Neste oásis petrolífero há mais prisões que universidades. Trinta e dois anos de promessas de que a nossa vida vai piorar. Nesta floresta petrolífera/carbonífera de corpos petrificados, de vultuosos gastos em estádios de futebol parecendo ruínas arqueológicas, de um reino há muito extinto, mas bem preservado, no tempo aprisionado.
Parafraseando o poeta de que já ninguém se lembra: Contra milhões de esfomeados ninguém combate, e quem o fizer será vencido.
Nenhum convicto democrata usurpa o poder. O ditador quando nele se senta confisca as populações, e promove-as a rebanhos. Investe desmesuradamente em prisões para que os tresmalhados nelas se acomodem. Do poder o ditador nunca se isenta, mas obriga-se à sua ausência forçada. Quanto mais isolado se encontra, brama que a imposição da democracia pertence-lhe… perdeu a noção da realidade.
«Angola. "José Eduardo dos Santos deve abandonar o poder"
por Lusa
O escritor angolano José Agualusa afirmou hoje que o presidente José Eduardo dos Santos deve abandonar o poder e iniciar um processo democrático, durante um encontro em Lisboa que juntou vários angolanos, como o ativista Rafael Marques.
"O presidente ainda está a tempo de abandonar o poder e retomar o processo democrático. Ele pode sair preservando a sua honra e a sua fortuna pessoal. Pode contribuir para o desenvolvimento do país como empresário", disse o escritor à Agência Lusa.
José Agualusa fez parte de um grupo de cerca de duas dezenas de pessoas que se juntou esta tarde no Rossio, em Lisboa, para participar numa vigília de solidariedade com os 21 jovens angolanos detidos em Luanda a 3 de Setembro.
Numa alusão às recentes revoluções ocorridas nos chamados países da "primavera árabe" (Tunísia, Egito e Líbia), José Agualusa referiu que o fosso social é muito maior em Angola do que era na Líbia e que o regime é muito mais frágil, embora menos autoritário.
"O facto de ser menos autoritário deixa margem para que as pessoas respirem e explica que até agora não tenha havido uma explosão social, mas as condições para isso acontecer estão lá", alertou.
Presente na iniciativa esteve também o ativista e jornalista angolano Rafael Marques, que em declarações à Agência Lusa afirmou que as recentes manifestações em Luanda representam uma tomada de consciência das pessoas para os problemas do país.
"Representam [as manifestações] uma tomada de consciência dos angolanos. É fundamental que os angolanos saibam gerar solidariedades para que as mudanças que são necessárias para o bem do país ocorram de forma pacífica", afirmou.
O activista sublinhou que a atitude dos jovens manifestantes foi um exercício de liberdade e de expressão e que por isso não devem permanecer presos.
"Quando chegar a Luanda vou visitá-los à cadeia. Só assim teremos uma verdadeira democracia e estabeleceremos elos de solidariedade entre todos aqueles que lutam pela liberdade", sublinhou.
No dia 3 de Setembro, dezenas de jovens foram detidos durante uma manifestação contra o presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Dos 21 que foram julgados, 18 foram condenados a penas entre os 45 e os 90 dias de prisão efetiva.
Outros 27 jovens que haviam sido detidos no dia 8, quando apoiavam os que estavam a ser julgados, foram todos absolvidos.»
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