quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ainda e sempre o 27 de Maio


27 De Maio
* Quanto mais nos embrenhamos nos acontecimentos do 27 de Maio, mais vontade temos de poder, um dia, vir a saber toda a verdade desses mesmos acontecimentos.

* Merece-o o Povo de Angola, esse mesmo Povo que tem esperado, ao longo dos 33 anos que já leva de experiência como Povo independente, que não torne a sentir vontade de voltar para o "domínio colonialista", pois nesse tempo, mal ou bem, sempre ia vivendo na esperança da mudança... que nunca mais aparece!

* O militante do MPLA Pedro Fortunato era o Comissário Provincial de Luanda. Pretendia fugir de Angola, porque sabia ter a vida por um fio, pois querem-no matar. A vida que viveu foi-lhe madrasta, vê mal, está a cegar, progressivamente... mas não perdeu os seus vícios antigos:
«Se pagarem alguma coisa de jeito, conto a verdadeira história dos mortos do golpe de 27 de Maio».

* Não há lugar a rebates de consciência, pois apenas cumpriu ordens e nada mais que isso; nunca actuou envergando a farda da DISA, pois nessas missões fardava-se sempre... de militar. "Pitoco" – o seu nome de guerra - fazia verdadeiros equilíbrios, agarrando-se ao que podia... e lança mais alguns nomes para a arena. Desta vez fala de Vítor Jeitoeira. Jura que este não fez nada, salvando até alguns condenados! Tinha alinhado com as tropas do Dodó Kitumba, um dos acusados de fraccionismo. Até gostava dele, mas ao descobrir que ele tinha os dias contados, tratou de inventar uma história para vender Ludy:
«Não mates o gajo, porque ele tem diamantes escondidos que valem mais de 50 milhões de dólares e é ele o único que pode indicar-nos o esconderijo.»

* José Eduardo dos Santos, ao assumir as rédeas do país, fez o ajuste de contas. Alguns ministros fiéis a Agostinho Neto são afastados do governo. Entre eles estava Iko Carreira, o ministro da Defesa, que foi acusado por Nito de ser um traficante de diamantes.

* Luís dos Passos, o estratego que dirigiu o assalto aos quartéis e efectuou a tomada da Rádio Nacional em 27 de Maio, só voltou a Luanda em 1990. Durante cerca de 13 anos viveu escondido na mata, no norte de Angola. Aí comeu raízes de árvores, sofreu vários ataques de paludismo, mas... sobreviveu.

* O jornalista da BBC João Van Dunem, requereu ao ministro da Justiça angolano, Lázaro Dias, certidões de óbito do seu irmão José e de Sita Walles, mas aquele governante limitou-se a remeter o assunto para os seus colegas da Defesa, da Saúde e da Segurança, com a alegação seguinte:
«Sabido que o Ministério da Justiça só emite certificados de óbito com base em notas ou nótulas de médicos a atestar o óbito – o que não aconteceu –, solicito a informação sobre se têm algum conhecimento do falecimento das pessoas acima referidas.»

* Longe das intrigas de Estado, em Kaleba, Francisco Karicukila envelheceu e perdeu a esperança. Ali ouviu dizer que a União Soviética, a mãe de todas as revoluções, está moribunda. Também ele acreditou no socialismo e em Neto, mas na sua aldeia os homens trabalham na lavra e bebem vinho de palma para esquecer a fome.

* A casa onde escondeu Sita está agora abandonada e cercada de capim... o filho, que levava as mensagens dos fugitivos, também foi fuzilado, e ele foi torturado durante dois anos.
Com um sorriso triste, recorda as últimas palavras proferidas por Sita: «Fomos traídos, mas um dia haverá igualdade no nosso país.»

In http://aerodromobase3.blogspot.com/2008/08/quanto-mais-nos-embrenhamos-nos.html

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