quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 (XI). Novela


BPN enviou 30 milhões de euros para o Brasil através de bancos 'off-shore'.
Os dados do Banco Central do Brasil referem ainda empréstimos concedidos a empresas brasileiras do grupo SLN por parte de entidades como o angolano Banco Africano de Investimento (da Sonangol, que é parceira do BPN no BPN Brasil), a Bickley Finance LCC e o próprio BPN.
In Diário Económico

Vi que estava metido numa trama e tentei safar-me:
- Não vou conseguir trabalhar, é-me humanamente impossível.
- Mas, não precisas de trabalhar. Finge que te interessas, que te motivas... se não te dão as condições o problema é deles. O que interessa é que nos paguem.
- E em relação às oficinas? Não sabia que tinha uma colega contabilista. Não me falaste nada disso.
- Não ligues, ela não é contabilista.
Elder quase encosta os lábios ao meu ouvido, preparando-se para me divulgar um segredo:
- Ela anda a foder com o director das oficinas e com o Director… está protegida. E nós facturamos como se ela fosse uma contabilista, mas não o é. Trata-se apenas de uma vulgar escriturária que executa alguns trabalhos no Excel. E isso já é bom para nós, porque pouca gente sabe disso, entendes?
- Sim, sim, entendo perfeitamente.
O seu telemóvel toca. Atende-o, afasta-se e fala muito baixo, de modo que eu não possa ouvir. Demora cerca de cinco minutos. A conversa era amorosa, o seu semblante revelava isso. Olhou para o seu relógio e confidencia-me:
- Tenho que arrancar. Vou passar a noite com uma miúda que me dá um gozo do caraças. Amanhã vais conhecer as instalações da minha empresa de segurança.


Antes que Elder comece a mostrar-me as instalações conto-lhe um episódio que vi.
- Elder, estás a ver aqueles três prédios nas traseiras dos teus apartamentos?
- Sim, estou a ver, diz lá.
- Um general fechou tudo. Os vizinhos não aceitaram. Lembraram-lhe que os condomínios lhes pertencem mas ele não quer saber. Vai lá construir prédios. E aquilo vai ficar tão apertado que os moradores vão ficar sem visão e espaço. Já colocou paredes de pano verde, mesmo na cara das pessoas. Quase que nem podem respirar.
- Mas, o que é que tu queres?! Isto é tudo deles. Deviam dar-nos bons exemplos. Então, se eles fazem, nós também fazemos… muito pior claro.

Estávamos junto ao canil da empresa de segurança. Os cães de raça ladravam sem parar.
- Estes cães são utilizados pelos seguranças onde há aglomeração de pessoas. Alguns são muito bonitos.
Aproximei-me do gradeamento para os observar melhor.
- Não tentes tocar em nenhum, não são para brincadeiras porque estão bem treinados. Só obedecem a quem lhes dá comida, que são apenas três pessoas.
Alguns eram grandes, sentia receio só de os olhar.
-Temos vários contratos de prestação de serviços de segurança. O nosso principal cliente é um banco estatal. Já abrimos delegações em Benguela e no Lobito. Depois vou abrir outra no Lubango. O Caminhos de Luanda também é nosso cliente… já viste como isto é grande? É um terreno com 4.500 m2. Pertence aos Caminhos de Luanda. Foi alugado por 5.000 dólares mensais. Mas como o Director está lá, não pagamos nada. Já o encontrámos com os muros, e algumas construções. Não parece mas isto é muito grande. Construirei vários edifícios e farei montes de negócios. Vários meios para o nosso apetrechamento e funcionamento surripiámos dos Caminhos de Luanda… de borla claro. É assim que se ganha dinheiro neste país.

Esta aventura começava a impressionar-me. Sentia o início do arrependimento. Por momentos pensei em partir para Portugal. Mas, mudei de ideias a ver o que é que isto ia dar. Uma coisa era certa. Constituir empresas sem investimento, roubando descaradamente os bens do estado, e ficar rico em poucos meses?! Não conseguia compreender: se os Caminhos de Luanda era uma empresa estatal, e funcionava assim, como seria nas outras empresas estatais?

Apercebi-me imediatamente da origem destes motivos. Só podia ser por falta de técnicos. Sim, este país não tinha técnicos de contabilidade. E os existentes eram pura e simplesmente desprezados. Para que não efectuassem o seu trabalho, e depois viessem à superfície os movimentos contabilísticos reveladores das fraudes. Para permitir o enriquecimento fácil. Mas, um país sem contabilistas, sem contabilidade, simplesmente não funciona, não existe. Com o passar do tempo o país entra no caos, vira estado-falhado. As convulsões sociais incrementam-se dia após dia, até terminarem na confrontação geral.

Gil Gonçalves

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