Mentor aplaudiu. Reavivou mais cerveja que se movimentou alegremente no semblante dos navegantes. Ulisses refresca-se:
- E nada restará de humanismo, mas a purificação dos eleitos sobreviverá. Eles, os eleitos, serão para sempre os Abençoados, e reinarão para todo o sempre. A vida encurta-se, o amor alonga-se. Não existe, nunca existirá nenhuma espada poderosa que acabe com ele. Os que acreditam conhecerão os segredos do Universo, e neste lugar as moedas de oiro não têm valor. Não é concebível viver num mundo onde o dinheiro prevalece sobre tudo. Para vivermos em felicidade, temos que prescindir, acabar com o dinheiro. As sociedades humanas não podem continuar a existir… trabalhando à espera que uma moeda caia do céu. O mundo é nosso, não é de alguns. A areia está em todo o lado, e nós não. No entanto somos como ela, abundante, é por isso que não temos valor. Contudo ela aparece nos edifícios, fomos nós que a carregámos, e a eles não temos direitos. Somos, vivemos como as areias dos desertos. Somos um imenso mar de areia, soprados pelo vento, vamos para ali, para aqui, e assim permanecemos. Transformaram-nos em pó, com o destino, a missão única de aumentarmos os terrenos dos cemitérios, que já não chegam, pois que a fome, as epidemias e pandemias, são a única liberdade que nos resta. Até os cemitérios dos que nos matam à fome, são sublimes mausoléus, e nós quando a morte nos convida… os nossos familiares regateiam um pouco de terra… porque mesmo depois de mortos a ela não temos direito. Somos párias no além.
O característico perdurar sonoro inconfundível faz aparição. Aparenta motim, humana borrasca de borracho destoado. As chapas do casebre crepitam com a corrente eólica do etanol. Vão saltando dos gonzos ogivais pregados. A voz é rouca, indecisa:
- Este vizinho está sempre a mudar as chapas da porta! Juro-lhe que hei-de encontrá-la!
Mentor apreende-se.
- Nunca mudei a porta, o álcool é que a faz de muda.
O vizinho parece estar no labirinto a fugir do Minotauro. Desequilibra-se e aterra com a massa corporal na porta de entrada. A fragilidade do material obedece-lhe, e como um furacão recebe-se na mesa que tenta fugir-lhe, limitando-se a mudar de posição. Faz tremendo esforço para se levantar, as pernas não obedecem vitimadas pelo vendaval, e os destroços espraiam. Ulisses zomba-lhe:
- Se os pés pensassem, não suportariam a dor do chão.
Entretanto, o vizinho consegue equilibrar-se no chão com a ajuda da parede. Tenta mostrar, ludibriar a sobriedade, parecer que não está bêbado.
- Monitor… Mentor… és o único que visito aos tropeções!
Olha à sua volta, e vê os derrames do madeirame.
- Não venho só, trago-te alguns escombros… ruínas do nosso PIB. Estes lugares, estas ruas esburacadas enterram o trânsito democrático A questão não é o ter, é o cinismo do ser. O navio do dilúvio da escravidão negreira está à deriva.
Mentor sente uma visão profética:
- Só falta acontecer um vulcão, um tremor de terra e um ciclone… bebes, e não cumpres as regras do trânsito. Sinal vermelho é para parar.
- Oiço e vejo tudo vermelho outra vez, já não suporto o cinismo dessa agressividade.
- Cada vez que me visitas deixas a casa em pantanas.
- Pantanas?!... Ah, … o pântano do poder não me deixa respirar. Trago o perfume dos jardins de Babilónia apagados… lembrados, do paganismo alcoólico.
- Embebes-te porquê?
- Os gatunos sem utilidade pública incendiaram-me o casebre. Antes, os esgotos e a água das condutas rebentadas reuniram-se, e foram arrastando os poucos alicerces que o casebre possuía. Fiquei apenas com o habitual, o que resta da minha cabeça. O governo Politburo é conivente, não vale a pena. Isto é para destruir. Não é por acaso que o álcool persegue, prefere a população. Creio que não sobreviveremos muito tempo. É como nos estádios de futebol, entrosados e acutilantes. Fome, doenças, epidemias, alcoolismo, droga, feitiçaria… que extinguem um povo a curto prazo. Na prática já não existem, só restam as suas sombras. Quem os governa, prepara-lhes a solução atípica final. Com palavreado perfumado, um cemitério apocalíptico espera-os, onde finalmente repousarão. É como a censura e o racismo… solidarizam-se sempre.
- E nada restará de humanismo, mas a purificação dos eleitos sobreviverá. Eles, os eleitos, serão para sempre os Abençoados, e reinarão para todo o sempre. A vida encurta-se, o amor alonga-se. Não existe, nunca existirá nenhuma espada poderosa que acabe com ele. Os que acreditam conhecerão os segredos do Universo, e neste lugar as moedas de oiro não têm valor. Não é concebível viver num mundo onde o dinheiro prevalece sobre tudo. Para vivermos em felicidade, temos que prescindir, acabar com o dinheiro. As sociedades humanas não podem continuar a existir… trabalhando à espera que uma moeda caia do céu. O mundo é nosso, não é de alguns. A areia está em todo o lado, e nós não. No entanto somos como ela, abundante, é por isso que não temos valor. Contudo ela aparece nos edifícios, fomos nós que a carregámos, e a eles não temos direitos. Somos, vivemos como as areias dos desertos. Somos um imenso mar de areia, soprados pelo vento, vamos para ali, para aqui, e assim permanecemos. Transformaram-nos em pó, com o destino, a missão única de aumentarmos os terrenos dos cemitérios, que já não chegam, pois que a fome, as epidemias e pandemias, são a única liberdade que nos resta. Até os cemitérios dos que nos matam à fome, são sublimes mausoléus, e nós quando a morte nos convida… os nossos familiares regateiam um pouco de terra… porque mesmo depois de mortos a ela não temos direito. Somos párias no além.
O característico perdurar sonoro inconfundível faz aparição. Aparenta motim, humana borrasca de borracho destoado. As chapas do casebre crepitam com a corrente eólica do etanol. Vão saltando dos gonzos ogivais pregados. A voz é rouca, indecisa:
- Este vizinho está sempre a mudar as chapas da porta! Juro-lhe que hei-de encontrá-la!
Mentor apreende-se.
- Nunca mudei a porta, o álcool é que a faz de muda.
O vizinho parece estar no labirinto a fugir do Minotauro. Desequilibra-se e aterra com a massa corporal na porta de entrada. A fragilidade do material obedece-lhe, e como um furacão recebe-se na mesa que tenta fugir-lhe, limitando-se a mudar de posição. Faz tremendo esforço para se levantar, as pernas não obedecem vitimadas pelo vendaval, e os destroços espraiam. Ulisses zomba-lhe:
- Se os pés pensassem, não suportariam a dor do chão.
Entretanto, o vizinho consegue equilibrar-se no chão com a ajuda da parede. Tenta mostrar, ludibriar a sobriedade, parecer que não está bêbado.
- Monitor… Mentor… és o único que visito aos tropeções!
Olha à sua volta, e vê os derrames do madeirame.
- Não venho só, trago-te alguns escombros… ruínas do nosso PIB. Estes lugares, estas ruas esburacadas enterram o trânsito democrático A questão não é o ter, é o cinismo do ser. O navio do dilúvio da escravidão negreira está à deriva.
Mentor sente uma visão profética:
- Só falta acontecer um vulcão, um tremor de terra e um ciclone… bebes, e não cumpres as regras do trânsito. Sinal vermelho é para parar.
- Oiço e vejo tudo vermelho outra vez, já não suporto o cinismo dessa agressividade.
- Cada vez que me visitas deixas a casa em pantanas.
- Pantanas?!... Ah, … o pântano do poder não me deixa respirar. Trago o perfume dos jardins de Babilónia apagados… lembrados, do paganismo alcoólico.
- Embebes-te porquê?
- Os gatunos sem utilidade pública incendiaram-me o casebre. Antes, os esgotos e a água das condutas rebentadas reuniram-se, e foram arrastando os poucos alicerces que o casebre possuía. Fiquei apenas com o habitual, o que resta da minha cabeça. O governo Politburo é conivente, não vale a pena. Isto é para destruir. Não é por acaso que o álcool persegue, prefere a população. Creio que não sobreviveremos muito tempo. É como nos estádios de futebol, entrosados e acutilantes. Fome, doenças, epidemias, alcoolismo, droga, feitiçaria… que extinguem um povo a curto prazo. Na prática já não existem, só restam as suas sombras. Quem os governa, prepara-lhes a solução atípica final. Com palavreado perfumado, um cemitério apocalíptico espera-os, onde finalmente repousarão. É como a censura e o racismo… solidarizam-se sempre.
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