segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Os Banqueiros Pregadores da Nossa Fome. (III)


Os Banqueiros Pregadores da Nossa Fome. (III)

02.11.2008 - 15h51 - viriato, paris
Isto é a prova que os bancos estão falidos . O governo nacionaliza este mas os outros, se as pessoas levantarem os depósitos, ficam também falidos . Seria uma boa ocasião para lhes acabar com o pio, levantar o nosso dinheiro, esperar a nacionalização, e voltar a depositar, mas desta vez, num banco do Estado, talvez o estado, menos ganancioso, nos cobrasse menos juros, mas se tal fosse o caso, poderíamos sempre mudar de governo, enquanto que agora não podemos mudar de dirigentes de bancos !
In
Público última hora

Toda a fome tem o seu tempo permanente, e há sempre tempo para isso. Há tempo para nascer, para crescer, viver e morrer à fome. Nunca há tempo para arrancar o que a fome plantou. Nunca há tempo para curar e derribar a fome. O tempo sobra para edificá-la. Tempo de chorar e tempo de não rir nunca faltam. Não há forças para prantear nem para se soltar.

Tempo para abraçar e comer pedradas. Não há nada para guardar, logo, não há nada para deitar fora. Tempos para ficarem calados a observarem a fome. Falar já não adianta. Tempo para amarem a fome, vossa fiel companheira. Não havendo trabalho para ninguém, e quando aparece, não há vantagem nenhuma em trabalhar, porque nunca vos pagam. Temos visto o trabalho que não vos dão, e isso não nos aflige. Prometemos-lhes que seria tudo formoso. Mas como não temos coração, demo-vos mais um deserto de promessas.

Alegramo-nos fazendo-vos tristes. E que só nós comemos e bebemos, e gozemos o que nos pertence. Sabemos que tudo que fazemos é para a nossa eternidade, e nada nos podem tirar. Não guardamos temor diante de vós. Tudo já foi e continuará a ser nosso. Mesmo assim ainda nos exigem contas. A justiça é para nós, a injustiça é para vós. Dissemos nos nossos corações maldosos: julgaremos os pobres e famintos em todos os tempos das suas vidas. Perseguiremos os justos dia e noite. Dissemos na nossa maldade: é por causa dos filhos dos esfomeados, que se portam como animais imundos, que existe intranquilidade nas ruas.

Porque o que sucede aos filhos da fome, também sucede aos filhos dos animais imundos. Como morre um assim morre o outro, e a vantagem sobre os animais imundos não é nenhuma. Também isto é de grande utilidade. Todos ficam no mesmo lugar à espera da comida. A apanharem pó. De tanto esperarem, cansarem, comendo pó. Ficam sem fôlego. Nem para baixo nem para cima. E nós, maldosos ficamos muito alegres com as nossas obras. Depois dividimos as nossas comissões.

Depois voltámo-nos e vimos as opressões que fizemos. Vimos as lágrimas dos oprimidos pela fome, e ninguém que os escutasse. Vimos os opressores consolados, e os esperados, desesperados pela fome sem nenhuma consolação. Pelo que, louvámos aqueles que contribuíram para o aumento do exército dos esfomeados. E que ninguém se atreva a pedir-nos contas pelas más obras que fizemos. E se alguém pretender igualar-nos, não passa de um reles invejoso. Os esfomeados não passam de tolos. Porque não se alimentam do que resta da carne dos vossos corpos? Andam sempre de mãos vazias, cheias de aflições. Outra vez nos voltámos, e vimos a irmandade da fome. Não roubamos sós, roubamos em equipa. Não nos fartamos de riquezas. Quanto mais temos, mais queremos. De modo que, não sobra nada para ninguém.

Melhor é um que dois a roubarem. Porque um fica com tudo, mas o outro apanha uma gasosa. Se um cair, o outro fica contente, porque aumentará a sua renda. Se dormirem juntos, desconfiam-se, porque tentarão ludibriarem-se e por isso não conseguirão dormir. Se alguém tentar prevalecer contra nós, os nossos seguranças estão sempre atentos. O rei velho e no poder insensato nunca dará poder a nenhum mancebo. Porque um sai do cárcere, diz qualquer coisa contra, e volta outra vez para onde saiu. Nunca nenhum mancebo ocupará antes da morte o trono do rei insensato. O seu povo está moribundo e não haverá descendentes.

Vários conselhos para não morrerem à fome
Inclinem-se quando entrarem nas casas dos ricos, não falem nada contra, pode ser que lhes dêem alguma coisa para comerem. Guardem sempre silêncio e não se apressem com as vossas línguas. Sejam sempre poucas as vossas palavras. Porque eles já conseguiram corromper os céus, e na terra onde estais não vos resta nada. Consideram que os esfomeados sonham sempre com comida. Quando fizerem algum voto a um rico não tardem em cumpri-lo, porque senão nem um grão de arroz conseguirão. Sobretudo prometam que nas eleições votam neles.

Cumpram as vossas promessas. Assim conseguirão um pouco de carne para as vossas bocas. Evitem sonhar alto, porque alguém pode ouvir. Aprendam a temê-los. Sabem que nas províncias também há muita fome, mas não se maravilhem com isso. Os que nos governam estão atentos, e a curto, médio, e longo prazo a fome aumentará. O proveito das terras é para eles. Só o rei se serve do campo. Amam muito o dinheiro e não se fartam dele. E quanto mais abunda, mais desejam.

Gil Gonçalves
Imagem: RDC http://www.elmundo.es/albumes/2008/10/28/congo/index.html

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