sábado, 16 de agosto de 2008

Fome Global


O século XX nos legou grandes simplificações sociais. De um lado, propostas de uma estatização generalizada, com o planejamento central como princípio regulador, e uma classe redentora, o proletariado; de outro lado, a privatização exacerbada, a mão invisível como instrumento de regulação, e outra classe redentora, a burguesia. Em nome destas simplificações se fizeram, e se promovem ainda, barbaridades simplesmente inaceitáveis para um mundo civilizado. O fato de se deixar morrer de fome e de outras causas ridículas 11 milhões de crianças por ano, quando dispomos dos recursos técnicos, financeiros e organizacionais para resolver o problema, é um choque para a mais elementar decência humana.

In Informação para a cidadania e o desenvolvimento sustentável
Ladislau Dowbor


Se tenho fome, e não tenho nada para comer, que mal fiz? Porque não me dão comida? Vivo entre pessoas, ou com seres irracionais? Espero que Zeus acabe brevemente com isto. Uns – a minoria – merecem viver. A maioria é para inglês ver. Mas, quem merece viver?

Coloquem lá as nossas fotografias nos vossos murais da fome, para que se lembrem de nós. De mais vítimas que tentaram atravessar os muros desumanizados da vergonhosa fome, e não conseguiram. Agora impuseram-nos os campos modernos da concentração da fome global, globalizada.

O dia aparece, clareia, mais um, outro tempo sem esperança. Mais um dia de fome. Que comeremos hoje? Não sei! Não sabemos, ninguém sabe, ninguém quer saber. É assim a nossa vida. É este o legado da civilização do homem Branco. Fome! Sempre fome! A civilização da fome. Não fazemos parte da História, perderam-nos nela.
Gil Gonçalves

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