Luanda - Familiares dos 27 jovens absolvidos pelo juiz Damião Bento dizem não estarem satisfeitos com a posição do juiz em relação aos agentes da Polícia Nacional pelo facto de terem mentido em tribunal.
*Isabel João
Fonte: Novo Jornal Club-k.net
Por ter mentido em tribunal
Pedro João manifestou-se satisfeito porque o sobrinho e os outros jovens foram absolvidos, mas com um sentimento de tristeza à mistura porque o juiz não puniu os agentes da polícia que mentiram em tribunal. “Isso só acontece mesmo neste país, chefiado pelo senhor José Eduardo dos Santos.
Todos viram que a polícia mentiu, não diziam coisa com coisa. Eles tinham que ser responsabilizados, porque os jovens ficaram muitos dias na cadeia, perderam aulas e muitos talvez venham a perder o emprego. Quem é que vai responsabilizar-se? Até quando é que vamos continuar a viver assim? É muito triste”.
O homem lembrou que o representante do ministério público disse que não havia necessidade dos jovens irem a tribunal. “Ele tem razão porque a nossa polícia trabalha muito mal. Isso só prova que os nossos polícias não estão preparados, os jovens não foram apresentados ao representante do ministério público. Há procuradores nas divisões e esquadras da polícia, como é que não apresentaram os jovens? Sinceramente já não sei o que dizer”, frisou o homem indignado.
Domingos Garcia, outro familiar de um dos jovens detidos, considera que faltou preparação por parte dos agentes da polícia, que nem sabiam como acusar Mfuka. “Cada dia que passa os agentes da polícia decepcionam mais as pessoas. Eles transformaram o Mfuka em herói.
A polícia em Angola só serve para proteger os interesses do MPLA, e tudo veio mais uma vez à tona, depois dos pronunciamentos do ministro do Interior, Sebastião Martins, a acusar os partidos da oposição de estarem por detrás das manifestações.
Ele ganha com o dinheiro do povo e não do MPLA, porque aquilo que ele fez não se faz. É muito triste termos esse tipo de dirigentes, é uma vergonha para o país”.
Domingos Garcia disse também que, nos últimos dias, o partido no poder perdeu o controlo e está com medo. “Só o discurso do primeiro secretário do MPLA em Luanda demonstra medo. Nós, os jovens, vamos sair à rua, sim, e a polícia do MPLA não vai fazer nada. O povo é a maioria, estamos a sofrer muito, não há água, luz, as faculdades estão muito caras. A única solução é mesmo a manifestação, porque o governo do MPLA não nos dá oportunidade para conversar”.
Mara do Céu, que teve um filho detido, considerou ser uma vergonhosa a forma como a polícia mentiu, mostrando que não estavam preparados. “Na minha opinião, o comandante da Ingombota, Manuel Gonçalves, e da esquadra da Ilha, Augusto Fernandes, deveriam estar presos por mentirem em tribunal. Não sabiam como deveriam incriminar o secretário Mfuka e todos apresentaram versões diferentes perante o juiz. A defesa pediu que se prendessem, mas o juiz não aceitou o pedido. Ele mostrou também que não é uma pessoa séria, são todos iguais, é por isso que este país está mal. Estamos cansados de tudo isso.”
Maria do Céu admitiu que ficou surpresa com a decisão do juiz ao absolver Mfuka. “Era desejo dos líderes do MPLA que o jovem fosse condenado, até porque o representante do ministério público disse em tribunal que absolvesse os outros menos Mfuka, porque o MPLA, depois do discurso do primeiro secretário do MPLA, Bento Bento, dava sinais de querer condená-lo para responsabilizar a UNITA pelas manifestações que ocorrem na cidade
de Luanda, e não só. Só têm mesmo medo”.
No mesmo discurso, Bento Bento disse ainda que há uma coligação que alegadamente conspira contra a governação do Presidente José Eduardo dos Santos.
A coligação, segundo Bento Bento, integra o Bloco Democrático, PP e alguns partidos ligados aos POC, e que são representados pelo secretário-geral da Unita, Kamalata Numa, pelo secretário-geral da JURA, MFuka Muzemba, Justino Pinto de Andrade e David Mendes.
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