Art. 11° - O médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais de que tiver conhecimento no desempenho de suas funções. O Mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto nos casos em que seu silêncio prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador ou da comunidade.
Art. 12° - O médico deve buscar a melhor adequação do trabalho ao ser humano e a eliminação ou controle dos riscos inerentes ao trabalho.
Art. 13° - O médico deve denunciar às autoridades competentes quaisquer formas de poluição ou deterioração do meio ambiente, prejudiciais à saúde e à vida.
Art. 14° - O médico deve empenhar-se para melhorar as condições de saúde e os padrões dos serviços médicos e assumir sua parcela de responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde.
Art. 15° - Deve o médico ser solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja por remuneração condigna, seja por condições de trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu aprimoramento técnico.
http://www.blogdoredondo.com/wp-ontent/uploads/2008/06/codigo_etica.doc
CURAS MILAGROSAS E A MEDICINA
Por Renato Sabbatini
A recente beatificação de um brasileiro nato, o Frei Galvão, trouxe à tona o debate sobre o que seria uma cura milagrosa. A beatificação foi decidida pela Igreja Católica depois de ter sido declarada como inexplicável do ponto de vista médico a cura de uma menina, apesar de diversos especialistas terem declarado que embora rara, ela não seria impossível.
Os critérios aplicados pela Igreja Católica para definir o que é um milagre médico foram estabelecidos há mais de 200 anos atrás pelo Papa Benedito XIV. A doença precisa ser grave, deve existir prova objetiva de sua existência antes da cura, os outros tratamentos falharam, e a cura foi rápida e duradoura. Por exemplo, curas milagrosas de leucemia são consideradas apenas se o paciente sobreviveu mais de dez anos. O critério fundamental usado pela Igreja é que a cura precisa ser "inexplicável". Depois de um comitê médico do Vaticano determinar que isso ocorreu, um comitê de teólogos examina se o mesmo foi causado por intervenção divina. Finalmente, a proposta de milagre têm que sobreviver ao escrutínio de dezenas de cardeais de Roma e do próprio Papa.
Apesar de todo esse rigor, o Vaticano aprova um grande número de milagres (em média um por mês). O órgão principal responsável é a Congregação pela Causa dos Santos, pois a existência de operação de vários milagres antes e depois da morte de um candidato a beato ou santo é uma das exigências fundamentais (atualmente existem cerca de 250 processos na lista).
O Comitê Médico Internacional de Lourdes, uma cidade do sul da França onde se acredita que a Virgem Maria apareceu para uma jovem chamada Bernadette, cerca de 100 anos atrás, é mais rigoroso ainda. Apesar da grande fama de centro milagreiro na realização de curas (mais de 5 mil já foram listadas), o Comitê reconhece apenas 51 curas realmente inexplicáveis do ponto de vista médico.
O grande paradoxo da avaliação de milagres médicos é que a Igreja precisa utilizar profissionais altamente treinados nas bases científicas da medicina, que por definição excluem qualquer causa sobrenatural na explicação de fenômenos naturais. A crença em milagres é essencialmente um produto da fé religiosa e nada tem a ver com explicações racionais. Para mim, a evidência mais gritante de que milagres são de natureza psicológica (a incapacidade de explicar cientificamente um evento que foge das leis naturais, interpretada como sendo devida a uma intervenção divina, e não à algum fenômeno científico ainda desconhecido) é de que os milagres são relativos. O que era considerado um milagre no século XVII não o seria mais depois da descoberta do sistema imunológico, dos anticorpos, da regeneração dos tecidos, etc.
A medida que a ciência médica e a psicologia descobrem cada vez mais explicações racionais sobre pretensas "curas" espontâneas, fica mais difícil atribui-los à divindade. Um milagre relativo, portanto, não pode ser um milagre. Nenhum dos critérios do Papa Benedito XIV resiste a um exame mais rigoroso, até mesmo porque uma pessoa com uma doença grave não costuma confiar inteiramente em Deus. Numerosos tipos de tratamentos médicos convencionais são tentados ao mesmo tempo, e algum deles pode ter funcionado sozinho ou em combinação, com um certo retardo.
Segundo a definição de São Tomás de Aquino, "podemos chamar de milagres àquelas coisas que são feitas pela ação divina em violação às leis comumente observadas na Natureza". Significa, portanto uma suspensão ou modificação sobrenatural dessas leis, e implica, obviamente, que elas são inteiramente conhecidas pelos seres humanos que as julgam (o que não é verdade).
Pior ainda, existe um enorme subjetivismo da Igreja na hora de determinar se um milagre foi devido à intervenção do santo junto a Deus. Por exemplo, o fato de você ter desistido na última hora de viajar, e o avião cair com todo mundo dentro, não pode ser considerado um milagre, a não ser que seja comprovada a intervenção de Deus a seu favor (e apenas a seu favor…). Como é possível uma coisa dessas? O fato da pessoa na qual ocorreu o milagre, ou seus parentes e amigos, terem rezado para que ele ocorresse, ou feito promessas, não é prova suficiente. Devemos nos perguntar também porque apenas 51 pessoas conseguiram uma cura milagrosa em Lourdes, e outros incontáveis milhões que visitaram o santuário nada conseguiram. Ou ainda, porque nunca foram constatados milagres radicais, como o crescimento de uma perna amputada por um acidente. Será que Deus tem poderes limitados na concessão de milagres?
Apesar de vivermos em uma civilização altamente científica e racional, a crença em milagres nunca será erradicada, pois constitui o embasamento da maioria das religiões. É só ver a importância que o cristianismo atribui aos supostos milagres realizados por Jesus na constatação de sua divindade, ou a grande relevância que a religião dá constantemente às aparições e visões, às imagens milagrosas, estátuas que choram, curas pela fé, estigmas (feridas inexplicáveis no corpo), corporificação, luminosidade, translocação, levitação, liquefação do sangue, profecias, e outros fenômenos considerados como paranormais e causados por Deus.
O fato é que num mundo cada vez mais hostil ao espírito humano, muitas pessoas sentem necessidade de acreditar em milagres, embora a Ciência negue a sua existência.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 24/4/1998.
http://www.geocities.com/saudeinfo/milagrosas.htm
Art. 12° - O médico deve buscar a melhor adequação do trabalho ao ser humano e a eliminação ou controle dos riscos inerentes ao trabalho.
Art. 13° - O médico deve denunciar às autoridades competentes quaisquer formas de poluição ou deterioração do meio ambiente, prejudiciais à saúde e à vida.
Art. 14° - O médico deve empenhar-se para melhorar as condições de saúde e os padrões dos serviços médicos e assumir sua parcela de responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde.
Art. 15° - Deve o médico ser solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja por remuneração condigna, seja por condições de trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu aprimoramento técnico.
http://www.blogdoredondo.com/wp-ontent/uploads/2008/06/codigo_etica.doc
CURAS MILAGROSAS E A MEDICINA
Por Renato Sabbatini
A recente beatificação de um brasileiro nato, o Frei Galvão, trouxe à tona o debate sobre o que seria uma cura milagrosa. A beatificação foi decidida pela Igreja Católica depois de ter sido declarada como inexplicável do ponto de vista médico a cura de uma menina, apesar de diversos especialistas terem declarado que embora rara, ela não seria impossível.
Os critérios aplicados pela Igreja Católica para definir o que é um milagre médico foram estabelecidos há mais de 200 anos atrás pelo Papa Benedito XIV. A doença precisa ser grave, deve existir prova objetiva de sua existência antes da cura, os outros tratamentos falharam, e a cura foi rápida e duradoura. Por exemplo, curas milagrosas de leucemia são consideradas apenas se o paciente sobreviveu mais de dez anos. O critério fundamental usado pela Igreja é que a cura precisa ser "inexplicável". Depois de um comitê médico do Vaticano determinar que isso ocorreu, um comitê de teólogos examina se o mesmo foi causado por intervenção divina. Finalmente, a proposta de milagre têm que sobreviver ao escrutínio de dezenas de cardeais de Roma e do próprio Papa.
Apesar de todo esse rigor, o Vaticano aprova um grande número de milagres (em média um por mês). O órgão principal responsável é a Congregação pela Causa dos Santos, pois a existência de operação de vários milagres antes e depois da morte de um candidato a beato ou santo é uma das exigências fundamentais (atualmente existem cerca de 250 processos na lista).
O Comitê Médico Internacional de Lourdes, uma cidade do sul da França onde se acredita que a Virgem Maria apareceu para uma jovem chamada Bernadette, cerca de 100 anos atrás, é mais rigoroso ainda. Apesar da grande fama de centro milagreiro na realização de curas (mais de 5 mil já foram listadas), o Comitê reconhece apenas 51 curas realmente inexplicáveis do ponto de vista médico.
O grande paradoxo da avaliação de milagres médicos é que a Igreja precisa utilizar profissionais altamente treinados nas bases científicas da medicina, que por definição excluem qualquer causa sobrenatural na explicação de fenômenos naturais. A crença em milagres é essencialmente um produto da fé religiosa e nada tem a ver com explicações racionais. Para mim, a evidência mais gritante de que milagres são de natureza psicológica (a incapacidade de explicar cientificamente um evento que foge das leis naturais, interpretada como sendo devida a uma intervenção divina, e não à algum fenômeno científico ainda desconhecido) é de que os milagres são relativos. O que era considerado um milagre no século XVII não o seria mais depois da descoberta do sistema imunológico, dos anticorpos, da regeneração dos tecidos, etc.
A medida que a ciência médica e a psicologia descobrem cada vez mais explicações racionais sobre pretensas "curas" espontâneas, fica mais difícil atribui-los à divindade. Um milagre relativo, portanto, não pode ser um milagre. Nenhum dos critérios do Papa Benedito XIV resiste a um exame mais rigoroso, até mesmo porque uma pessoa com uma doença grave não costuma confiar inteiramente em Deus. Numerosos tipos de tratamentos médicos convencionais são tentados ao mesmo tempo, e algum deles pode ter funcionado sozinho ou em combinação, com um certo retardo.
Segundo a definição de São Tomás de Aquino, "podemos chamar de milagres àquelas coisas que são feitas pela ação divina em violação às leis comumente observadas na Natureza". Significa, portanto uma suspensão ou modificação sobrenatural dessas leis, e implica, obviamente, que elas são inteiramente conhecidas pelos seres humanos que as julgam (o que não é verdade).
Pior ainda, existe um enorme subjetivismo da Igreja na hora de determinar se um milagre foi devido à intervenção do santo junto a Deus. Por exemplo, o fato de você ter desistido na última hora de viajar, e o avião cair com todo mundo dentro, não pode ser considerado um milagre, a não ser que seja comprovada a intervenção de Deus a seu favor (e apenas a seu favor…). Como é possível uma coisa dessas? O fato da pessoa na qual ocorreu o milagre, ou seus parentes e amigos, terem rezado para que ele ocorresse, ou feito promessas, não é prova suficiente. Devemos nos perguntar também porque apenas 51 pessoas conseguiram uma cura milagrosa em Lourdes, e outros incontáveis milhões que visitaram o santuário nada conseguiram. Ou ainda, porque nunca foram constatados milagres radicais, como o crescimento de uma perna amputada por um acidente. Será que Deus tem poderes limitados na concessão de milagres?
Apesar de vivermos em uma civilização altamente científica e racional, a crença em milagres nunca será erradicada, pois constitui o embasamento da maioria das religiões. É só ver a importância que o cristianismo atribui aos supostos milagres realizados por Jesus na constatação de sua divindade, ou a grande relevância que a religião dá constantemente às aparições e visões, às imagens milagrosas, estátuas que choram, curas pela fé, estigmas (feridas inexplicáveis no corpo), corporificação, luminosidade, translocação, levitação, liquefação do sangue, profecias, e outros fenômenos considerados como paranormais e causados por Deus.
O fato é que num mundo cada vez mais hostil ao espírito humano, muitas pessoas sentem necessidade de acreditar em milagres, embora a Ciência negue a sua existência.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 24/4/1998.
http://www.geocities.com/saudeinfo/milagrosas.htm
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