámos para a contabilidade onde fomos saudados por dois jovens funcionários. O espaço era reduzido. As pastas de arquivo estavam em armários metálicos, cujas portas necessitavam de reparação. Uma delas parecia que a qualquer momento desabaria. Uma pasta suspensa na parte superior ameaçava cair. Das quatro lâmpadas fluorescentes existentes no tecto apenas duas funcionavam. Olho para a Chefe e pergunto-lhe:
- Faltam aqui muitas pastas de arquivo.
- Sim, é verdade. Estão no arquivo central, não sei como vai ser. Os vândalos e os ratos deram cabo de tudo. Há pastas e documentos espalhados por todo o lado. Tem que se procurar melhor… o problema é que lá nunca tem luz. É um local muito escuro. Pouco ou nada mais encontraremos… faremos mais uma tentativa.
- Não acha isso muito estranho?
- Convenço-me que tudo isso foi planeado. Acho que foi uma sabotagem. Alguém está interessado no desaparecimento desses documentos.

Gil Gonçalves
Imagem: Luanda, Angola. Intercontinental Hotel & Casino.
(Malditos especuladores estrangeiros. Que onde chegam impõem miséria. Construir, destruir muitas RDCs)
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=471629&page=5

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