sábado, 2 de agosto de 2008

O mar não se cansa de ondular


Mar alto, como se o mundo fosse água. Para onde quer que olhe vejo tudo liquido. Que imensidão na minha pequenez. Sinto-me microscópica perante tanta vastidão. As ondas poderosas fazem liberdade. Mas, estou receosa, isto não é vida para mim. Vou descontrair-me junto dos meus companheiros, ouvir o que conversam. O mar para eles é como se fosse um velho amigo. São filhos dele. Acho que Ulisses está a astuciar… sempre.
-… Com um bom pastor e ovelhas obedientes…
- Sem líderes?
- Mentor… se as tais massas forem inteligentes, pensantes, souberem o Caminho, os políticos acabam.
- Deixa de haver partidos políticos.
- Exactamente.
- Acabando com eles, acabam as equipas.
- Como no futebol.
- Não! As pessoas podem chutar a bola à vontade, seja redonda ou quadrada.
- De preferência quadrada, redonda qualquer joga.

O mar não se cansa de ondular. Nasceu assim, vive, é feliz sem fim, é jasmim. Estou a deixar-me levar para terra firme, a relembrar a desventura, a incerteza do Homem das bombas. Homem, o invento mais estúpido que a Natureza criou, o monstro, o predador, o maldito Homem que em conflito com o semelhante, quebra lanças por, lança-lhe bombas. E nascem abençoados nos tectos de Deus.

Igrejas não lhes faltam. Talvez sejam superiores em número a ratos, a baratas e lixos, que comandam a actividade diária dos Petrofamintos. Em frente a buracos, lixo e esgotos existe uma igreja. E os seus cantos litúrgicos reforçam milenarmente: «Jesus, a minha vida são pedaços do teu sangue derramado.»
Gil Gonçalves

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