terça-feira, 18 de novembro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 (X). Novela


We're the best, fuck the rest* (Ditado Americano)
O crime organizado tornou-se planetário. Isto envolve desde os traficantes de droga, que destroem centenas de milhões de vidas, até aos bancos que lavam o dinheiro – alguns dos que agora respondem a processos são American Express, CityGroup e empresas deste porte – ou os produtores de armas de pequeno porte, que alegam serem honestos produtores e comerciantes – we don't pull the trigger,** dizem, indignados – ou ainda os que vendem materiais radioactivos. Os Estados Unidos são responsáveis por 48% das exportações de armas no mundo. O que se colhe com este tipo de semente? Uma avaliação do Business Week sobre o uso do e-commerce nos Estados Unidos é de que 70% das transacções envolvem actividades anti-sociais ou criminosas. Organizar redes mundiais de crime tornou-se hoje tão prático...
* Nós somos o melhor, foda-se o resto.
** Nós não apertamos o gatilho.
In Ladislau Dowbor EUA: NOVOS RUMOS?

- Temos que pedir extractos bancários desses anos.
- Já fizemos isso. Até agora não obtivemos resposta. E duvido que alguma vez obtenhamos esses documentos.
Surpreendo-me com o equipamento de informática instalado:
- Este computador é da primeira geração… não dá para fazer grande coisa.
- Não sei o que é isso da primeira geração. Mas tenho noção que é um computador muito velho. O programa de contabilidade que instalaram, nos venderam, não é grande coisa. Está sempre com problemas. Aliás todos os programas estão assim... sempre com falhas. E quando os técnicos aqui vêm, facturam o serviço. É uma boa mina. A empresa que presta assistência técnica é do Director. Por exemplo, a impressora está sempre a prender o papel. O Ups necessita de substituir as baterias. Quando a luz falta vai tudo abaixo.
- E não compram novos equipamentos porquê? – Perguntei, como para justificar a minha presença técnica.
- Já falei com o Director, para que ao menos autorize a compra de um regulador de tensão. Mas nem isso consegui. Com o calor que está nem os ares condicionados funcionam devidamente devido à luz que é muito fraca.
- Não sei como conseguiremos trabalhar… é quase impossível…
- Seja o que Deus quiser. Agora vamos para as oficinas. Tem lá uma colega sua que é contabilista.
- Uma contabilista (?). Isso não é contabilistas a mais?!
- Não sei, parece-me que ela é amiga do Director. Já lá está vai para dois anos… e nunca me enviou um simples documento.
- Mas, o Director e o Dr. Elder não me falaram nada disso.
- Não sei... eles é que sabem… é que pensam, nós apenas obedecemos.

As oficinas situavam-se ali para os lados do Cazenga. Entrámos na contabilidade. A Chefe apresenta-me à minha colega. Tem cerca de trinta anos. Não a acho muito bonita. Apresenta-se vestida e calçada de vermelho carregado. A saia sobe generosamente pelos joelhos. O decote é provocante. Os seios espreitam atrevidamente volumosos, quase sem respirarem e arrumados intencionalmente na justeza de um soutien que não os suportam. Parecem querer saltar a qualquer momento. Troco impressões com ela, assim como quem não quer a coisa:
- É sabedora que necessito imenso do seu apoio. Gostaria que enviasse mensalmente todos os movimentos do caixa e dos armazéns.
- Do caixa sempre enviei regularmente. Dos estoques não, porque tenho algumas dificuldades.
- Mas a Chefe diz que nunca lhe entregou nada.
- Oh!.. essa é muito descarada. Ela tem é ciúmes de mim.

Já de regresso comento com a Chefe:
- Não entendo. Ela disse-me que sempre lhe enviou os movimentos do caixa.
- É mentira. Nunca me entregou nada. Estou farta de lhe pedir. Ela responde-me sempre que já vai enviar.
- Como é possível que em dois anos de trabalho nunca apresentou os movimentos dos estoques?
- Eu vou-lhe tentar explicar. Ela é solteira e com dois filhos. Gostava muito, e ainda adora farras. Perde-se nas noites e no uísque. Por causa disso o marido divorciou-se.
Não me surpreendi pela cantilena. Era previsível que seria algo mais ou menos assim. Ajuntei:
- Pelo trabalho que ela me mostrou não é contabilista. Além disso fiz-lhe algumas perguntas às quais não me soube responder.
- Ela é amante do director das oficinas. Acho que assim já entende claramente.
- Claro, claro… estou devidamente esclarecido.

Liguei para o Elder. Disse-me que chegaria pelas vinte horas. Quando chegou dei-lhe conhecimento das ocorrências. Correspondeu com nervosismo:
- Nunca terão equipamentos novos. Esses que estão lá servem-lhes muito bem. Não podemos nem devemos gastar mais dinheiro com esses atrasados e ignorantes. Quanto à electricidade isso é problema deles, não é nosso. Safem-se como puderem.
- Mas, Elder como é que vou trabalhar nestas condições?
- Não te preocupes.
- Quase não existem documentos dos anos anteriores.
Elder ripostou-me como se estivesse na selva:
- Faz uma estimativa… fecha as contas de qualquer maneira. Eles não entendem nada disso… e convém que nunca entendam.
- O software também não funciona.
- Estás a dizer mal do nosso software?!
- Não, não!
- Não comentes nada disso com ninguém, senão deixamos de facturar. Está instalado noutras empresas, pago a preço de oiro, como software importado.

Gil Gonçalves
Imagem: http://www.cpires.com/fotos_do_lobito.html

Sem comentários: