terça-feira, 19 de agosto de 2008

Bruscamente no verão passado…


Foi assim que tudo começou, e agora recomeçou na Geórgia

«A Europa, enlouquecida, rugia.
A América do Norte parecia dormir
lá ao longe, no horizonte,
do outro lado do mar.
A Terra girava,
Como um grande astro doido
no qual a paz dependia apenas
do inseguro equilíbrio
de forças dementadas.
E, de repente,
O equilíbrio rompeu-se…»
Jean Guéhenno

A Europa despertou da Primeira Guerra Mundial como de um pesadelo. Para quê tanto heroísmo, se nunca triunfa a paz? Uma vaga de pacifismo invadiu os ânimos, atormentados pelo ciclo infernal de violência e ruínas; era preciso que fosse a última, aquela guerra atroz, «a última das guerras», cedendo o passo à paz tão ansiosamente esperada durante as sombrias horas do combate. Os dirigentes das grandes nações beligerantes tinham-no prometido solenemente aos seus povos. Esforçavam-se por cumprir a palavra dada. Mas a História, cujo curso pretendiam tão ambiciosamente dominar, breve acelerou o ritmo da sua marcha e rompeu, um atrás do outro, os diques destinados a contê-la.

O isolacionismo dos Estados Unidos, a debilidade da Sociedade das Nações, a inquietante ascensão para o Poder das ditaduras totalitárias, eram outros tantos fracassos para os políticos das democracias ocidentais, que desesperadamente se agarravam à letra dos tratados e convénios. Apesar disso, outra vez o Mundo volta a incendiar-se: na China, na Etiópia, mais perto ainda, na Espanha, onde se enfrentam já os inimigos de amanhã. Pode continuar a falar-se de paz numa Europa que vê ressurgir, ameaçadores, os fantasmas do terror?

Desde a sua ascensão ao poder, Hitler acaricia o projecto do «Anschluss», essa união da Áustria com a Alemanha, que faria dele, em seu próprio proveito, o restaurador do Sacro Império Romano-Germânico… Hitler faz tábua rasa das vacilações do seu Estado-Maior, que não se atreve a correr o risco de uma guerra. Os generais cépticos caem em desgraça e o ditador põe à frente do Ministério dos Negócios Estrangeiros um homem da sua confiança, consagrado de corpo e alma à causa nazi: von Ribbentrop. Falta agora somente colocar o Mundo perante o facto consumado. A 12 de Fevereiro de 1938, o chanceler da Áustria, Schuschnigg, é convidado pelo Fuhrer a visitar a sua residência de Berchtesgaden. Hitler exige dele concessões exorbitantes que converteriam a Áustria numa espécie de protectorado alemão. Em caso de negativa, ameaça atacar a Áustria.

À meia-noite o chanceler Seyss-Inquart pede às tropas que marchem sobre Viena «para restabelecer a ordem». A jogada estava feita. As tropas alemãs penetram na Áustria.

A França e a Inglaterra não adoptam qualquer medida, nem sequer de carácter diplomático. Schuschnigg, abandonado por todos, demite-se.

Um plebiscito meramente formal confirma e legaliza o «Anschluss»: 99,7 % dos austríacos aprovam a união com a Alemanha. Os que se opõem estão já nos cárceres de Viena, à espera de seguirem para os campos de concentração, onde se vão reunir aos democratas alemães…

A Sociedade das Nações não abriu sequer a boca. Acaso os Austríacos não tinham o direito de dispor de si mesmos?

In Grande Crónica da Segunda Guerra Mundial Volume I
Selecções do Reader’s Digest. Edição de 1968.

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