sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Bento Kangamba, o missionário confessor da juventude


Adaptando Engels: imprescindíveis são os homens que durante toda a sua vida missionaram, praticaram, desenvolveram a corrupção.
De facto, um Estado moderno não sobreviverá sem um grande esforço nacional na corrupção.
Como habitualmente o nosso confessor está no seu hábito, no seu púlpito a oficiar na sua capela da Igreja de Nosso Senhor do Kremlin. Nas preces que faz ao seu deus marxista-leninista, e sempre consequente no cumprimento de ordens superiores, corrompe-o desmesuradamente com quantias incomensuráveis. Qual é o deus que não se deixa corromper por astronómicas quantias monetárias? Vá, digam-me um que não o faça. Todos os deuses adoram as riquezas terrenas, e de tão corrompidos que estão, debandaram todos para Angola. É por isso que o céu está tão despovoado, tão imigrado.
E um deus que se preze ama, chama a juventude para o seu partido – se calhar não sabem, ou fingem, que a religião também é um partido político – com promessas de vida no além mundano, de carros e chorudas quantias de dólares existentes num saco pessoal dos ritmos petrolíferos. A juventude acorria-lhe depois da desgraça das contínuas maratonas em saudação disto e daquilo, festas partidárias em saudação aos santos leninistas de cada dia do ano, aos aniversários dos chefes, das suas esposas, dos seus filhos, filhas e dos altos e baixos funcionários que atapetavam a casa real.
E depois das maratonas os jovens lá acorriam ao nosso bom missionário na esperança de que caísse alguma coisa generosa para, conforme confessavam, organizarem as suas vidas. O missionário ligava do seu telemóvel e rapidamente chegava uma mala bem atestada de dólares. E o missionário interrogava-os, porque quem dá dinheiro a alguém sem mais nenhuma explicação, é porque exige, espera algo em troca: «Bom, eu vou-lhes dar algum, mas já sabem como é.» «Sim, senhor missionário, como é o quê?» «Já tem o cartão da JOTA?» «Já!» «Ai é, então mostrem.» Exigia o missionário desconfiado. E os jovens não tinham outra alternativa senão a de se sujeitarem, irem para a capela ao lado e lá registarem-se e obterem o cartão da JOTA que lhes daria, abriria as portas para tudo e mais alguma coisa que fosse necessário ou desnecessário. E se denunciassem todos aqueles do contra, os arruaceiros, os que falassem mal do eterno Delfim, os opositores, em troca receberiam uma considerável quantia determinada pelo serviço prestado. Aqui convém esclarecer que alguns cidadãos da nossa praça estão consideravelmente ricos devido a esse expediente do centralismo democrático.
E a Igreja do Kremlin continuava, labutava no seu ardor no louvor ao seu senhor. A fama do missionário da juventude já ultrapassava fronteiras devido á sua proverbial magnanimidade. Quando questionado sobre a proveniência de tantos fundos monetários, o nosso bondoso missionário nem pestanejava, pelo contrário olhava para o céu, enlaçava as mãos e orava: «Obrigado meu santo marxista-leninista pelos desvios milagreiros que fazes do céu jorrar e nas minhas mãos aterrar.»
Num belo momento o missionário recebeu uma missão especial. A conversão de jovens manifestantes/arruaceiros que não aceitavam corromperem-se pelo deus marxista-leninista. Intrigado, o sacerdote dirigiu-se à prisão onde os desgraçados se encontravam e abordou-os, melhor, interrogou-os: «Meus irmãos, estais aqui porquê?» «Não sabemos, ninguém sabe.» «Hum! Não é difícil de saber. Manifestaram-se com cartazes a falar mal do nosso deus?» «Sim padre é isso!» «Logo vi. Bom, vamos dar um jeito nisso. Tenho poderes de como influenciar o Juiz polémico que condenou os nossos irmãos, a converter as penas dos 17 presos em multas… passando assim todos à Liberdade… e prometo-lhes ainda outros bens materiais. Vocês sabem que eu sou o empresário da juventude.» Os jovens mantinham-se num silêncio irredutível, até que um deles quebrou-o: «Não somos arruaceiros, xibados, ganzados, kwachas, guerrilheiros, ou outro epíteto pejorativo que insistem em atribuir-nos.» E o eclesiástico sem rodeios elucidou-os a modos de pregação: «Se eu tivesse mandado alguém, podem ter a certeza que nem sequer teriam saído do bairro».
Só que o generoso missionário não se deu conta, não desconfiou, não suspeitou que a conversa foi gravada, e posteriormente denunciada por todos os meios de informação, exceptuando os órgãos estais da Igreja marxista-leninista. Mas mesmo assim o ministrador da Igreja leninista pregou os santos sacramentos dos cânones da praxis: «Só um partido marxista-leninista é que está apto a conduzir os destinos do maravilho povo angolano. Os outros partidos são fantoches, e se não seguirem os paradigmas marxistas-leninistas estarão condenados ao fracasso. Só um verdadeiro partido condutor de massas garante estabilidade e paz. E com o tenaz apoio internacionalista dos partidos, governos, e de todos os países amigos que seguem a mesma senda - o rumo do desenvolvimento - a vitória é certa. Os povos amantes da paz e da liberdade vencerão. E os nossos inimigos figadais em qualquer esquina tombarão e abandonados lá repousarão»

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