segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 (XII). Novela


14.11.2008 - 17h39 – Jivago, Trofa.
HISTÓRIA VERDADEIRA (2ª. Edição): Numa terriola do Brasil, onde imperava o desemprego e a miséria, havia lá uma Tasca com o nome "Tasca da Cachaça", onde os desempregados bebiam a cachaça a crédito e por isso pagavam uma percentagem a mais. Entretanto os créditos (débitos) dos desempregados aumentaram exponencialmente e o dono da Tasca vendeu esses créditos a um Banco, que por sua vez este vendeu a outro Banco e assim sucessivamente. O último Banco lançou títulos de acções sobre esses créditos: Títulos: A, B, C, D... Moral da história: - O Zé da Tasca ficou com "uns trocos" e o Banco ganhou balúrdios. Parece uma anedota, mas foi mesmo verdade. Acreditem!
In Público última hora

Um trabalhador aproveita, infiltra-se, aproxima-se e diz de rompante.
- Dr... estamos aflitos, há dois meses que não recebemos.
- Mas, o que é que vocês querem?! Os clientes não nos pagam… aguardem, resguardem-se… é pá! Estou à espera que o banco nos pague.
Uma jovem interrompe-nos, agita-se agarrada com uma mão na aduela de uma porta. Baloiça-se comicamente, chama a si as atenções, então grita:
- Dr. Elder! Dr. Elder! Telefone de Lisboa!
- É pá, já sei, é o meu irmão.

Elder em passo de corrida dirige-se na direcção da jovem. Deixo-me permanecer na companhia do trabalhador, e decido fazer-lhe algumas perguntas acerca dos vencimentos não pagos.
- Desculpe, porque não recebem os vossos salários regularmente?
- É… o Dr. Elder quando viaja para a Europa, ou para a Namíbia diz sempre que demora um mês. Afinal fica por lá três e às vezes quatro meses fora, e enquanto estiver por lá não nos paga. Mente-nos sempre que os clientes não pagam. Eu fui um dos que há duas semanas foi ao banco levantar o dinheiro da prestação dos serviços. Tem dinheiro sim senhor. Nos meses de Dezembro ele sai. Vai passar o Natal e o ano novo na Europa. Deixa-nos só o vencimento do mês de Dezembro. Depois ficamos sem receber o 13º, Janeiro, Fevereiro, até que regresse da Europa.
- Quanto é que ganha um segurança?
- Entre 50 a 150 dólares.
- E qual é o valor mensal da facturação que o banco paga?
- Em número redondo cerca de setenta mil dólares.

Caramba! Um verdadeiro negócio da China. – Pensei.
Comecei a meditar como se ganha dinheiro com tanta facilidade:
Além do lucro volumoso, imediato, ainda retêm sistematicamente os vencimentos dos trabalhadores, que se utilizam como investimentos. Obtêm lucros e com eles paga depois os vencimentos. Sem dúvida alguma, é um país à deriva. Estou tramado. Meti-me com uma quadrilha. Estes indivíduos são extremamente perigosos e desumanos. Verdadeiros psicopatas que merecem internamento psiquiátrico. Lembrei-me das afirmações de Malcolm X. Assaltar e roubar para não morrer de fome. Senti-me sem forças para o condenar. Custa-me a entender as afirmações do estilo, negros atrasados, negros burros, pretos de merda, macacos sem árvore, e tantas outras diatribes. Se estes portugueses, e outros estrangeiros, enriquecem facilmente explorando desumanamente os negros, porque é que lhes agradecem assim? Na realidade os portugueses estão aqui novamente como colonizadores.

Pelas vinte e uma horas refrescava-me na varanda do apartamento. Anotava os movimentos na noite, até assistir, surgir uma cena caricata:
Um português de uma grande empresa de construção civil, notava-se pela inscrição no seu carro, faz marcha-atrás para sair do estacionamento. É tão desastrado que deixa algumas amolgadelas no carro ao lado. Pretende fugir, mas um segurança intercepta-o. O português pretende continuar a fuga. O segurança trava-o ameaçando dar um tiro num pneu. O português insiste na fuga. O segurança não lhe deixa dúvidas. Está disposto a furar o pneu. O dono do carro acidentado chega. O português para cúmulo nega as acusações. Usa o seu telemóvel, o lesado também. Chegam dois agentes da polícia de giro. Cada um defende os interesses dos contendores. O português mantém-se renitente. Alguém mais exaltado exclama:
- Mas porque é que vocês defendem os estrangeiros?
Os polícias retiram-se cansados. Surge a polícia de trânsito. A situação mantém-se num impasse. Já passa da meia-noite. Decido descer. Chego junto dos polícias e digo-lhes:
- Esse senhor é culpado. Assisti a tudo. Ele bateu no carro deste senhor e queria fugir, mas foi impedido pelo segurança.
O dono do carro lesado com ar triunfal exclama:
- Estão a ver!? Estão a ver!?

Retirei-me apressadamente do local. Depois, da varanda vi o prevaricador acompanhar os polícias de trânsito, seguido por mais dois carros com portugueses da mesma empresa.

Gil Gonçalves
Imagem Luanda: Em vez de acabarem com os musseques conforme prometeram, sonham com estes Palace Convention Center http://africamonitor.info/

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