A origem da grande depressão de 2008 (VIII). Novela
Quase tão estúpidas como as declarações de banqueiros, empresários, políticos e responsáveis pelo sistema financeiro, que durante meses e meses disseram que a crise tinha acabado, são as declarações de todos os que olham para esta crise como o fim do liberalismo, do capitalismo, da economia de mercado e não sei mais quantos conceitos que são coisas diferentes. Esta crise é obviamente surpreendente e, mais importante, preocupante. E decorre de erros básicos e gravíssimos: risco excessivo, usura, ganância, desregulação, facilitismo, crença no progresso eterno. Custa admitir que instituições centenárias tenham cometido erros tão primários na concessão de crédito e que os governos e entidades de supervisão não tenham percebido o que se estava a passar nas suas barbas. É neste campo que se devem tirar quase todas as ilações. Um pequeno exemplo: é absurdo que só agora se questione o ‘short selling’. Essa prática nunca devia ter existido. Qualquer pessoa sabe que vender uma coisa que não se tem é muito perigoso… e quando isso dá muito dinheiro ainda é mais perigoso porque a tentação de eternizar a prática é “justificada”.
Quase tão estúpidas como as declarações de banqueiros, empresários, políticos e responsáveis pelo sistema financeiro, que durante meses e meses disseram que a crise tinha acabado, são as declarações de todos os que olham para esta crise como o fim do liberalismo, do capitalismo, da economia de mercado e não sei mais quantos conceitos que são coisas diferentes. Esta crise é obviamente surpreendente e, mais importante, preocupante. E decorre de erros básicos e gravíssimos: risco excessivo, usura, ganância, desregulação, facilitismo, crença no progresso eterno. Custa admitir que instituições centenárias tenham cometido erros tão primários na concessão de crédito e que os governos e entidades de supervisão não tenham percebido o que se estava a passar nas suas barbas. É neste campo que se devem tirar quase todas as ilações. Um pequeno exemplo: é absurdo que só agora se questione o ‘short selling’. Essa prática nunca devia ter existido. Qualquer pessoa sabe que vender uma coisa que não se tem é muito perigoso… e quando isso dá muito dinheiro ainda é mais perigoso porque a tentação de eternizar a prática é “justificada”.
In Ricardo Costa, Director geral adjunto da SIC no Diário Económico
Acompanhei o Elder até um restaurante, onde já lá se encontrava o Director que se deliciava com uma boa dose de gambas grelhadas. Sentámo-nos. Elder com o rosto muito sério sonda-me:
- Vou-te fazer uma surpresa.
Chama o empregado. Este aproxima-se e Elder encosta os lábios no seu ouvido. Disse-lhe qualquer coisa que não consegui ouvir. Depois volta-se para mim:
- Quando precisarmos de dinheiro basta falarmos com o Director, ele vai ao banco, pede dinheiro sem assinar nenhum documento. O banco é como se fosse dele.
O Director esforçou-se e saiu-lhe um leve sorriso de raposa que se apagou quando enfiou uma gamba na boca. Elder vira o disco.
- É necessário que saibas que temos uma empresa de prestação de serviços de contabilidade, gestão, consultoria… essa tralha toda, entendes?!
- Claro.
- Amanhã apresentar-te-ei aos serviços de contabilidade, se é que aquilo se pode chamar de contabilidade, dos Caminhos de Luanda. Não comentes com ninguém que o Director é meu sócio. E arranca com aquela merda de qualquer maneira.
- O Director é teu sócio? Mas isso mais tarde não vos trará problemas?
- Esta merda está toda assim… o que é que tu queres?! Qualquer director de uma empresa estatal, tem empresas criadas com o nome da esposa, filha ou filho etc. Porque é que nós não podemos fazer o mesmo? São todos uma cambada de burros, é o que são. Só para te lembrar que não estamos na Europa. Estamos na África. Aqui não há regras. É o cada um que se safe. Vou-te lembrar as tuas condições monetárias. O teu vencimento será cinco mil dólares mensais, mais dez mil kwanzas para as despesas locais. Foi isso que acertámos em Lisboa, certo?
- Sim… Elder necessito de enviar um e-mail para a minha esposa, a informar que cheguei bem, e que tudo corre normalmente.
- Escreve o texto e entrega-o ao Director.
O empregado chega. Poisa dois pratos na mesa. Um com gambas grelhadas, e outro com…caracoletas. Elder ri com satisfação:
- Pensas que é só em Portugal que isto existe? O que é que queres beber?
- Dão Meia Encosta.
- Ah..! Já me esquecia… és um apreciador ferrenho dos vinhos do Dão. Tens muito bom gosto. Eu também aprecio.
- Elder, os vinhos do Dão são recomendados na convalescença de doentes.
- Evidentemente que sei. Um puro néctar desses… podes acreditar que até recupera um coração.
Depois de quase uma garrafa despejada, Elder confidencia-me:
- Vou-te explicar como é que esta merda funciona. Tenho duas empresas em Portugal, outras duas na Namíbia. Aqui tenho seis e ainda vou constituir mais. Quando alguém necessita de importar alguma coisa da Namíbia ou de Portugal, utilizo uma das empresas em Angola. A maioria delas são o que se pode chamar de empresas fantasmas. Depois sobrefacturo as coisas que aqui chegam. Invento despesas numa das outras empresas para manter um lucro fictício… invento documentos para fugir ao fisco. Como são burros nunca detectam nada. As contas bancárias em divisas não aparecem na contabilidade. Eles não sabem de nada. Estás a ver os lucros que geramos? É como se fosse uma mina de diamantes.
- Claro, claro, mas…
- Os directores das estatais quando precisam de efectuar compras para a sua empresa aumentam substancialmente o seu preço, que é creditado numa conta no exterior. Como é que pensas que eles compram as casas em Portugal? Estão sempre a falar mal dos portugueses, mas é só para disfarçar, para angolano ver. Quando a vida lhes correr mal em Angola fogem para Portugal, e lá passarão a reforma. É tão simples como isso.
Gil Gonçalves
Imgem: Luanda. A especulação imobiliária, como os traficantes de droga, abrirá muitas fendas na terra e levará muita gente para as profundezas do inferno.
Hotel TD, Teixeira Duarte SA. Novo hotel de luxo a construir em Luanda pelo Grupo TD Hotel (Portugal).
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=471629&page=4
Acompanhei o Elder até um restaurante, onde já lá se encontrava o Director que se deliciava com uma boa dose de gambas grelhadas. Sentámo-nos. Elder com o rosto muito sério sonda-me:
- Vou-te fazer uma surpresa.
Chama o empregado. Este aproxima-se e Elder encosta os lábios no seu ouvido. Disse-lhe qualquer coisa que não consegui ouvir. Depois volta-se para mim:
- Quando precisarmos de dinheiro basta falarmos com o Director, ele vai ao banco, pede dinheiro sem assinar nenhum documento. O banco é como se fosse dele.
O Director esforçou-se e saiu-lhe um leve sorriso de raposa que se apagou quando enfiou uma gamba na boca. Elder vira o disco.
- É necessário que saibas que temos uma empresa de prestação de serviços de contabilidade, gestão, consultoria… essa tralha toda, entendes?!
- Claro.
- Amanhã apresentar-te-ei aos serviços de contabilidade, se é que aquilo se pode chamar de contabilidade, dos Caminhos de Luanda. Não comentes com ninguém que o Director é meu sócio. E arranca com aquela merda de qualquer maneira.
- O Director é teu sócio? Mas isso mais tarde não vos trará problemas?
- Esta merda está toda assim… o que é que tu queres?! Qualquer director de uma empresa estatal, tem empresas criadas com o nome da esposa, filha ou filho etc. Porque é que nós não podemos fazer o mesmo? São todos uma cambada de burros, é o que são. Só para te lembrar que não estamos na Europa. Estamos na África. Aqui não há regras. É o cada um que se safe. Vou-te lembrar as tuas condições monetárias. O teu vencimento será cinco mil dólares mensais, mais dez mil kwanzas para as despesas locais. Foi isso que acertámos em Lisboa, certo?
- Sim… Elder necessito de enviar um e-mail para a minha esposa, a informar que cheguei bem, e que tudo corre normalmente.
- Escreve o texto e entrega-o ao Director.
O empregado chega. Poisa dois pratos na mesa. Um com gambas grelhadas, e outro com…caracoletas. Elder ri com satisfação:
- Pensas que é só em Portugal que isto existe? O que é que queres beber?
- Dão Meia Encosta.
- Ah..! Já me esquecia… és um apreciador ferrenho dos vinhos do Dão. Tens muito bom gosto. Eu também aprecio.
- Elder, os vinhos do Dão são recomendados na convalescença de doentes.
- Evidentemente que sei. Um puro néctar desses… podes acreditar que até recupera um coração.
Depois de quase uma garrafa despejada, Elder confidencia-me:
- Vou-te explicar como é que esta merda funciona. Tenho duas empresas em Portugal, outras duas na Namíbia. Aqui tenho seis e ainda vou constituir mais. Quando alguém necessita de importar alguma coisa da Namíbia ou de Portugal, utilizo uma das empresas em Angola. A maioria delas são o que se pode chamar de empresas fantasmas. Depois sobrefacturo as coisas que aqui chegam. Invento despesas numa das outras empresas para manter um lucro fictício… invento documentos para fugir ao fisco. Como são burros nunca detectam nada. As contas bancárias em divisas não aparecem na contabilidade. Eles não sabem de nada. Estás a ver os lucros que geramos? É como se fosse uma mina de diamantes.
- Claro, claro, mas…
- Os directores das estatais quando precisam de efectuar compras para a sua empresa aumentam substancialmente o seu preço, que é creditado numa conta no exterior. Como é que pensas que eles compram as casas em Portugal? Estão sempre a falar mal dos portugueses, mas é só para disfarçar, para angolano ver. Quando a vida lhes correr mal em Angola fogem para Portugal, e lá passarão a reforma. É tão simples como isso.
Gil Gonçalves
Imgem: Luanda. A especulação imobiliária, como os traficantes de droga, abrirá muitas fendas na terra e levará muita gente para as profundezas do inferno.
Hotel TD, Teixeira Duarte SA. Novo hotel de luxo a construir em Luanda pelo Grupo TD Hotel (Portugal).
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=471629&page=4
Sem comentários:
Enviar um comentário