sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Editorial. O bom exemplo da Zâmbia: nós também podemos!


Maputo (Canalmoz) - Na Zâmbia voltou a haver mudanças. A oposição vai agora para o poder. Michael Sata, líder de um partido da oposição, o ‘Freedom Front’, destronou Rupiah Banda. Todos eles são dissidentes do antigo partido de Kenenth Kaunda. É a Zâmbia a democratizar-se de facto e de jure, sem violência e sem guerra.
É o povo a mostrar que são os cidadãos que impõem a ordem, que dirigem o jogo.
É o povo a dizer, por via do voto, que não quer mais quem estava no poder e quer experimentar outros.
É o povo a dizer que quer ‘calças novas’ e ‘camisas novas’.
É o povo a dizer que não quer sempre os mesmos no poder.
É o povo a dizer que está farto dos que se mantêm no Poder apenas para lhe sugar o sangue.
É o povo a experimentar a alternância mais uma vez, num país da SADC que se está a revelar exemplar em termos de funcionamento da Democracia. Não quer isso dizer que seja um país perfeito. Não há países perfeitos nem democracias acabadas. O que se exige é respeito pelos candidatos e eleitorado e ausência de manipulação dos órgãos eleitorais.
Em muitos outros países de África, e particularmente da SADC, quem se instala no Poder vive bem, usa e abusa dos bens do Estado, engana o Povo com sistemas de educação que só servem para manter o Povo ignorante e de olhos fechados, convencido que já tem diploma, bem caladinho. Mas os zambianos estão a provar a África, à SADC e ao mundo que é possível por via do voto mandar embora os parasitas que enriquecem agarrados ao Estado e impedem os outros seus concidadãos de também terem acesso à riqueza do País e ao Poder.
Na Líbia, na Tunísia, no Egipto, quando o Povo acordou já era tarde para mudarem as coisas por via da democracia, pelo sistema de eleições. Foram-se deixando iludir pelos dirigentes dos respectivos países que os convenceram de que eram os únicos capazes de manter os países tranquilos e em progresso. Foram-se deixando ir naquela conversa até que um dia a solução foi a violência. O sistema estava tão ‘ferrugento’ que não havia outra forma de fazer as coisas mudarem.
No Egipto também se promoviam ‘eleições livres e democráticas’. Quem se mantinha eternamente no Poder também ganhava ‘eleições’ com maiorias absolutas e até maiorias qualificadas de 90 e noventa e tal porcento. Eleições viciadas… O Povo não protestava porque pensava que realmente não havia alternativa a quem estava no Poder. Até que um dia viram que andavam a ser enganados por quem os governava. Viram que quem os governava estava extremamente rico, os familiares deles também, mas o Povo estava cada vez mais pobre e sem emprego.
Vendo que conseguiam manter o Povo continuamente com os olhos fechados, foram enriquecendo ao ponto de se terem tornado pessoas tão ricas que, com o que roubavam aos seus respectivos Estados e Povos contribuintes, chegaram ao ponto de serem das maiores fortunas do mundo. Os nomes desses tais governantes passaram a constar nas revistas que anunciam as maiores fortunas do mundo. E vendo a ostentação de riqueza dos dirigentes e respectivos familiares, um dia a sociedade explodiu e as forças de defesa e segurança, braço armado do Povo, solidarizaram-se com o movimento popular que impôs mudanças. Juntos venceram. Seguramente que estão hoje criadas condições para voltar a haver esperança nesses países.
Novas elites formar-se-ão e por via das mudanças haverá seguramente uma redistribuição de riqueza.
Chegou-se a um tal ponto nesses países, como o provaram os anos de insistência dos mesmos sempre no poder, que sem que o Povo dissesse basta, com o apoio das suas respectivas forças armadas, os dirigentes que enriqueceram à custa da manipulação do Estado continuariam a enriquecer imensamente e os pobres a empobrecer até perderem completamente a esperança.
Os Povos desses países pensavam que os seus dirigentes, se não davam ao Povo melhores condições de vida era porque realmente os seus países não tinham dinheiro para proporcionar isso aos seus concidadãos.
Nesses países do norte de África para onde as revoluções sociais chamam hoje à atenção de todo o mundo, os Povos acabaram por abrir os olhos. Tardou, mas acabou por acontecer. Perceberam que era preciso fazer urgentemente qualquer coisa para acabar com a roubalheira dos que, agarrados ao Estado, usavam os mais variados argumentos para enganar o Povo e irem enriquecendo à custa disso.
Quando os Povos desses países perceberam o quanto os seus governantes, que se pretendiam eternos, os enganavam, já era tarde de mais para que se conseguissem mudanças sem um abanão violento no sistema.
Durante anos certas figuras das elites desses países conseguiram aldrabar os respectivos Povos convencendo-os de que sem quem estava no Poder não haveria melhor vida e só com eles poderia haver um futuro melhor.
Durante décadas os governantes usaram as eleições para manipular o jogo político e subverter a democracia. Viciaram as comissões eleitorais. Corromperam o sistema eleitoral. Corromperam os tribunais. Viviam todos enfeitiçados pelos bens e vida fácil.
Passaram-se anos de ilusão, com os Povos desses países a crerem que realmente só aqueles seus compatriotas que os vinham governando poderiam assegurar-lhes vida.
Na Egipto, hoje, até já levam o presidente deposto em maca, ao tribunal. Hosni Mubarak acumulou uma enorme fortuna depois de ter deposto o seu antecessor com um golpe militar e acabou em maca na presença de juízes. Não podia ser mais humilhado.
Antes foi na Tunísia que uma revolta popular depusera o regime.
Na Líbia, Muammar Kadhafi, que até queria ser o presidente de África, tratava os seus opositores como se acaba de ver pelas mais recentes descobertas de valas comuns perto de Tripoli.
Foi deposto um déspota que se julgava eterno. Demorou, mas o dia acabou por chegar.
Kadhafi também acabou desta forma humilhante a que estamos todos a assistir. Acabou em fuga, com os seus aliados a tentarem salvar-lhe a pele, revelando a sua verdadeira índole.
Apesar do apoio da NATO, só um povo farto dos abusos do regime seria capaz de avançar decidido.
Na Zâmbia a alternância está a provar que a Democracia e eleições verdadeiramente justas podem permitir que as coisas não cheguem a extremos. O povo saiu à rua para celebrar. Não foi preciso haver violência para haver mudanças. A Zâmbia deu um passo importante para credibilizar África. (Canalmoz / Canal de Moçambique)

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