sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Ulisses confunde-se com o mar


Trata-se, no sentido técnico do termo, de um sistema mafioso, onde a solidariedade e a co-responsabilidade entre corruptos e corruptores geram redes de poder que se articulam por entre as hierarquias do legislativo, executivo e judiciário, desarticulando qualquer capacidade formal de governo. Cidades, Estados e amplos segmentos da União são geridos através de sólidas articulações de empreiteiras, políticos corruptos, especuladores imobiliários e meios de comunicação de apoio, além de um judiciário escandalosamente conivente.

A rede de solidariedade nas atividades ilegais gera naturalmente um comportamento corporativo e assegura o silêncio. É importante lembrar que é praticamente inevitável, em qualquer sociedade, a existência do banditismo político ocasional, com peso marginal no conjunto. Este tipo de atividade termina por ser detectado e denunciado, na medida em que envolve minorias que prejudicam o conjunto dos profissionais de uma instituição. Quando a corrupção se torna sistêmica, são as minorias profissionais que se vêm cooptadas ou expelidas pela máfia. Como esperar que os vereadores da cidade de São Paulo, por exemplo, julguem atividades criminosas dos seus membros quando a maioria é criminosa?
In O Mosaico partido.
Ladislau Dowbor


Regressei ao mar, desperta por onda dimensional que balançou a embarcação. Segurei-me bem. Os marinheiros nem por isso, nas calmas, insensíveis às ondas. Sensíveis falantes, não se cansam. O Ulisses bordeja:
- O dinheiro sujo civiliza-nos. É o dono do mundo, patrão da hodierna civilização. Antes arrasaram, mataram, dizimaram, escravizaram os antepassados. Até que finde… quando não sobrar nada….
Antes que me esquecesse, intrometi uma deixa:
- Quando chegar à Ibéria, depois parto para Armórica… tenho lá uma prima. Finalmente… regresso à civilização… da comida.
… apenas vestígios. Dantes as pessoas revoltavam-se, agora não. Estão cansadas, submissas, frustradas. Os intelectuais desapareceram… apareceram muitos pseudo-intelectuais que dirigem as sociedades. É fantástico ver como toda a gente os segue. Lembram Júlio César a subjugar os Celtas.

O Mentor está à pesca. Atira o anzol sem isca, recolhe-o, volta a atirá-lo. Que paciência de Job. Anzol sem isca… deve ser pesca de malucos. Oh, afinal bate bem. Pescou um bem grande. Ufana-se:
- É uma dourada! Vou fazer sushi.

Ulisses tranquilo confunde-se com o mar. Talvez porque Penélope esvoace, abrace e lhe dê doce calmaria. Conversa vai, conversa vem.
- Onde cheira a negócio, de imediato aparecem os homens.

Mentor afadiga-se no corte de fatias finíssimas, tenrinhas, fresquinhas, do esquartejado teleóstio. Dá apito de manobra:
- É futebol… se falta entrosamento, concentração e força anímica, perde-se a batalha.
- Não, não pode ser. Não foi Deus que criou o Homem, que aberração, que imperfeição, que monstruosidade. Estamos dominados, governados pelo demónio, há mais de dois mil anos. Esta é a verdade! O fundador… os fundadores, os seguidores da Igreja, são… Satanás. Ele está aqui, sente-se, move-se, domina-nos. Eis porque o mundo está no fim, no caos. Satanás está em todo o lado, ninguém lhe consegue escapar. Estamos amarrados, vivemos os últimos dias da maldade. Satanás triunfou!
Gil Gonçalves

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